Um Lugar Sinistro
Patrícia Andrade, Rick Chain (guitarra) e Paulo Lafaia (bateria) passaram na redacção da AS para fazer uma retrospectiva de três anos passados num ritmo avassalador, do crescimento e projecção da banda, das suas sinergias e métodos de composição.
Depois do primeiro álbum instrumental o EP “Cidade” foi axiomático nos Sinistro, tendo surgido a voz de Patrícia Andrade. Na altura, a cantora integrava Pedro e Os Lobos: «Fomos tocar a Almada e o Ricky foi ver. Umas semanas mais tarde o Ricky e o Fernando contactaram-me. O EP estava na fase final de composição e convidaram-me a participar, dando-me total liberdade artística. Foi um encontro espontâneo». A força homogénea dos Sinistro, derivada do equilíbrio entre voz e instrumental, poderia pressupor um elevado trabalho de estudo mútuo, mas a naturalidade dos processos, a forma espontânea como banda e voz se uniram, é uma ideia bastante repetida pelos músicos. “Semente”, o segundo álbum da banda lisboeta, foi o resultado desse equilíbrio natural.
A experiência dos músicos tem um papel fundamental na solidez da banda. Além de um guru de produção no underground, como Fernando Matias, e do quanto a banda assume o estúdio como um instrumento na composição, experimentando aí o desenvolvimento de camadas às ideias, o percurso de Rick Chain e Paulo Lafaia deu uma dimensão prática ao projecto. Afinal, depois do guitarrista ter saído de TwentyInchBurial, os músicos trabalharam conjuntamente em vários nomes do submundo do peso nacional, como Painstruck, We Are The Damned, Atentado ou Besta. «No nosso país, poucos músicos lançaram discos de forma contínua comos nós dois. Desde que editámos com Painstruck, em 1999, temos uma média de um disco por ano», afirma Rick. Uma experiência de exigência que se revelou no álbum e na metodologia de trabalho incessante da banda.
Em Sinistro, encontrei o meu lugar. Não sei se surpreendi os outros, surpreendi-me a mim própria – Patrícia Andrade
A coesão das composições, o charme negro que está presente no som dos Sinistro e um gosto depurado dos músicos, são factores que ajudam a que o recurso à voz feminina não adquira um carácter genérico, de gosto duvidoso e de excesso dramático, tão presente em tantas bandas que asociam as suas origens ao doom metal e usam a voz feminina como protagonista. Pelo contrário, “Semente” revela uma identidade forte, sentimentos pungentes e ambientes elegantes. O álbum, editado pela Season Of Mist (Abril de 2016), foi alvo de altos louvores na crítica nacional e internacional e acabou mesmo por levar a banda em digressão eurpeia, que arrancou em Londres, no Doom Over London, e passou no festival de culto Roadburn, em Tilburg, por exemplo. Nick Holmes, frontman dos Paradise Lost, um dos velhos poderes do doom europeu, revelou publicamente o quanto a banda o impressionou, o que está agora evidente na digressão que a banda se prepara para fazer com os britânicos.
Antes dessa digressão, a banda é um dos nomes que passa na próxima edição do Reverence Portugal. Sem tempo a perder na sua evolução sonora, lutando para se estabelecer como um nome sólido até para a própria editora, os Sinistro já têm um novo álbum preparado para ser editado em Janeiro de 2018, uma das surpresas que nos revelaram em entrevista (dispara o player).
Passam ainda pelo Sabotage Club no dia 23 de Setembro pelas 22h30.