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(c) Inês Barrau

Fotoreportagem Blasted Mechanism: A tribo old school e a nova geração juntas numa só alma na MEO Arena

Blasted Mechanism celebraram 30 anos de carreira em Lisboa com um espetáculo épico que uniu passado, presente e futuro, uma odisseia sensorial onde a música e a energia tribal se fundiram em nome da metamorfose.

Nascidos em 1995, os Blasted Mechanism tornaram-se num dos projetos mais criativos e disruptivos da música nacional. São inúmeros os fatores que tornam esta banda única, desde a construção dos seus próprios instrumentos musicais, passando pela fusão de estéticas e géneros que percorre cada tema, até à visão muito própria de espetáculo. Para os Blasted, cada concerto é mais do que uma simples performance sonora: é uma celebração, uma manifestação conceptual e emocional.

Incontornáveis na história da música portuguesa, fundem rock, eletrónica e elementos de diversas tradições musicais do mundo como só eles sabem fazer, com identidade, ousadia e inovação.

Estávamos no início de 2008 quando um comunicado dos Blasted Mechanism apanhou os fãs de surpresa: Karkov, a mítica voz do projeto, decidiu sair e seguir outro caminho. Muitos anunciaram o fim da banda, mas os restantes elementos seguiram firmes, com Pedro Lousada a.k.a Guitshu nos vocais. Dez anos depois surgia mais uma pedra no charco, Zymon Winga anunciavam que a sua viagem enquanto Blasted Mechanism chegava ao fim, com Luis Simões a explicar a razão: «Na origem disto está uma mudança de management que criou no Ary e Valdjiú o legítimo desejo de seguir uma direcção musical mais acessível.»

Incontornáveis na história da música portuguesa, fundem rock, eletrónica e elementos de diversas tradições musicais do mundo como só eles sabem fazer, com identidade, ousadia e inovação.

Desde então, os Blasted assumiram claramente um caminho sonoro diferente, mais mainstream, afastando-se da sua génese. Por mais que a metamorfose fosse coerente com a filosofia da banda, transgressão, mutação e cosmos, uma parte da alma tribal parecia ter ficado algures para trás. Os fãs dividiram-se. Para alguns, era a evolução natural. Para outros, a perda de algo sagrado. Em entrevistas, Valdjiú assumia que «há muitos fãs que hoje em dia não nos seguem, revoltados, porque acham que devíamos fazer o mesmo que em 1996.»

Reinventar-se sempre fez parte do ADN da banda e, com a entrada de Riic Wolf, em 2018, iniciou-se uma nova era.

2025 marca os 30 anos de Blasted Mechanism, celebrados com o regresso de Karkov e Winga aos palcos e às canções com o lançamento de “Blasted Universe”, o segundo avanço para o tão aguardado álbum com lançamento previsto para o final de 2025.

A Sala Tejo encheu com a família Blasted ao som de Jazzy Moon, uma das vozes emergentes do r&b e pop alternativo. Com apenas 23 anos, Jazzy Moon, lançou o seu disco de estreia, “Words Left Unspoken”, no final de 2024, escrito em colaboração com Ricc Wolf, Diogo Guerra e com os produtores Stego e Mogno. O disco é uma mistura de Pop acústico e R&B, com inspiração em artistas como Olivia Dean, Jorja Smith e Billie Eilish, e apresenta em cada faixa um retrato da jornada íntima e emocional da cantora que, depois de uma infância regada de música e cultura por influência do seu pai, Valdjiu, floresce agora na indústria. A banda de Jazzy Moon conta com David Gonçalves na bateria, filho de Fred Stone, baterista dos Blasted Mechanism, reforçando a continuidade de um legado musical que atravessa gerações.

Três décadas depois, os Blasted Mechanism provaram, em Lisboa, que continuam a ser uma força cósmica inabalável. O concerto dos  (símbolo que representa a unidade e totalidade, num espírito de transformação e transcendência) foi mais do que uma simples comemoração de data redonda: foi uma comunhão entre gerações, onde veteranos e recém-chegados vibraram em uníssono ao som de um universo que desafia o tempo e as convenções. Em palco estiveram todos os músicos que dão voz aos Blasted, mas foi a presença e o regresso há muito aguardado de Karkov que recolheu os maiores aplausos.

Karkov trouxe consigo não só a sua voz inconfundível, mas também o espírito que, para muitos, era a centelha primordial do projecto. A Valdjiu, Guitshu, Fred Stone, Riic Wolf, Ary e Karkov juntou-se ainda as batidas bem-dispostas de Winga.

Para o palco da Sala Tejo, os Blasted Mechanism prepararam uma grande produção visual e sonora, proporcionando uma experiência sensorial que fez jus a toda a sua carreira.

O alinhamento, bem estruturado, percorreu as várias fases da banda, mas, como seria de esperar, os temas mais icónicos como “Under The Sun”, “Blasted Empire”, “When The Sun Goes Down”, “Believe” “Blasted Generation”, “Blasted Empire” e “Karkov (Nadabrovitchka)” foram os mais celebrados. As canções da nova geração mostraram ao vivo ser uma aposta ganha, com destaque para “Rebirth” e “New Militia”. Ainda houve tempo para momentos colaborativos, como a poderosa “WE” (com o dedilhar inconfundível do mestre António Chainho) e o mais recente “Blasted Universe”.

Esta celebração não foi apenas um concerto — foi um reencontro geracional, onde a energia tribal do passado e a estética futurista do presente se fundiram numa só entidade viva. Ficou apenas a faltar, na nossa humilde opinião, a presença de Zymon e da sua mítica sitar.

Longa vida aos Blasted!

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