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Roland Jazz Chorus, A Lenda

Roland Jazz Chorus, A Lenda

Nero

Celebrizado por Albert King, consolidado por Pat Metheny e redescoberto pelo pós punk na sua primeira vaga e nos seus movimentos revivalistas, o Jazz Chorus é um daqueles amplificadores que merecem o termo lendário.

Jazz Chorus já conta mais 40 anos de vida (celebrados em 2015), tendo surgido o seu primeiro modelo em 1975 – o JC-120. É aclamado como um dos amplificadores que melhor som limpo possui, além do equilíbrio e beleza do seu efeito Chorus em stereo.

A configuração do amplificador tem mantido o esquema original do JC-120 ao longo dos anos, seja em modelos raros como o JC-160 (4×10”) de Robert Smith, dos Cure, seja na recente edição de aniversário JC-40. São dois canais: um deles limpo e o outro com os efeitos de Chorus, Vibrato, Reverb e Distortion. O amp possui entradas “high” e “low” e um switch para brilho. Cada um dos canais possui volume e EQs (baixos, médios, agudos) independentes.

A Roland criou o Jazz Chorus como um amplificador de elite, como o nome indica, visando mais o universo do jazz. Como tal, o JC não era um amplificador barato. Quando surgiu, o JC possuía uma peculiaridade, não possuía válvulas. No mundo tecnológico actual não vemos isso como algo substantivo, mas no final da era de ouro analógica, era surpreendente um circuito de transístores ser capaz de possuir um som encorpado e “aguentar-se” em cenários de volume mais extremo. Características, aliás, que tornaram o JC uma das ferramentas favoritas, por exemplo, dos guitarristas dos Metallica para o seu som limpo – prova do poder e versatilidade do amp.

A forma como a Roland ultrapassou as limitações de época deste tipo de amplificadores foi, além de um circuito com um design realmente bem concebido, a opção de usar dois power amps de 60 watts, combinados para atingir o dobro da potência.

roland jc series

Ao usar uma estrutura de amps e altifalantes “gémeos”, a Roland permitiu-se dividir o sinal de entrada do modelo de forma a potenciar a verdadeira conquista do JC: o efeito Chorus em stereo, que aumentava a sensação de espaço do efeito e, consequentemente, do som.

Além disso, o novo modelo da Roland acabava por, no seu preço, se tornar um amplificador bem económico. Um bom amplificador a válvulas sempre teve o seu custo, que aumentava devido à sua manutenção, o JC não necessitava de cuidados com o desgaste e troca de válvulas, uma vez que não usava esse tipo de circuito. De forma resumida, o JC-120 era um amp com um som sólido e bonito (como hoje todos reconhecem), com uma capacidade de volume muito acima do que era normal nos amps com circuitos de transístores e inovador.

Os anos 80 extremaram posições na amplificação. De forma simplista, as bandas de rock continuavam apegadas ao poder massivo dos stacks valvulados, enquanto o universo pop foi procurando uma subtileza sonora mais brilhante, mais suave e integrável com a era da sintetização. Se o JC surgiu um pouco à frente do seu tempo, os anos 80 iriam coroá-lo como um amplificador axiomático no som da década. E o som da década de 80 foi marcado por Chorus e Reverb, os dois efeitos de maior destaque no amplificador. O solid-state surgia no som de Andy Summers, nos Police, de Robert Smith e dos Cure, nos Siouxsie And The Banshees, Culture Club, o próprio Jeff Buckley usou um modelo.

O revivalismo pós punk, nos dias de hoje, ainda ecoa com esses dois efeitos, como nos dizia Zachary Cole Smith no Alive’13: «O Roland Jazz Chorus! Puseste-me excitado. É tipo o melhor amp: a) não tem válvulas a estragá-lo, b) tem o som mais limpo e espantoso, o chorus é muito bom e o reverb. O melhor amp, de sempre! Não uso mais nada. É porreiro porque o nosso teclista pode usar o seu teclado por aí, enfim… É somente o melhor amp»!

É o melhor amp de sempre – Zachary Cole Smith (DIIV)

O frontman dos DIIV, toca um ponto interessantíssimo, a capacidade do JC em ser usado como amplificador de sintetizadores ou de baixo. Algo a que os Glass Animals recorreram para criar os suaves e luxuosos graves do seu álbum de estreia: «Usámos um pouco o Ampeg B-15, misturado com um Jazz Chorus – que está em todo o lado. O Jazz Chorus não é, propriamente, para baixo, mas conseguimos tirar o som “certo” dele, soa com o ataque que procurávamos em muitas das canções. Ligava-se tudo a isso. São espantosos e o Chorus soa incrível! Usamos o Chorus desse amp o tempo todo, através do pedal que fizeram só com o efeito do amp, o Boss CE», confessou Dave Bayley, em entrevista à AS, a respeito da sonoridade de “Zaba”.

Ao longo dos seus mais de 40 anos, o que tem permitido ao amplificador manter-se como uma escolha consensual é o respeito que a Roland tem mantido pelo conceito inicial do amp. Ao longo destas quatro décadas não houve alterações de monta. Claro que é uma decisão fácil, considerando a bomba que o JC-120 se revelou logo na sua introdução.