A Difícil Escolha da Baqueta Ideal
Escolher a baqueta ideal pode ser uma verdadeira dor de cabeça, principalmente para quem está a dar os primeiros passos no mundo do ‘baterismo’. Ou então, não, dirão alguns, é pegar na primeira que aparecer e começar a tocar. Depende de cada baterista. Segue as pistas.
Além de existirem variadíssimos modelos, tipos diferentes de madeira, corpo, peso, forma da ponta, a escolha de algo ideal é, em primeira análise, um conceito muito subjectivo. Depende sempre do que queremos, de que estilo estamos a tocar ou tão simplesmente do tipo de baqueta que se adequa mais à nossa mão, gosto ou forma de abordar este incrível instrumento. Portanto, estamos a anos luz de isto ser uma ciência exacta. Ainda assim, vamos deixar aqui algumas pistas para te ajudar a escolher a baqueta que melhor se adeque aos teus objectivos.
Já sabemos que existem baquetas de madeira, de plástico, em carbono, de fibra, enfim, um mundo de opções. Escolher qual destes materiais vais utilizar irá sempre depender do quão confortável te sentes com cada um deles e de qual estilo musical estás a tocar. A ideia é simples e resume-se a isto: obter a melhor performance em relação ao som pretendido. Começando esta pequena viagem pelas baquetas de madeira, convém referir que cada tipo possui som, rebound (ou ressalto) e timbre diferentes, o que permite uma vasta gama de opções de escolha.
Apesar de cada tipo ter as suas particularidades, algumas características são comuns a todos, é o caso da anatomia das baquetas, que são as características estruturais destas verdadeiras extensões dos braços de qualquer baterista.Cabo | É a parte em que se dá o contacto principal entre a mão e o instrumento baqueta. O comprimento e espessura estão directamente ligados ao conforto. Se o baterista tem uma mão grande, tende a sentir-se mais confortável com baquetas mais grossas e de cabos maiores. Quanto maior a espessura, mais madeira, mais peso. O cabo também pode ser usado para tocar, produzindo um som grave e pesado. Algumas marcas oferecem cabos com cobertura de borracha, o que ajuda a que as nossas amigas não nos escorreguem das mãos, servindo ainda para simular o toque dos mallets nos pratos sem que tenhas de trocar de baquetas durante a performance.
Corpo | É a maior parte da baqueta e liga o cabo ao ombro. O comprimento e o diâmetro influenciam o peso e o ressalto. Entre o cabo e o corpo está o terço médio da baqueta, parte importante já que é onde a baqueta é agarrada pelas mãos do baterista – factor determinante na dinâmica e no toque, pois pode influenciar o punch e a acentuação.
Ombro | Tem a função principal de determinar o ponto de equilíbrio e a pressão que a baqueta pode exercer sobre as peças da bateria.
Pescoço | O pescoço é a parte em que a baqueta começa a ficar mais fina até chegar à ponta. Quanto menos madeira ela tiver nessa área, mais ressalto ela vai ter. Baquetas com pescoços mais grossos tendem a durar mais. O maior comprimento oferece flexibilidade, mais rebound e mais velocidade. Baquetas com pescoço curto proporcionam menos flexibilidade, menos ressalto, porém, geram mais força, volume e resistência na área de ataque.
Cabeça | A cabeça é a ponta da baqueta e tem diferentes formatos que são geralmente de madeira ou de nylon. Esta parte da baqueta carrega toda a responsabilidade de transformar o movimento em som. Como área de atrito, a sua função é crítica. Portanto, cabeças bem desenhadas e com precisão no corte são fundamentais para a qualidade sonora, tanto nos pratos, como nas peles. Pontas de nylon produzem um som mais plástico e fino, enquanto as de madeira produzem um som mais cheio e natural. É tudo uma questão de textura.
CLASSIFICAÇÕES
As baquetas longas tendem a oferecer um alcance e força maiores, ao passo que as baquetas curtas podem ser mais ágeis e mais rápidas de controlar. Já o peso tem tudo que ver com o diâmetro e o comprimento. As mais grossas tendem a ser mais pesadas e a oferecer um toque mais firme, mais rock, além, é claro, de durarem mais (durabilidade essa que também depende da madeira utilizada). As baquetas finas são mais leves e favorecem os toques rápidos ou suaves, ideais para estilos como jazz, bossa e samba.
Existem classificações diferentes para diferentes pesos e diâmetros. Embora não sejam um padrão entre as marcas, estas classificações distinguem os pesos das baquetas. É importante que conheças e entendas estas diferenças, pois as experiências dos outros bateristas, apesar de servirem como referência, são muito pessoais. Terás de ser tu próprio a fazer os teus testes até chegares ao teu tipo de baqueta perfeito.
Até 1950, as baquetas eram fabricadas pelas próprias empresas que produziam as baterias e/ou instrumentos de percussão, mas, com o tempo, surgiram no mercado empresas especializadas neste produto, criando vários tipos diferentes e de acordo com a aplicação para cada baqueta. Dentro deste cenário, as que mais se destacaram são as identificadas pelas letras A, B e S.
