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Ricardo Amorim, Guitarristas Preferidos & Influências

Ricardo Amorim, Guitarristas Preferidos & Influências

Nero

Ricardo Amorim, dos Moonspell, revela como começou a tocar guitarra e quais os guitarristas que tiveram um papel determinante na sua paixão pelo instrumento e no desenvolvimento da sua linguagem musical.

Para criar algo especial para uma edição que, em 2018, celebrou 10 anos de publicações queríamos algo que fosse inédito ou, no mínimo, incomum, na nossa imprensa musical. Isto, claro, além dos artigos sobre instrumentos e equipamento musical de sempre. Então surgiu a ideia de reunir numa edição histórica dez grandes guitarristas portugueses.

Um dos escolhidos foi Ricardo Amorim. O guitarrista herdou o gosto pela música da sua avó, uma ávida cantora durante os dias em que tomava conta do músico, na sua infância. Muito antes dos Moonspell, ia com os pais aos bailes das associações recreativas e culturais e ficava fascinado com a bateria. Mas começou a perceber que a guitarra era o instrumento que lhe falava mais directamente através do seu dia-a-dia: «Vivia num bairro a 200 metros de um prédio completamente habitado por ciganos, portanto via-os a tocar bastante flamenco na rua e ficava impressionado com a técnica. Na altura, sabia lá eu o que era técnica, mas aquilo puxava por mim». Da magia virtuosa da guitarra hispânica, começou a ser cativado pela ferocidade eléctrica do rock, «aquelas notas agudas e os riffs». Um caminho que o levou até um determinado álbum, “algures no tempo”…

Para a entrevista completa, podem adquirir um exemplar da revista na nossa loja, para descobrir mais sobre os heróis do Ricardo, basta fazer scroll.

Quando decidiste pegar numa guitarra?
Em 1986, os Iron Maiden lançaram um álbum chamado “Somewhere In Time” e na altura havia a TV Europa, que estava em emissão experimental e que transmitia a partir das seis da tarde. Vi um programa que se chamava “Countdown”, ao qual os Iron Maiden foram tocar, em playback obviamente, em promoção do álbum. Tocaram o “Wasted Years” e aquele momento de abertura foi aquele ponto que disse: «Isto é a cena mais fixe que já ouvi. Quero fazer cenas destas!» Os Iron Maiden tornaram-se a minha banda favorita durante muitos anos.

Ficaste muito desiludido quando o Adrian Smith saiu, logo a seguir a esse álbum?
Fiquei triste, porque o Adrian, para mim, é um bocado agente da coisa… Mas quando ouvi o “No Prayer For The Dying” com o Janick Gers, não tinha propriamente aquele charme dos Maiden a que estava habituado, mas não deixava de ser um bom disco. Também consigo sair um bocado daquela bolha do fã die hard que não tolera nada e tentar perceber o que é que se passa ali. Sou dos poucos que gosta bastante do “Load” dos Metallica (acho bem melhor que o ” St. Anger”) e o “Reload” tenho pena que soe um bocadinho aos restos do “Load”, mas tem lá momentos também bastante bons. Agora, lá está, para quem ouve o “Ride The Lightning” ou o “Master of Puppets” aquilo é… Pura heresia! Para mim não, aquilo soa-me a Metallica e isso é o mais importante. Mas, como estava a dizer, mostrei mesmo vontade de aprender a tocar viola e os meus pais ofereceram-me uma acústica quando tinha 14 anos. Tive duas prendas de natal, nesse ano de ‘87, que marcaram-me um bocado. Ofereceram-me o homónimo de 1987 dos Whitesnake em vinil. Quem gravou aquilo foi o John Sykes (depois veio o Adrian Vandenberg juntar-se à banda) e tem ali um trabalho que é fabuloso. É dos tipos que mais gosto de ouvir. Tem alma. Foi um excelente trabalho. O “Still Of The Night” é um dos melhores riffs do heavy-blues que já ouvi; o “Crying In The Rain”, dos poucos shred solos que oiço que tem alma e que realmente arrepia e mexe com a pessoa. O tipo tinha um dom! Mais tarde, por volta dos meus 19 anos, fui juntar-me a uma banda que eram os Paranormal Waltz. Tive que poupar dinheiro do trabalho part-time que fazia e comprei uma guitarra eléctrica, uma Aria Pro II que me custou 57 contos.

Essa guitarra era um clássico dessa altura. Muita malta tinha.
O pessoal tinha a sensação que era aquele nível intermédio [risos]. Havia a Mason, depois já tinhas um upgradezito para a Vester, e depois já havia qualquer coisa na Aria Pro II. Acima dela já era a Ibanez, com uma já eras pro. Gibson e Fender esquece, isso é outro patamar. Tive a sorte de ter tido sempre muito apoio dos meus pais, portanto, quando me juntei aos Moonspell e expliquei do que se tratava, eles tiveram a gentileza e a amabilidade de, num gesto fabuloso, me oferecerem uma Les Paul Studio, dizendo: «Se vais tocar a sério, deves ter uma guitarra mais a sério». Tenho-a em casa, guardada com muito carinho. O meu pai faleceu [em 2015] e essas coisas começam a ter ainda mais valor para mim. Foi o gesto, está ali… Não sei o que te diga.

Voltando um pouco para trás. O teu percurso foi todo autodidacta ou tiveste aulas?
Tive aulas de guitarra clássica, na Escola de Guitarra Duarte Costa. Só que o professor era tão conservador que se ouvisse um bend na guitarra clássica, por mínimo que fosse, aquilo era um escândalo. «Isto, na guitarra clássica, é inadmissível». Senti-me um bocado limitado, estava ali a tocar aquelas coisas, études e tal, mas chegava a casa e queria tocar o “Battery”! Então muito do metal que aprendi foi por ouvido. Apercebi-me que quanto mais curta a corda fica mais aguda é a nota e quanto mais comprida fica mais grave é a nota; apercebi-me que temos que meter os dedos entre os trastes e não em cima dos trastes, aquelas coisas que ia descobrindo. E depois foi uma questão de aprender os acordes básicos. Havia coisas que percebia instintivamente, se tivesses um Open A, tens aquele acorde com formato Lá, se meteres o B e subires dois trastes obténs um Si. Ninguém me disse isso, conclui. Estudei matemática, anda para a frente, anda para trás… Apanhei bastantes músicas assim. Obviamente, mais tarde, quando começo a perceber como é que são realmente tocadas é que reparei que andava lá perto, mas era completamente diferente. É como, hoje em dia, ver pessoas a tentarem tocar a “Alma Mater” ou a tocarem uma interpretação e pergunto-me: «Será que estamos a ouvir a mesma música?». Mas assim também se treina o ouvido, também erras e começas a perceber que determinada nota, normalmente, está sempre dentro de tal acorde, começas a fazer os voicings todos na tua cabeça. E tenho alguma facilidade em apanhar música, não te consigo explicar academicamente, entendo algumas coisas e tenho conhecimentos de música, melodias e algum ritmo, mas tenho facilidade e foi assim que aprendi. A apanhar as músicas que ouvia e que gostava. Mas quando entrei para os Moonspell e fiz a tour do “Irreligious”, achei que devia de aprender mais. Então fui meter-me numa escola que havia em Sete Rios. O meu professor foi o Luís Fernando.