Roteiro AS: NOS Primavera Sound 2018
Apresentamos-te o circuito musical da Arte Sonora para a edição de 2018 do NOS Primavera Sound.
Aproxima-se a edição 2018 do NOS Primavera Sound. Nos dias 7, 8 e 9 de Junho, o Parque da Cidade, no Porto, recebe um cartaz ecléctico que agrupa diversos géneros musicais. Porém, existe um enorme ponto negativo: não podemos ver tudo. Para dar a volta à inevitável realidade apresentamos o Roteiro AS, um circuito dentro do festival composto por concertos que não se atropelam. Se não dá para ver tudo, vemos o máximo possível.
DIA 7 JUNHO
FOGO FOGO (17:30) / The Twilight Sad (19:15) / Father John Misty (20:25)
No primeiro dia do festival começamos de forma quente e descontraída com o quinteto português FOGO FOGO no palco Seat. Uma introdução para aliviar o espírito e entrar em ambiente de festival. Depois deste ritmo festivaleiro, temos algum tempo livre para passar pelo palco NOS e ver a performance de Waxahatchee, mas vamos voltar ao palco Seat para sossegar com The Twilight Sad. Um estilo post-rock com tendências shoegaze e uma melancolia que já garantiu o suporte para concertos dos The Cure. Com a cabeça mais serena, permanecemos no mesmo sítio para as “declamações” cínicas de Father John Misty em dose indie folk (relembramos o excelente concerto no Coliseu dos Recreios).
Lorde (22:00)
Depois de um (curto) descanso para jantar, encontramos-nos com a cabeça de cartaz do primeiro dia, Lorde, que entrega “Melodrama” ao palco NOS. O mais recente álbum explora composições mais dançantes e pujantes, esperando-se uma actuação ágil com foco principal nas habilidades vocais da jovem de 21 anos. Antecipamos os movimentos de dança característicos e “Royals”, a música que ascendeu de forma vertiginosa carreia musical da cantora. “Melodrama” foi uns dos álbuns mais fixes que ouvimos em 2017.
Tyler, The Creator (23:20) / Jamie XX (00:25)
A primeira oportunidade para assistirmos a um concerto de hip-hop no festival fica entregue a Tyler, The Creator, mais uma vez, no Palco Seat. As produções “agressivas” com letras polémicas que marcaram o início do seu sucesso na internet foram abandonadas no passado, e abriram caminho a uma sonoridade que pinta ambientes com tinta soul, funk e até R&B em “Flower Boy”. Já em horas tardias, fechamos o primeiro dia com Jamie Smith no palco principal. O seu reconhecimento musical iniciou-se como membro dos The XX, onde acrescentava (e acrescenta) o seu toque de MPC ao indie pop britânico. Editou “In Colour” a solo em 2015, um projeto electrónico que inclui uma grande afluência de garage do reino unido. A procura foi maior do que a oferta, e Jamie começou a dar concertos a solo neste formato de produtor/DJ. Música disco para dançares mais um bocadinho, ou então adormeceres na relva com o cansaço.
DIA 8 JUNHO
IDLES (17:45) / Zeal & Ardor (18:50)
O segundo dia do festival apresenta uma novidade em relação ao primeiro: concertos no palco Pitchfork. A noite também se estende até mais tarde, com a última performance (no palco bits) a começar às 4h30, honra de Marcel Dettmann. Mas vamos iniciar o roteiro no palco NOS com IDLES. O grupo de post-punk é condecorado por performances electrizantes que se alimentam de letras irónicas, mas acima disso, honestas que criticam e examinam a realidade actual. Depois do aquecimento punk, só podemos caminhar até ao Palco Super Bock para Zeal & Ardor. A nobre combinação experimental entre blues e black metal resulta num som que se desenvolve gradualmente entre os dois géneros, mas cria uma experiência sonora que representa algo como metal avant-garde.
