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Pedais ou Multiefeitos: Footware Para Todos os Gostos

Pedais ou Multiefeitos: Footware Para Todos os Gostos

André C. Rodrigues
Daniel Mendonça

Pedalboard, repleta de pedais e azáfama de cabos, ou processadores de efeitos e a sua economia de espaço e portabilidade. As vantagens e as desvantagens de uma e outra opção, o melhor para cada situação…

Desde rigs básicos, até verdadeiras centrais de processamento, as escolhas à disposição do músico actualmente nunca foram tão diversas, completas e, por vezes, complexas. Longe estamos dos tempos em que um fuzz e um wah (ainda hoje, pedras basilares nas pedaleiras de alguns), eram as únicas ferramentas disponíveis.

Comutação remota simultânea, processamento digital, programação e memória, linhas de efeitos paralelas, simulação de amplificadores e altifalantes, tecnologia IR, insert para efeitos externos ou preamplificadores, saídas de linha balanceadas, comunicação MIDI e USB, as possibilidades disponíveis por baixo dos nossos pés são tais, que fariam inveja a qualquer sistema multirack de finais dos ’80.

Por vezes, menos é mais. Uma pedaleira consistindo de cerca de seis pedais escolhidos criteriosamente pode ser exactamente aquilo de que um músico precisa. As vantagens são óbvias: maior facilidade de utilização, menor tamanho, e, consequentemente, menos peso, mas também menos perda de sinal, menos requisitos de alimentação, e maior facilidade de fazer um upgrade a alguma das unidades (substituindo-a por outra que sirva melhor as necessidades do músico), ou troubleshooting, caso ocorra algum problema. Menos opções obrigam o músico a aprender a tirar o maior partido destas, mas, caso seja necessário cobrir uma área considerável de timbres e efeitos, podem ser limitadas.

MAIS PEDAIS

Pedalboards com dez ou mais pedais individuais têm vantagens e desvantagens que têm que ser consideradas. Se bem que permitem acesso a uma paleta de “cores” maior, são inerentemente maiores e mais pesadas, limitando a sua portabilidade. Também terão requisitos de alimentação específicos. Não é incomum ter alguns pedais que necessitem de mais corrente do que a maioria, ou outros que precisem de uma tensão de alimentação diferente dos +9 VDC habituais. Porém, já há no mercado fontes de alimentação de múltiplas saídas isoladas, como as Cioks ou Voodoo Lab, devidamente filtradas e rectificadas (algo que tem que ser sempre equacionado, se quisermos minimizar o ruído de fundo), mas costumam ser relativamente pesadas e ocupam um espaço considerável.

Quanto a comutação de efeitos, também pode constituir um desafio. Se bem que a regulação de parâmetros dos diferentes efeitos é relativamente  isenta de problemas, ligar e desligar efeitos numa pedaleira com uma dúzia de pedais diferentes não é propriamente fácil, pelo que a disposição destes deverá ser bem planeada para facilitar a sua operação – dispô-los em degraus, colocar os que se usam mais frequentemente mais perto do utilizador, e emparelhar efeitos que se usem alternadamente (ou seja, colocar os seus footswitches suficientemente próximos, por forma a que possamos ligar um efeito e desligar o outro simultaneamente), são algumas das formas de colmatar este problema.

Felizmente, o advento dos minipedais (como, por exemplo, os da Mooer), de patch cable específico para pedalboards, com cabo com uma secção menor e pontas de perfil mais pequeno, como as da George L’s ou as do sistema SIS da Evidence Audio (em que, em ambos os casos, o utilizador pode construir os seus patch cables por medida, sem recorrer a ferro de soldar), e patchbays próprias, para ligar a um ou mais amplificadores, ou utilizar o método de quatro cabos (para colocar alguns dos efeitos no loop de efeitos do amplificador, ou seja, entre a sua secção de preamplificação e a de amplificação de potência), vieram facilitar a organização destas pedalboards.

