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Tratamento de espaços acústicos para produção áudio

Tânia Ferreira

Monitor de áudio vs coluna de alta fidelidade

O monitor de áudio tem de ser o mais preciso possível. Por sua vez, a coluna de alta fidelidade poderá ser desenhada para enaltecer determinadas características do sinal, como por exemplo, ter mais "punch", ou bass boost - terá ainda de estar concebida para suportar níveis acústicos elevados para ouvintes que assim o desejem, em prejuízo da definição e clareza do som.

Um monitor de áudio deve ser capaz de reproduzir todo o espectro sonoro sem introduzir o mínimo de distorção ou coloração sonora (embora seja impossível para um sistema de dimensões reduzidas a reprodução das frequências mais graves com a mesma definição de um sistema "full range" de maior dimensão).

 

Performance "Off-Axis"

É importante saber como é o comportamento dos monitores na sua zona off-axis, uma vez que estes sinais são normalmente dirigidos a paredes e outro tipo de superfícies que os refletem e que acabam por ser misturados com os sinais directos dos monitores. A conjugação do sinal directo e do reflectido resulta naquilo que o engenheiro de som ouve enquanto trabalha.

Se houver adulteração sonora nos sinais em off-axis, estes misturar-se-ão com os sinais directos dos monitores, adulterando assim a escuta. Com uma boa colocação e correcção das escutas, deveremos obter um equilíbrio bastante constante mesmo que nos desloquemos para fora da zona de incidência directa dos monitores. 

 

A influência do Espaço Acústico

Os monitores são construídos para poderem funcionar nos mais variados espaços acústicos. Se o estúdio estiver a ser construído de raiz, então nesse caso a construção será de acordo com as normas ideais para os monitores escolhidos. Os sistemas "full range" de maior dimensão são normalmente acopulados nas paredes do estúdio, ao passo que os restantes são normalmente colocados em suportes específicos.

Um arquitecto desenhará um estúdio profissional para ter um tempo de reverberação relativamente curto, e equivalente em todas as frequências audíveis.

Os espaços domésticos variam muito, mas para um espaço com carpetes, cortinados e alguma mobília, um par de monitores relativamente pequenos é o suficiente para se fazerem misturas bastante equilibradas.

Não se deve esperar uma resposta razoável das frequências mais graves num espaço pequeno, pois estas possuem comprimentos de onda muito longos que precisam de espaço para se formar. Para estes casos devem usar-se monitores lineares até aos 50 ou 60 Hz, e reduzir gradualmente as frequências abaixo deste ponto.

Com os preços a baixar em praticamente todos os monitores, e quando o espaço é reduzido, devem considerar-se monitores activos de modo a evitar ter de se colocar um amplificador para os monitores passivos.

 

Posicionamento dos monitores

O posicionamento dos monitores pode influenciar imenso a sua performance, especialmente devido ao comportamento das frequências mais graves. As frequências médias e agudas irradiam dos monitores em forma de cone, mas à medida que a frequência vai ficando mais grave, o espaço de irradiação vai alargando, até ao extremo mais grave em que os monitores se tornam praticamente omnidireccionais.

Estas frequências mais graves tendem a contornar objectos relativamente pequenos, mas reflectem nas paredes, amplificando substancialmente o nível de graves dentro do espaço.

Este aumento nos graves irá variar na frequência, consoante as distâncias entre monitores, dos monitores às paredes, ao chão, ao tecto, e especialmente se os monitores estiverem muito perto das paredes ou cantos do espaço acústico (aumento radical da resposta descontrolada de graves).

Para assegurar uma resposta de graves equilibrada, a distância dos monitores à parede mais próxima deverá ser diferente entre eles, de modo a que a frequência amplificada não seja a mesma.

Exemplo de má colocação de um monitor: num canto da sala à mesma distância do chão e do tecto, o que irá resultar em picos graves descontrolados, ou seja, determinadas notas graves a soarem bastante mais altas do que as restantes. O ideal seria que as distâncias às duas paredes mais próximas, ao tecto e ao chão, fossem todas diferentes de modo a várias frequências serem amplificadas, e não ser apenas uma frequência amplificada várias vezes.

Regra geral, os monitores devem estar sempre a pelo menos 30 cm da parede traseira (B) e a 45 cm da parede lateral mais próxima (A). Idealmente deve montar-se a estação de trabalho na parede mais longa da sala.

