“Vol.4” é a cúpula da tetralogia sagrada com a qual os Black Sabbath escreveram a história da música. Este não é um álbum de metal, heavy metal, stoner ou doom, é antes um diário proibido sobre a importância dos narcóticos como potenciadores da capacidade criativa – aqui, Iommi, Ozzy, Ward e Butler surgem como pitonisas em transe psicotrópico, a inalar o fumo e o pó da criação eléctrica.
O experimentalismo, presente como em nenhum dos três trabalhos anteriores, derivará desse factor e acaba por fazer de “Vol.4” o álbum menos focado dos quatro. Mesmo em termos de impacto mediático, este é o que tem menos hinos, contudo ao final de 40 anos esse factor de alguma dispersão torna o álbum capaz de sobreviver à erosão da exposição contínua. Ou seja, é mais fácil ser ainda hoje surpreendido por este trabalho que por “Paranoid”, por exemplo. A meio disto a banda consegue ainda aqui ter o peso de “Master of Reality” e a acessibilidade de “Paranoid”. A sua nota não é perfeita apenas porque num ou noutro momento há uma perda significativa de controlo durante o disco, ainda que seja precisamente isso que o torna perfeito.
Além disso, a espontaneidade rítmica, o balanço de Butler e Ward, tem um swing que mais nenhum dos 4 álbuns sagrados consegue demonstrar, bem como ambos os músicos surgem mais independentes, nas suas prestações, das tecelagens graníticas de Iommi (algo a que não é alheia a forma brilhante como Colin Caldwell e Vic Smith foram capazes de, mantendo o peso sólido da batida de Ward, abrir mais o som de bateria na mistura, tornando-a maior). A acentuar a sensação mais psicadélica do álbum, também os vocalizos feéricos de Ozzy surgem mais soltos das linhas melódicas instrumentais.
Iommi não é o melhor guitarrista da história das 6 cordas dentro do espectro sonoro mais pesado, mas é o maior. Iommi foi o Ferreiro que inventou o martelo e a bigorna que haveriam de mudar para sempre a história da guitarra eléctrica – hoje usam-se afinações em B ou mesmo drop A de modo a que seja mais imediata a sensação monolítica do som (em “Vol.4” não há afinações abaixo do drop D), mas Iommi erigiu dólmens com as mãos.
Após 40 anos fica a sensação de que a música vai sendo refém de detalhes de produção, da indústria e mesmo da displicência que a era digital permite na execução. Mas uma máquina jamais terá alma – e ao fim deste tempo a salvação do rock não reside sob os holofotes dos media, mas continua no submundo da amplificação onde os Black Sabbath permanecem como a figura maior do panteão ao qual, aí, se presta culto. Ouvir “Vol.4” fará qualquer jovem crente querer pegar na guitarra e incorporar o “Supernaut”…
…”I want to reach out and touch the sky”.