LOOP SWITCHING

Loop switching não é um conceito novo. Trata-se de fazer a comutação de efeitos, ou grupos de efeitos, através de uma pedaleira específica para esse fim. Mas, se, antigamente, tal era feito remotamente (habitualmente, essa pedaleira enviava informação para um “cérebro” que estaria longe do utilizador, instalado numa tábua pedaleira ou rack de gavetas, junto com os pedais de efeitos), hoje-em-dia, é comum ter os footswitches e o cérebro juntos numa única unidade. Desde as mais simples, com cerca de três a quatro loops de efeitos apenas, até às mais completas, com oito ou mais loops (em que alguns são stereo), possibilidade de alterar a ordem dos mesmos na cadeia, com memórias e presets, buffers e função de boost, saídas de alimentação e para afinador, comutação de canais de amplificador, função de tap, interfaces MIDI e USB, etc., a versatilidade que disponibilizam apenas é limitada pelo seu preço (as mais completas, como a The GigRig G3, chegam a custar mais de um milhar de euros).

Para além da facilidade de comutação, estas minimizam a perda de sinal – o sinal apenas é distribuído pelos loops que estiverem activos em determinado momento. Nas que tiverem essa função, o acesso a presets programáveis pelo utilizador permitem a comutação de vários loops (e, por vezes, a ordem dos mesmos), pressionando apenas um footswitch – se tiverem interface MIDI, podem, inclusivamente, enviar mensagens de troca de presets e/ou parâmetros para pedais que também tenham essa função, como delays e efeitos de modulação (muito prático para sincronizar o tempo ou os ciclos destes efeitos), e podem até receber e reenviar informação de MIDI clock, para rapidamente sincronizar a pedaleira com uma sessão de gravação com um tempo estipulado.

Se bem que um switcher irá aumentar o tamanho e peso de uma pedalboard, não quer dizer que aumente necessariamente a área que esta ocupa. Um dos truque usados com estas unidades é dispor os efeitos satélites que são supostos comutar em degraus, atrás destas – desta forma, podemos remeter a(s) fonte(s) de alimentação e os efeitos que não necessitam de ajuste no “rés-do-chão”, por trás do switcher, e dispor os efeitos que necessitam regulação numa plataforma, sobre os primeiros. Quanto a alimentação, para além de termos que alimentar os pedais externos, caso o swicher não seja passivo, teremos que o alimentar adicionalmente. Se o switcher for activo, troubleshooting pode ser mais complicado (especialmente, no que concerne a processamento interno), mas, caso o problema resida num efeito inserido num dos loops, o uso de um switcher pode ajudar a isolá-lo.

PEDALEIRAS MULTIEFEITOS

No que concerne a estas, as soluções disponíveis são tão diferentes quanto as as necessidades de cada músico. Desde as portáteis e modestas (mas nem por isso, pouco versáteis) Fly Rig da Tech 21, Red Truck da Mooer, ou SoulMate da T-Rex, que disponibilizam o essencial (ou seja, um ou dois efeitos de ganho, outros tantos de modulação, mais reverb e delay), até às completíssimas Helix da Line6, GT-1000 da Boss, ou Pedalboard da HeadRush, com inúmeros efeitos de cada tipo (e múltiplos parâmetros editáveis), possibilidade de alterar a ordem dos mesmos na cadeia (e até linhas de efeitos paralelas no mesmo preset), memória para gravar e aceder instantaneamente a esses presets, inserts para efeitos externos e/ou preamplificadores (método de quatro cabos), simulação de amplificadores e de colunas através de tecnologia IR (com possibilidade de carregar e gravar IRs externos), saídas múltiplas (com opção de funcionamento em stereo, e algumas, até, XLR, para ligar a pedaleira directamente a uma mesa de mistura ou placa de som), entrada auxiliar e saída de headphones, comunicação MIDI e USB (que permitem o upgrade do firmware, edição através de software externo, e até, compatibilidade com DAWs, oferecendo uma saída de sinal extra, e possibilitando a gravação directa para um computador, sem recorrer às saídas áudio), comutação de canais do amplificador, etc…

Nunca um músico teve ao seu dispor tantas opções para personalizar o seu som, ou enfrentar qualquer tipo de situação. No entanto, o princípio é o mesmo: oferecer numa única unidade (reduzindo, portanto, o seu peso e requisitos de alimentação), os efeitos necessários para cada situação.