Estas classificações são baseadas em letras e números, sendo A relativo a ‘All Purpose’, para nós, de uso geral, B relativo ‘Band’, para big bands e orquestras e, por fim, a letra S relativo a ‘Street’, em português, rua, e que especificava os modelos feitos para serem usados em bandas filarmónicas e/ou fanfarras. Já os números referem-se a peso e diâmetro. Quanto maior o número, menor o peso, e vice-versa.
AS MAIS COMUNS
7A | Geralmente o mais leve dos modelos, as baquetas 7A são utilizadas para estilos que exigem menor volume, maior leveza e delicadeza, como por exemplo o jazz. Também é muito utilizada por iniciantes e estudantes por serem mais leves e finas. No entanto, à partida, são baquetas que partem mais facilmente.
5A | As baquetas 5A são o best-seller e em geral mais resistentes que as 7A. Utilizadas normalmente para estilos um pouco mais pesados e que pedem mais volume como o rock. É provavelmente o modelo mais equilibrado, uma espécie de pau para toda a obra.
5B | Estes modelos são mais pesados e resistentes do que os anteriores. Possuem um maior diâmetro e, por consequência, mais madeira e são usadas para estilos mais pesados como heavy metal ou outras vertentes de rock.
2A e 2B | São bem mais grossas e pesadas do que as anteriores e, naturalmente, mais resistentes. São frequentemente usadas pelos bateristas das bandas mais pesadas.
TIPOS DE MADEIRA
Existem muitos tipos de madeira, mas os mais usados no fabrico das baquetas são o hickory e o maple. Confere as principais características.
Hickory (nogueira) | Chega-nos da América do Norte, principalmente dos Estados Unidos e a sua principal característica é ser bastante resistente ao choque, além de ser bem flexível, por isso é muito utilizada no fabrico de baquetas e de baterias. Possui um timbre refinado, o que permite uma sonoridade mais encorpada e versátil, sendo assim utilizada por bateristas dos mais variados estilos. O hickory é a madeira mais usada pelos fabricantes internacionais, por ter uma maior densidade, maior quantidade de fibras e ser mais rígida, o que, consequentemente, a faz ter uma durabilidade maior.
Maple (ácer) | O maple é uma madeira de pinho, árvore igualmente originária da América do Norte e é bastante utilizada no fabrico de guitarras, baixos e outros instrumentos acústicos. Várias baterias são fabricadas em maple, provavelmente a madeira favorita dos bateristas que tocam com mais subtileza, por ser mais leve, no entanto, as baquetas, apesar do timbre cristalino e definido, tendem a ser um pouco menos resistentes.
MAIS TIPOS DE BAQUETAS
Qualquer baterista que tenha ultrapassado a fase de aprendiz, sabe que deve transportar, no seu saco de baquetas, uma panóplia de diferentes tipos, cada um com um objetivo e uma função diferentes. Além das baquetas simples e tradicionais, qualquer baterista que se preze tem, pelo menos, um par de escovas (jazz brushes), outro de rods e ainda um de mallets (bilros). Abaixo, vamos falar um pouco sobre cada um destes tipos.
Escovas ou vassouras | São mais utilizadas para o jazz ou bossa, mas também têm aplicação em outros tipos de música, normalmente temas mais suaves que necessitem de outra abordagem ou textura rítmicas, como por exemplo, sacar sons diferentes ao escovar a pele da tarola. São chamadas por este nome justamente porque, abertas, o seu corpo tem a forma de uma vassoura. As hastes podem ser de nylon ou de aço.Rods | Estas baquetas são compostas por conjuntos de varetas mais finas, o que torna o som mais leve e suave – ideal para apresentações acústicas e em espaços pequenos -, sem retirar o efeito da pancada. As varetas podem ser de madeira ou de plástico e variam na quantidade, cada uma com uma característica sonora diferente.Mallets | São baquetas com formatos de ponta especiais. Geralmente usadas em percussão, o uso na bateria é mais frequente para efeitos, normalmente nos pratos, se bem que existem modelos híbridos, em que uma das pontas é igual à de uma baqueta normal, e a outra com uma bola de feltro, o que permite aos bateristas usarem a mesma peça sem recurso a trocas durante os temas. As pontas podem ser confeccionadas em nylon, borracha, feltro, pano ou outros materiais, todos com resultados naturalmente ímpares.
O TEU MODELO, A TUA ASSINATURA
Há depois os modelos de assinatura que, naturalmente, obedecem a padrões de gosto individual. Podes sempre escolher um modelo em função do teu baterista preferido, mas tal não significa que seja o teu modelo de eleição. Mas se por acaso quiseres ter o teu próprio modelo de baqueta, também o podes fazer. A Missom é uma marca portuguesa sediada no Porto e que fabrica baquetas à medida e tem uma aplicação onde podes desenvolver o teu próprio modelo de assinatura.
Para terminar, resta referir que este artigo serve basicamente para que se entendam as diferenças entre as diversas opções de baquetas. O mais importante são mesmo os nossos próprios testes ao longo dos (muitos) anos e o nosso gosto pessoal, como em tudo no que diz respeito à música ou aos instrumentos musicais. Nada é uma regra ou uma verdade absoluta.