Por vezes os monitores são colocados em cima da mesa de mistura (por cima da "meter bridge"), e muitos são mesmo desenhados para trabalhar nesta posição, mas a maioria soará com mais precisão quando colocados em suportes um pouco afastados da mesa de mistura. Estes suportes evitam muitas das reflexões que ocorrem na mesa de mistura e chegam aos ouvidos do engenheiro de som. Quando combinadas com o som directo, estas reflexões produzirão "comb-filtering", o que adulterará a escuta.

É necessário que os "tweeters" apontem directamente para a cabeça do ouvinte, de modo a garantir que este se encontra em "on-axis" com os monitores, embora seja aconselhado o ponto de intersecção atrás da cabeça do ouvinte de modo a alargar um pouco o "sweet spot".

Quando não for possível ajustar os suportes dos monitores em altura, podem usar-se adaptadores que inclinem os monitores de modo a que os "tweeters" apontem aos ouvidos do engenheiro.

Estes suportes deverão ser sólidos, robustos e sem tendências a vibrar. Os monitores podem ficar em cima de pads de borracha ou em quatro pontos de esponja de modo a evitar ao máximo que sejam transmitidas vibrações para o chão.

Um bom cabo de coluna precisa de ter a menor resistência possível. A capacitância do cabo pode afectar ligeiramente a qualidade sonora, mas quando comparado com os restantes elementos num estúdio, a influência deste é mínima, pelo que não vale a pena gastar fortunas em cabos com a esperança de melhorar significativamente a qualidade sonora.

Deve usar-se cabos o mais curtos possível e de preferência do mesmo comprimento para cada monitor. Os cabos devem estar ligados de modo a que os monitores estejam em fase (fio vermelho no terminal vermelho, o mesmo para o preto), e deve verificar-se se o cabo está bem preso tanto no amplificador como na coluna.

Os monitores activos acabam por não ter este tipo de preocupações, além de que conseguem uma performance superior nos graves, portanto, se está a pensar substituir os seus velhos monitores, deve considerar os monitores activos.

 

Balanço

É aconselhável não efectuarmos misturas no mesmo dia em que as gravações decorrem, pois passou-se o dia todo a ouvir a mesma canção. Como por vezes o tempo não permite fazer este trabalho no dia seguinte, antes de se começar a misturar convém ouvir alguns temas que conhecemos bem, de modo a re-calibrarmos os nossos ouvidos aos monitores do estúdio.

Outra solução é ouvirmos as nossas misturas, do lado de fora do estúdio, com a porta aberta, pois fora do ambiente do estúdio os desequilíbrios são bastante mais notórios. Assim que for corrigida, a mistura deverá soar bem tanto dentro como fora do estúdio.

 

Headphones ou monitores

Os headphones podem dar uma ajuda preciosa a resolver problemas de monitorização, mas não é recomendado que se faça uma mistura baseada única e exclusivamente nestes, uma vez que tanto a resposta de graves como toda a imagem estereofónica podem depois soar bastante diferentes num sistema de monitores.

O isolamento conseguido com os headphones altera dramaticamente a nossa percepção dos graves, não é por acaso que se empurrarmos os headphones contra os ouvidos passamos a ter uma resposta bastante mais forte de graves. Este é um problema gravíssimo quando estamos a falar de monitorização, uma vez que o que queremos do sistema de escuta é uma resposta linear.

Ao contrário dos monitores, os headphones não sofrem a influência do espaço acústico, e devido ao seu isolamento ajudam a detectar pequenos problemas como barulhos ou distorções, que podem passar indetectáveis nos monitores.

Quando ouvimos uma mistura proveniente de monitores que se encontram à nossa frente, a nossa sensação é de que temos um palco à nossa frente, com os headphones, uma vez que a informação vem dos lados, não temos a percepção da frente para trás, o que faz com que a imagem estereofónica pareça passar pelos nossos ouvidos, em vez de num palco virtual à nossa frente.

Por contraste, os headphones dão-nos um grau de separação entre os canais esquerdo e direito enorme, o que resulta numa imagem estereofónica artificial e extremamente detalhada. Podemos assim analisar a nossa mistura e perceber onde se encontra cada elemento da mesma, mas temos de ter em atenção de que quando ouvirmos a nossa mistura num par de monitores, grande parte dessa separação e clareza perde-se.