Contudo, e tal como verificamos com as pedalboards de efeitos individuais, as mais simples e intuitivas, por serem relativamente pequenas e leves, são excelentes para ensaiar, ou mesmo para viajar (algo a ter em conta, particularmente, se temos que nos deslocar de avião), mas podem ser um tanto ou quanto limitadas. Por outro lado, uma pedaleira multiefeitos muito completa, com uma miríade de efeitos e parâmetros programáveis, permite afinar com extrema precisão os presets necessários para cada música, ou trecho, requerendo apenas que comutemos entre presets e bancos, minimizando o trabalho de pés, mas uma considerável quantidade de menus e submenus podem tornar a edição “on-the-spot” numa experiência um tanto ou quanto complexa.

Em ambos os casos, se bem que a perda de sinal é praticamente inexistente, estamos dependentes, salvo raras excepções, dos efeitos existentes – isto é, se queremos um efeito que não conste do cardápio da pedaleira, como um fuzz muito específico (algo que, a meu ver, estas máquinas ainda não conseguem simular convincentemente), teremos que o adicionar externamente. Adicionalmente, quando algo corre mal com elas (sobretudo, ao nível do software), resolução de problemas pode ser muito limitada, ou mesmo impossível.

“CANIVETES SUÍÇOS”

Ultimamente, vimos surgir no mercado, unidades como a H9 da Eventide, a HX Stomp da Line6, ou a novíssima GT-1000CORE da Boss. São potentíssimos multiefeitos (alguns destes, baseados nas suas versões maiores, desenhadas para uso ao vivo), mas de tamanho relativamente reduzido. Estas unidades não só podem ser usadas como processadores de efeitos externos, para complementar um estúdio caseiro, mas o seu tamanho possibilita a sua integração em pedalboards convencionais de efeitos analógicos, exponenciando, assim, as suas opções e possibilidades.

Mesmo que não usemos as suas capacidades por inteiro, os seus delays e reverbs digitais costumam ser de qualidade superior, e têm uma enorme biblioteca de diversos efeitos, o que nos permite, inclusivamente, utilizar um muito específico, que só usemos durante meio minuto durante um set inteiro, sem ter que, para isso, adicionar o seu equivalente físico à pedalboard. Costumam ter, adicionalmente, simulações múltiplas de amplificadores e de colunas, o que torna a pedalboard compatível com mesas de mistura, dispensando assim o uso de amplificador de guitarra. Também têm interface USB, que permite actualizar o firmware, mas, em certos casos, pode servir como saída de sinal, para gravação com DAW.

Apesar de terem um número de comutadores reduzido em relação às pedaleiras mencionadas anteriormente, para além de entradas para comutadores satélite extra, têm entrada e saída MIDI, o que lhes permite comunicar com computadores, controladores MIDI, ou mesmo, interagir com os loop switchers supracitados, que também tenham essa opção incluída.

A SOLUÇÃO HÍBRIDA

Embora haja ainda quem defenda, com alguma razão, a utilização exclusiva de efeitos analógicos individuais, o processamento DSP e conversão A/D D/A das unidades multiefeitos disponíveis nos dias de hoje é de tal ordem elevada, que, em certos casos, ultrapassam largamente os seus equivalentes analógicos, tanto em flexibilidade, quanto em qualidade sonora. Há alguns anos, a Boss lançou no mercado a MS-3, uma pedaleira multiefeitos com três loops de sinal extra, que visava, embora de forma limitada, colmatar essa lacuna, mas, apesar de disponibilizar múltiplos efeitos e funções, peca por lhe faltar secções de simulação de amplificadores e de colunas, bem como por ter um interface MIDI limitado, ou seja, sem entrada, só com saída.

Contudo, talvez uma solução híbrida, que integre uma a duas das pequenas centrais de processamento referidas anteriormente, pedais individuais específicos, e um loop switcher que possa controlar em simultâneo a totalidade da cadeia de sinal e os presets de efeitos digitais, seja a solução mais flexível e completa de todas, disponibilizando as vantagens que cada tipo de efeitos tem a oferecer, com muito poucas, ou mesmo, nenhuma das suas desvantagens.

Na nova edição impressa da AS, estreei-me nas colaborações com a revista e mostro como modificar o circuito de uma Telecaster para expandir a sua versatilidade sonora. Totalmente DIY. Apenas precisam de ler atentamente o artigo, munirem-se de solda, precaução no seu uso e obedecer a todos os passos, para tornarem a vossa Tele num canivete suíço. Para não irem embora sem ouvir uma malha. Aqui ficam os Entombed e a sua infame sonoridade com o BOSS HM-2 emprestada a “God Of Thunder”, dos KISS.