AS10 @ SWR
A aproximarmo-nos da 17ª edição do SWR, elegemos os 10 melhores concertos dos últimos três anos do festival de Barroselas. 10 e mais um. Agressividade, rock n’ roll, guitarras e amplificadores no prego.
Cough [2011] // A banda americana teve, provavelmente, o melhor som do festival nesse ano. Esteticamente conduziu-nos a um universo “Sabbathiano”, com uma vertente mais americana, mais sludge. Temas densos e lentos, com cada riff a soar como uma pedrada nos ouvidos. Uma parede impenetrável de groove e peso. Contudo, mostraram muita influência do psicadelismo dos anos 70, com solos de guitarra cheios de estilo e pertinentes, criando dinâmica e desentorpecendo a assistência.
Voivod [2011] // Os Voivod não deixaram margem para qualquer desapontamento. Um óptimo som excelente, carregado de densidade e peso, mas sem colocar em causa a percepção de cada um dos elementos da banda – e principalmente do excelente guitarrista que é Daniel Mongrain, que mantém viva a tradição da banda nesta vertente – uma reputação que o falecido Denis D’Amour “Piggy” construiu até falecer, em 2005. Piggy teve direito a homenagem através duma brilhante cover de “Astronomy Domine”, dos Pink Floyd, que a banda gravou no seu 5º álbum, “Nothingface”, em 1989. Foi épico, tal como o concerto.
Venom [2011] // Estava-se, no nosso país, pela primeira vez perante uma das bandas mais influentes dentro do metal: vindos da NWOBHM, o seu segundo álbum “Black Metal” tornou-se mesmo título genérico para esse sub-género da música extrema. Um concerto fenomenal, afectado apenas por um som deficiente: excessivamente alto e arruinado por um péssimo som de guitarra, com demasiado ataque e frequências médias/altas que fizeram sofrer a audição. Uma prestação em power trio que em estúdio sempre evocou algo de Motörhead e que ao vivo consegue a mesma solidez sonora. Cronos elogiava este como o melhor line-up da história da banda, com La Rage na guitarra e Dante Needham na bateria, e a verdade é que se esse não é um dado absoluto, uma actuação como a que os britânicos tiveram no SWR permite, pelo menos, abrir essa discussão. Em especial devido ao grande trabalho de Danny “Dante” Needham. Contra a má qualidade do som, a banda conseguiu criar dinâmica nos temas, que viajaram entre clássicos, obviamente, até dois temas a serem editados em novo álbum. Um concerto memorável.
Coffins [2012] // Nunca se percebeu bem se os japoneses tocam death metal, como proclamam, ou sludge – tal a parede de peso que conseguem erigir ao vivo. Ainda que o guitarrista Uchino seja muito mais competente nos riffs do que quando avança para os solos (onde soa um pouco atabalhoado), a banda soube sempre manter uma postura bem rock n’ roll através da solidez e agressividade da secção rítmica. Depois, a entrega da banda foi sempre total e isso permitiu eliminar qualquer eventual barreira criada pelo parco inglês do vocalista.
Dying For Some Action [2012] // Som sujo, a dividir-se entre o punk e o garage rock. Grande presença em palco e, possivelmente, a primeira banda a usar uma Telecaster nos 17 anos de SWR. Pelo menos, não é comum ver tal modelo de guitarra em backlines dominados por Jackson, BC Rich, Ibanez ou ESP. Não deixa de ser curioso constatar como, efectivamente, os instrumentos diferenciam o som de uma banda e lhe dão carácter ou não. Além da Telecaster, uma Les Paul e um Rickenbacker elevaram-se acima das dificuldades recorrentes de som do SWR Arena e mostraram o seu álbum, “Die Harder”, com uma fúria sleazy que fez querer descobrir mais sobre a banda.
Agressividade, rock n’ roll, guitarras e amplificadores no prego.
The Firstborn [2012] // Com o, na altura, novíssimo álbum na bagagem, explodiram sonoramente e artisticamente o mainstage através de uma secção rítmica colossal, dois guitarristas competentes na estruturação dos temas e Bruno Fernandes na voz e com mais uma guitarra a reforçar harmonicamente a sonoridade da banda, tal como Simões [Blasted Mechanism, Saturnia] o faz com a cítara. O único pecado no som terá sido alguma falta de definição entre o som das 3 guitarras. Um grande concerto de músicos com maturidade e solidez que, infelizmente, não são assim tão comuns no nosso underground.