The Breeders (19:50) / Grizzly Bear (20:50)
Vamos abrandar um pouco a intensidade com sonoridades indie. The Breeders sugiram em 1989 com um som tão fresco como marcante e deixaram pegadas no panorama do rock alternativo. Desloca-te até ao palco principal para ouvires a melhor música dos anos 90 produzida em 2018. Exactamente uma hora depois recebemos os Grizzly Bear no palco Seat, com uma abordagem mais contemporânea ao género. Aqui já existem pianos, banjos e vários instrumentos de sopros espalhados entre as faixas. Espalhados mas não desarrumados, está tudo pensado e cronometrado ao milímetro.
Vince Staples (22:15) / Fever Ray (00:00)
A entrada do cenário nocturno no festival abre caminho às histórias e ambientes de Vince Staples no palco NOS. O californiano enfrenta os problemas da sua adolescência e conta-nos como foi crescer em Long Beach. No mais recente “Big Fish Theory” remata uma produção hip-hop fortemente delimitada por techno e house. Mais tarde, no palco Seat, Fever Ray vai agarrar na electrónica e esticar o limite do género. A sua voz é a arma principal, altamente reconhecida e incisiva, corta entre as produções experimentais com um enorme poder. “Plunge” é um discaço que vamos poder ouvir ao vivo no Primavera.
Unknown Mortal Orchestra (01:00)
Terminamos o dia no palco Pitchfork. Os Unknown Mortal Orchestra fecham a primeira dose de concertos neste local com rock psicadélico em formato lo-fi. Na verdade, patinam entre vários géneros, mas encontram senso comum na criação de temas cintilantes que tornam a indiferença impossível.
DIA 9 DE JUNHO
Luís Severo (17:00) / Kelela (18:50)
No terceiro e último dia de festival, o corpo certamente já pede descanso. Vamos iniciar o circuito final com calma no Palco Seat, na presença de Luís Severo, o cantor e compositor português que se especializa em baladas melódicas, com instrumentais viciantes e uma voz delicada. Em subida gradual, agarramos uma dose de R&B experimental com Kelela no Palco Super Bock. As faixas que priorizam a voz destacam-se por uma eletrónica aparentemente simples, mas escondem detalhes minuciosos aos mais vigilantes. Para o editor da AS, “Take Me Apart” é também um dos álbuns #musthave de 2017.
Metá Metá (19:50) / Joe Goddard (21:00)
Caminhamos até ao Palco NOS, onde vamos concentrar a maior parte da nossa atenção por hoje. Os brasileiros Metá Metá abrem o palco com a sua eclética coleção de sons, que inclui (mas não se limita) a jazz, samba, bossa e até punk rock. Podemos ver os Metá Metá deitados na relva, mas vamos ser obrigados a dançar ao som de Joe Goddard no Palco Super Bock. O protagonista dos Hot Chip consegue seduzir o pessoal do rock e o pessoal da eletrónica, com uma discografia a solo que explora um sentido mais desenvolvido do sub-género house/deep house.
Nick Cave And The Bad Seeds (22:05) / War on Drugs (23:40) / Mogwai (00:45) / ARCA (2:30)
Percorremos a reta final do festival com três concertos onde a qualidade instrumental luta mano a mano com a qualidade lírica. O vencedor? Somos nós. Nick Cave sobe ao Palco NOS, com letras escritas a tinta de ouro sobre religião, amor ou morte. Os War on Drugs correm no Palco Seat sobre instrumentais de indie/folk onde as notas criam um sentimento de outro mundo (se fecharmos os olhos somos automaticamente transportados para um pôr-do-sol infinito onde tudo está calmo e confortável). E por fim, os Mogwai, veteranos na produção de bandas sonoras, carregam melodias complexas e prolongadas que balançam entre a tranquilidade e o grandioso. Um ataque triplo final que vai criar recordações permanentes. Para os mais resistentes, ARCA a terminar o festival em beleza.