Rob Turner, o criador dos EMG
Aquando da apresentação da X Series, uma das maiores renovações no mundo EMG, a Arte Sonora sentou-se à conversa com Rob Turner.
O norte-americano Rob Turner é um daqueles tipos importantes na história da guitarra. É dele a mente que criou uma das mais significativas ferramentas no mundo da guitarra eléctrica, os pickups EMG. Para os guitarristas de heavy metal, Turner deve ser adorado como uma divindade! Não são apenas nomes grandes como Zakk Wylde ou os Metallica que usam os poderosos pickups, qualquer metalhead que se preze tem, pelo menos, uma guitarra com EMGs. Quando os modelos X foram apresentados, a Arte Sonora sentou-se à conversa com o guru que começou por falar-nos dessa gama e terminou com uma incursão ao início da sua carreira e ao que deseja mais no som de uma guitarra.
É incrível como uma guitarra pode soar de forma tão diferente de outra. Podes colocar três Stras ao lado umas das outras e soarão totalmente diferentes, ainda que sejam essencialmente a mesma guitarra.
Quais as características da X Series?
Usam um novo estilo de pré-amp e incluem um controlo de tonalidade activo, em oposição aos controlos de tonalidade passivos. Puxam pelo amplificador de modo completamente diferente. Praticamente todos os pickups EMG estão disponíveis na série X. É interessante, quem toca através de amplificadores a válvulas está a adorar os novos X, quem toca através dos amplificadores solid state tende a gostar dos originais; nunca pensei que houvesse essa reacção ao resultado final.
Como é planeada a construção, tendo em conta o tipo de amplificador, de guitarras?
A tonalidade da guitarra, especialmente uma de corpo sólido, está nas cordas! Toda a guitarra… Sei que é uma explicação estranha, mas toda a informação da ponte, do braço, do corpo, mesmo da guitarra encostada ao teu próprio corpo, está tudo na corda! Se o pickup consegue transmitir ou traduzir essa informação, então a tua guitarra soa como a tua guitarra. É incrível como uma guitarra pode soar de forma tão diferente de outra, podes colocar três Stratocasters ao lado umas das outras e soarão totalmente diferentes, ainda que sejam essencialmente a mesma guitarra.
Isso dificulta a investigação…
Para investigação e desenvolvimento, temos duas guitarras feitas como as mesmas madeiras no corpo, braço e escala, e as guitarras são totalmente diferentes. Portanto, é praticamente impossível estandardizar, nunca se sabe… Especialmente a ponte é de extrema importância. Depois se é uma guitarra em mahogany, maple… Todas as madeiras têm características diferentes. Se alguém se dirige a mim, o que costumo fazer é pegar numa guitarra e não a ligar, mas encostá-la ao meu ouvido e ouvi-la. Se tu falares ouves a tua ressonância, certo? Então oiço a voz da guitarra e pergunto: «O que queres desta guitarra? Como queres que soe»? Irão dizer-me que precisa duma tonalidade mais cheia ou mais isto ou aquilo. E se essa pessoa me está a mostrar uma guitarra quem tem um topo de maple espesso, tem um tune-o-matic numa ponte fixa, ao colocá-la junto ao ouvido é uma guitarra com o som muito brilhante, não admira que precise de mais enchimento, não tem nenhum. Ou quando me mostram uma guitarra baça, em que as cordas não vibram, parecem mortas e sem brilho ainda que sejam novas, coloco-lhes uns EMG 60. Algo com uma abertura estreita, uma grande ressonância que poderá ajudar a limpar um pouco o som. Não tornará a guitarra melhor… Bom, poderá fazê-lo e espera-se que sim, mas não mudará a guitarra.
A série x possui uma abordagem completamente nova no ataque, não tão agressiva, ainda que mantenha muita da força e clareza da tonalidade.
Normalmente os EMG são referidos como muito focados no ataque. Concordas?
