Billie Eilish: O fenómeno é real?

5 Setembro, 2019

Com apenas 17 anos, a artista americana apresentou um pop alternativo e uma energia imensa dentro da Altice Arena – a primeira presença em Portugal.

Billie Eilish é actualmente um ícone em destaque da música pop. Com um enorme culto de seguidores e músicas com milhões de reproduções em todas as plataformas de streaming (“bad guy” soma 510 milhões de visualizações, só no youtube), a artista americana subiu rapidamente ao topo da indústria musical. Mas o pop de Billie não cai no banal, oscila entre instrumentais abruptos, carregados de electrónica e graves energéticos (os 808s continuam na moda) e baladas mais calmas, protagonizadas por guitarras e teclas suaves. Uma mistura de pop, hip-hop e indie, verificada no primeiro álbum de estúdio “When We All Fall Asleep, Where Do We Go?” (2019).

Existe muitas teorias de que a artista foi fabricada de raiz para ser um sucesso. Os mais conspiradores imaginam uma editora americana a pagar a uma equipa para escrever as suas letras, definir o seu look ou até mesmo a pagar para que apareça em todo o lado (entrevistas, vídeos, memes, redes sociais, etc…). Isto porque a sua caminhada até ao sucesso mundial aconteceu em aproximadamente três anos. Publicou “Ocean Eyes” no soundcloud com 15 anos e partir daí foi sempre a subir. Aliás, o concerto de Billie Eilish em Portugal, antes de ser agendado na Altice Arena, foi inicialmente programado para o Coliseu dos Recreios, em Fevereiro de 2019  – talvez na altura em que os contratos foram fechados, a sala parecia a melhor opção mas, em Setembro de 2019, a Altice Arena esgotou com a sua presença.

Conversas sobre crescimento fabricado pela indústria ou crescimento natural são irrelevantes. A música de Billie é, de facto, uma lufada de ar fresco na música pop e ao vivo (lembrem-se, apenas 17 anos) consegue controlar a multidão e marcar um presença de grande estrela com profissionalismo. O público, maioritariamente jovem, fez tanto barulho durante a música de abertura – a “bad guy”, incrivelmente bem-produzida e com melodias vocais contagiantes – que não conseguimos ouvir o som. A letra foi inteiramente declamada pela multidão (e soavam bem!) com o grupo mais frontal em total frenesim. Pouco volume ou mesmo muito barulho? Difícil de avaliar.

Em seguida, “Strange Addiction”, também foi inteiramente cantada pela multidão mas continuávamos a tentar ouvir com definição a voz da artista, a bateria de Andrew Marshall e Finneas O’Connell na guitarra e sintetizador. Finneas, irmão de Billie, é indispensável e igualmente responsável pelo seu sucesso. Fabricou toda a produção instrumental e ao vivo reproduz as partes mais cirúrgicas – as notas não são difíceis, mas o objectivo aqui não é apresentar técnica, é reproduzir fielmente as sonoridades criadas.

Antes de entrar numa sucessão de músicas mais calmas, em formato de baladas alternativas, foi descarregada a dose de maior intensidade em “You Should See Me in a Crown”. As palavras de Billie são ordens e a plateia frontal abriu dois mosh pits que entrariam em colapso durante um refrão rápido e energético, premeditado por versos sombrios, quase sussurrados. “idontwannabeyouanymore” , com uma sonoridade mais calma, sustentada pelo sintetizador de Finneas, criou um ambiente mais acolhedor e calmo que seria alongado com uma versão mais curta de “&burn” (sem o verso de Vince Staples), “COPYCAT” e “WHEN I WAS OLDER” – que inclui um efeito de vocoder ao estilo Bon Iver.

A performance vocal é acompanhada por faixas de acompanhamento, pelo que ouvimos uma mistura da voz gravada em estúdio com a voz ao vivo de Billie. Este método é cada vez mais popular e talvez se torne o novo standard de concertos, mas preferíamos ouvir somente a voz ao vivo. Pode não ser a reprodução mais perfeita, em comparação com o que ouvimos nos nossos auscultadores ou colunas, mas a experiência de um som puro, sem aditivos, é bem mais satisfatória.

“Wish You Were Gay” marcou um dos pontos mais altos, com um instrumental definido pelo som da guitarra acústica, antes de se embrulhar em sintetização e graves para o refrão. A letra é catchy e as transições entre acústico e digital são suaves, pelo que foi talvez uma das melhores performances – aqui ouvimos bem melhor a voz ao vivo – além de terminar com a bandeira LGBT nas mãos. “i love you” foi a causa de lágrimas na Altice Arena. Encostada ao irmão, os dois recriaram a origem da música, sentados na cama que se erguia no ar, Finneas tocava os acordes na guitarra acústica enquanto Billie cantava a balada mais assumida da sua discografia – acompanhados por luzes de telemóvel em todo o recinto. Em seguida, “Ocean Eyes” e “when the party’s over” continuaram o caminho das baladas, talvez influenciadas por trabalhos passados de Lana del Rey ou até Lorde.

“Bury a Friend” fechou o concerto de forma festiva com a sonoridade electrónica e visceral, mas o encore seria exclusivo para Portugal. Quando regressou ao palco com a pergunta «Posso mostrar-vos uma coisa?», passou nos ecrãs gigantes o videoclip de “all the good girls go to hell” – tinha estreado na tarde do dia e Billie sentou-se sozinha em palco para visualizá-lo com os fãs. Pequeno gesto, mas bonito. Antes de ir verdadeiramente embora fechou o concerto da mesma forma que o abriu, com a “bad guy”. Porquê passar o grande hit exclusivamente no final ou no início se pode passá-lo no início e no final?

Com 17 anos, Billie apresenta-se com uma profissional em palco. Acumula uma legião de fãs jovem – mas faz todo o sentido, tendo em conta a sua própria idade, o público relaciona-se. Com uma pop alternativa, que foge aos parâmetros do habitual e mistura géneros, certamente continuará a ser um íman de multidões no futuro.

https://www.youtube.com/watch?v=TsR1IL7MVko

NR: Não foi permitido à Arte Sonora fotografar o concerto.

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