O Son do Camiño 2024: Se os Greenday não vêm cá, nós vamos até eles
Este ano fomos até ao festival vizinho, o Son do Camiño, que se realiza nos dias 30 e 31 de Maio e 1 de Junho de 2024, em Santiago de Compostela.
A 5ª edição do festival O Son do Camiño, um festival que se realiza em Santiago de Compostela no Monte do Gozo, começou no dia 30 de Maio e o nosso colaborador Ricardo Rego foi até lá e conta-nos o que viu e ouviu.
O Son do Camiño realiza-se num grande anfiteatro a céu aberto, diria mesmo uma versão relativamente mais pequena de Milton Keynes, local onde os Greenday gravaram o DVD / CD, “Green Day – Bullet in a Bible”.
O Monte do Gozo é um marco para todos os que fazem o Caminho de Santiago. É reconhecido pelos peregrinos como um lugar de imenso valor emocional e espiritual. É nesta colina que quem faz o Caminho Francês vê as torres da Catedral de Santiago de Compostela pela primeira vez. Simbolicamente, a multidão que se dirige ao recinto do festival cruza-se com os peregrinos que caminham na direção oposta, rumo a Santiago de Compostela. É como um passar de testemunho e a transformação deste lugar também num sítio de referência para a peregrinação pela música ao vivo. Em 2018, o festival ganhou o prémio revelação dos Prémios Fest do país vizinho e, cada vez mais, se afirma como um dos grandes festivais da península ibérica.
É um recinto grande e bem organizado. Tem uma zona de música eletrónica e os dois palcos principais lado a lado: o palco Xacobeo e o palco Estrella Galicia. É o meu tipo de festival, uma vez que esta configuração permite que não seja necessário decidir quais artistas ver, uma vez que nunca há concertos em simultâneo. No limite a única decisão é escolher não ver.
Em termos de infraestrutura, é um festival cashless onde tudo é pago com pulseiras pré-carregadas. Existem inúmeros postos de carregamento e inúmeros balcões de comidas e bebidas (nota: cerveja mais barata do que no centro do Porto). Mesmo no pico da atividade, não há filas intermináveis e tudo se faz com alguma celeridade. O recinto, pela sua dimensão e organização, permite boa circulação e também permite boa visibilidade para os palcos.
Em termos de cartaz, neste primeiro dia quase que se podia dizer que foi uma mistura do Festival do Sudoeste, no palco Xacobeo, com o NOS Alive, no palco Estrella Galicia. O primeiro concerto que vi foi às 17:10 no palco Estrella Galicia: The Interrupters. Provenientes da Califórnia, carregam a bandeira do 3rd wave ska de forma extremamente competente. O baterista Jesse Bivona e o baixista Justin Bivona são irmãos gémeos e o guitarrista Kevin Bivona é o irmão mais velho.
Bastava a vocalista Aimee Interrupter ser prima destes e quase que se podia dizer que eram os Kings of Leon do Ska. Concerto energético do princípio ao fim, com direito a cover de “Bad Guy” da Billie Eilish. Importa referir que vão fazer a festa no LAV – Lisboa ao Vivo, no dia 31 de Maio. Quando em Lisboa começarem com os elogios a Portugal e ao público português, podem acreditar que não vai ser um conjunto de frases feitas. Cada vez que vejo um concerto fora de Portugal apercebo-me que efetivamente somos, por norma, um público muito acima do que se costuma ver por esse mundo fora.
Às 19:20, e de novo no palco Estrella Galicia, foi a vez dos espanhóis Arde Bogotá tocarem para um recinto já muito bem composto rock do bom. Uma banda formada em 2017 na cidade de Cartagena, na região de Múrcia, que desconhecia por completo, mas que surpreendeu muito pela positiva.
Às 20:40 entra J Balvin em cena. Transportou o nosso festival do Sudoeste diretamente para o noroeste da península ibérica. Em palco, sem banda, com o apoio de dois MCs, J Balvin canta aqui e ali, sem acrescentar grande coisa, no meio de um jogo de luzes e imagens. Não sei muito mais que dizer. Não é de todo o meu género, mas não vou julgar. Em vez disso deixo aqui as palavras do meu amigo Nuno Canha: «Há muita gente que gosta e fica feliz com a música dele. E eu? O que é que eu contribuí para a felicidade dos outros em comparação, muito pouco.» J Balvin passa por Portugal no Passeio Marítimo de Algés no dia 1 de Junho.
Para terminar a minha noite, pontualidade britânica com a “Bohemina Rhapsody” dos Queen a soar no PA às 22:23. Esta informação pode não ser correcta, mas diria que desde que no concerto dos Green Day, no Hyde Park, em 2017, o público começou a cantar de forma espontânea esta música em plenos pulmões, que este se tornou o tema de abertura dos concertos de Green Day. A The Saviours Tour, mais do que uma tournée de suporte ao novo álbum da banda, é uma digressão de celebração dos 30 anos do álbum “Dookie” e 20 anos do “American Idiot”. Dois álbuns históricos da banda e do punk rock em si.
Começando pelo “Dookie”, tocado de uma ponta à outra, foi uma autêntica viagem no tempo. Ouvir aquelas músicas e olhar para o palco com o Tré Cool, o Billie Joe Armstrong com a Fernandes Stratocaster azul e o Mike Dirnt com o velhinho Gibson Grabber 3, que usou nas duas primeiras músicas, foi uma autêntica viagem no tempo. Fez-me lembrar quando via vezes sem conta uma cassete VHS que a minha irmã tinha com um concerto de 1994 “Jaded in Chicago: Green Day in Concert”. Fez-me também pensar que tinha 12 anos quando comecei a ouvir Green Day. 12 anos é a idade que a minha filha mais velha tem hoje, sendo que curiosamente Green Day é uma das bandas que ouvimos de manhã a caminho da escola. Nunca imaginei em 1994 que 30 anos passados, ia ouvir este álbum com exatamente o mesmo prazer. Os Green Day ao vivo são uma máquina muito bem oleada. São uma das grandes bandas no ativo ao dia de hoje. O único senão desta primeira parte do concerto foi o som, sem dúvida um dos pontos de melhoria do festival.
Terminado o “Dookie”, seguiram-se “Know Your Enemy”, “Dilemma” e “Brain Stew”, em modo intervalo até os Green Day começarem a tocar outro clássico: “American Idiot”. Este álbum surgiu numa altura em que a banda tinha perdido algum fulgor e alguma relevância. Quando foi lançado, relançou a carreira dos Green Day e afirmou do Billie Joe Armstrong como um dos grandes compositores do rock alternativo. O ponto alto do concerto coincidiu precisamente com as quatro primeiras músicas deste disco: “American Idiot”, “Jesus of Suburbia”, “Holiday” e “Boulevard of Broken Dreams”. Estas músicas fariam carreiras de muitas bandas, sendo que no caso dos Green Day, são apenas mais quatro singles. O que atesta bem a qualidade do legado da banda. Para terminar o concerto “Minority” em tom de festa e “Good Ridance (Time of your life)” em tom de despedida.
Nos dias seguintes a festa continua com Thirty Seconds to Mars e Pet Shop Boys, entre muitos outros. Cá estaremos para ver o que é que o cartaz de 2025 nos vai trazer esperamos que haja melhorias ao nível do som e de estruturas.