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Basinski: sem fim nem começo

Basinski: sem fim nem começo

2015-09-18, Musicbox
Timóteo Azevedo
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O retorno a Lisboa por um dos pontífices da música ambiente da última década.

Basinski esteve de volta a Lisboa, por ocasião das MusicBox Heineken Series, agora com um novo álbum em carteira, “Cascades/The Deluge”, lançado no final de Julho. A sala, bem composta, aguardava expectante as frequências melancólicas do californiano, depois de uma abertura de noite mais ruidosa. Ruidosa, no melhor sentido do termo. Jerome Faria, artista madeirense, que já conta com actuações e colaborações com nomes como Tim Hecker, Fennesz, Murcof, Alva Noto e Taylor Deupree, encarregou-se de configurar o mood dos presentes, ao explorar cenários de som ancorados entre o noise de estáticas e distorção e um ambiente feito de harmónicos criados pela sobreposição de camadas. Para quem o género interessa, Jerome Faria é, sem dúvida, um nome a seguir.

De seguida, é ao som das palmas que Basinski chega timidamente ao palco. “I’ll be setting up some things here, and then we’ll do a little chillout”, o loop de “Cascade” entra sem pompa, e quase nem damos conta que o concerto já está em andamento. Como dizia o artista em entrevista à FactMag, “the moment is eternal”, e é aí que nos encontramos dentro da música de Basinski: um fragmento de tempo, sem fim nem começo, numa suspensão mágica que atravessa as suas composições, como uma espécie de alegria melancólica de uma memória antiga. Não será de estranhar, por isso, que o loop usado em “Cascades/The Deluge” já tenha sido ouvido numa das faixas de “92982”, apelando a uma estranha reminiscência que saúda as coisas de amanhã.

“I have a little dessert for you now”, diz Basinski com o fecho do ciclo “Cascades/The Deluge” e, dito isto, entra aquilo que seria de esperar: é “Desintegration Loops” que se faz ouvir, recebida num entusiasmo de palmas e assobios estranhamente deslocados. Serão vãs as palavras empregues para transmitir uma forma de estar na música tão singular como a de Basinski. A experiência que cada pessoa tem ao contactar com determinado artefacto artístico é sempre pessoal e todas as tentativas de colectivização sensorial são projecções sem verdade. É nesse domínio da experiência (pessoal) que a música de Basinski se fecha. E só nele faz sentido.