Process Of Guilt [2012] // Se “FÆMIN” é um colosso em estúdio, a sua demonstração ao vivo não deslustrou em solidez e consistência. Ainda que, neste concerto, os temas não tenham surgido como aquela parede megalítica, mas com um acréscimo de sentido live, com maior liberdade individual entre os músicos, isso permitiu mesmo alguma exuberância que acabou por manifestar-se da pior maneira na SG de Nuno David, que no último tema ficou sem a 5ta corda. Oportunidade para outra demonstração de coesão da banda – mal se notou esse acidente na generalidade do som.
Alto! [2012] // Apesar dos elogios a Cerebral Bore, nesse ano, a atracção pelo rock n’ roll que os Alto! estavam a mostrar no SWR Arena fixou aí a Arte Sonora. Os barcelenses deram um concerto tão inesperado como memorável, com swing, sentido garage e beach rock, muita presença em palco e som característico através duma parelha Fender Jaguar e Danelectro nas guitarras. Foi pena estar pouca gente a assistir, mas isso não esmoreceu minimamente a banda.
Jucifer [2012] // O groove couple – Gazelle Amber Valentine e Edgar Livengood – demoliram tudo, uma vez mais, no seu regresso ao SWR. Uma parede de som colossal (Amber recorreu e 6 amplificadores – Orange, Sunn, Mesa…) movida pela exuberância de Livengood na bateria, o músico “escavacou” mesmo um crash Sabian que estava a usar. A cumplicidade musical entre ambos torna difícil distinguir entre os momentos estruturados dos temas e os inúmeros momentos de jam. Aliás é muito maior o sentido jam do que a recorrência a temas gravados em álbum, e ao vivo a banda é muito menos experimental na fusão musical que faz, mantendo-se muito mais no campo do sludge. Depois, e perdoem a “frescura”, a senhora Amber, em palco, com a guitarra nas mãos, torna-se numa das mulheres mais sexy do mundo. Resumindo, mais uma vez no SWR, mais uma vez inesquecível!
Goldsborough foi um dos melhores guitarristas que já esteve presente em 16 edições de SWR.
Pentagram [2013] // Um dos maiores momentos na história do festival. Bobby Liebling entra de casaco e camisa à anos 70, quase com 60 anos de idade e parecendo ter muitos mais, devido à sua história cinzenta de consumos ilícitos. Iniciaram com “Day of Reckoning”, para de seguida recuar ainda mais na sua história com “Forever My Queen”, um dos primeiros temas criados pela banda. Apresentaram um novo elemento na guitarra Matt Goldsborough, que conseguiu corresponder na perfeição à expectativa dos fãs e na execução das músicas da banda. Se havia alguma apreensão a este respeito – uma vez que o novo guitarrista foi anunciado pela banda apenas alguns dias antes da tour – a sensação, no final do concerto, é de que Goldsborough foi um dos melhores guitarristas que já esteve presente em 16 edições de SWR. Seguro, com feeling, groove, técnica e uma mão muito sólida a segurar alguns riffs que fazem parte da história do proto-doom.
Aggrenation [2013] // No palco Milhões assistiu-se a uma actuação tão carregada de brutalidade quanto de atitude punk e rock n’ roll. Os Aggrenation não deixaram nada de pé na sua prestação. É verdade que houve alguma “rebaldaria” na execução de tempos e vários pregos a soarem, mas a banda esteve sempre no limite. Som de guitarra bastante curioso, com o cruzamento de uma Peavey EVH II e uma Telecaster, naquele que terá sido o concerto em que, sonoramente, o palco “gratuito” mais perto esteve dos dois palcos principais. A banda conta apenas com 2 splits na sua discografia [com os Nulla Osta e com os Homo Homini Lupus] que tocou na íntegra. O disco que a banda tinha à venda encontrou logo casa, na redacção da Arte Sonora. “Porrada” a sério!