Nós fazemos modelos diferentes, contudo os modelos que são escolhidos, os nossos campeões de vendas – o 81 e o 85 – são muito orientados nesse sentido, mas temos mais soluções. De facto, a série X possui uma abordagem completamente nova no ataque, não tão agressiva, ainda que mantenha muita da força e clareza da tonalidade. Mas estarás correcto, têm um ataque forte ou, talvez, uma captação mais rápida. A razão para isso é porque não há tanta resposta em mid-range a nublar o pickup, então os teus ouvidos não são entupidos com muitas frequências médias, ali entre 240Hz a 600Hz. O espectro da guitarra é realmente curto, a corda mais grave está nos 80Hz e a nota mais aguda que podes atingir na guitarra, digamos num braço de dupla oitava, anda pelos 650Hz. Então, o mais importante é dar mais atenção à qualidade de resposta às frequências nessa zona para que, quando surgem, todos os harmónicos inerentes sejam distintos, pois se forem criados muitos harmónicos de baixas ou, principalmente, médias frequências, irão entupir o som. É por isso que os EMG soam mais directos, não estão no meio do nevoeiro. Para dizer a verdade, o 81 nem é tão forte como um humbucker normal. Os pólos são barras, não são pólos individuais e, portanto, não há tanto magnetismo directo por baixo da corda. A busca por maior output é uma espécie de Santo Graal, mas consegues uma melhor resposta nos pickups clássicos, de facto, pois usam magnetismo de alnico – alnico e aço. A indutância é muito mais vasta, soam realmente bem na posição da ponte, aí o low-end não é tanto e é por isso que toda a gente os usa na posição da ponte [risos], porque o pickup do braço é tão carregado e cheio…
É a posição para o David Gilmour…
Exacto! Então o que fazemos é o seguinte: para a posição do braço recomendo um pickup de abertura estreita, com os coils mais próximos e não é usada tanta força, ainda que se use um íman de alnico. O James Hetfield é o exemplo perfeito, ele usa um 60 na posição do braço, que lhe dá clareza. Tem uma abertura estreita, magnetismo cerâmico apenas, não há qualquer tipo de aço, e isso dá-lhe um som rápido e preciso. É óptimo!
E o 81 na ponte. O 81 é, basicamente, um humbucker de profundidade limpa. Depois também depende dos matérias que se usa e do tipo de coil. Tendemos a usar, em vez dum coil mais achatado e largo, um mais estreito e alto que baixa a indutância, sobe a ressonância de frequências e dá ao pickup uma tonalidade ligeiramente mais limpa. É um estilo diferente de desenhar e o resultado é ouvires o ataque, e não é que o pickup seja radicalmente diferente, apenas o suficiente para esse detalhe.
Em última análise, a força da guitarra está na corda, é a tua guitarra e se não soa bem deves vendê-la.
Quando começaste não havia toda esta tecnologia. Era mais experimentação que cálculo?
Comecei no final dos anos 60, mas só entrei no mercado em 74 ou 75. Era mais experimentação que cálculo; com os cálculos encontras algo bom e, basicamente, documenta-lo. A ti não te podes documentar com sucesso, não funciona assim, tens que tentar enquanto não gostas. De facto, hoje, ao fazer-se design electrónico, pode fazer-se isso no computador sem realmente construir o produto real, mas preciso de o fazer, porque tenho que ouvi-lo e através dum desenho num computador não consigo ouvir o que preciso de saber. Ainda hoje mantenho a bancada onde trabalho, onde troco elementos, tento coils diferentes. Continuo a experimentar o tempo todo. É como pintar, não se pode pintar um quadro inteiro com o mesmo pincel, para o background é preciso um pincel grande, para os detalhes é preciso um mais fino. Mas como disse, em última análise, a força da guitarra está na corda, é a tua guitarra e se não soa bem deves vendê-la [risos].
Estamos também numa era de emulação, muito usada em casa, nos homestudios…
Sou músico e, para mim, a música não é algo que se faça em casa, sozinho. Gosto de tocar com outras pessoas e partilhar a experiência, isso é música! De qualquer forma, não tenho qualquer problema com a digitalização, aliás, eu próprio a utilizo para meu benefício. E depois, mesmo que a informação seja digitalizada para usar no computador… 99,9% da música que ouves é gravada de qualquer forma, nunca é exactamente o som original – então porquê querer fazer música “gravada”? Quero é tocar ao vivo, fazer música com os amigos. Essa é a diversão da música.