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Bracara Extreme Fest: Dia 01

Nero

Um dos grandes destaques desta edição do Bracara Extreme Fest concerne ao novo espaço do festival – aproveitando duas salas inutilizadas de cinema – que permitiu um conforto incomparável quando pensamos na edição do ano passado, até mesmo na física e acústica de ambas as salas, que beneficiou tanto o público como as bandas. Bom público (em maior número no segundo dia) e bons concertos, este é outro festival em bom ritmo de crescimento. Uma das poucas desilusões, que está para lá das responsabilidades da organização, foi o cancelamento de Altar Of Plagues devido a falhas nos voos. A Arte Sonora deixa aqui os seus destaques.

Os Aathma mostraram poder sonoro – algo que Espanha trouxe em força a este festival – com riffs sólidos e bem estruturados. Ainda que a voz de Juan possa ser alvo de revisão, a verdade é que a mesma não deixa de dotar os temas de alguma excentricidade e algum classicismo, se pensarmos no universo stoner/doom nos anos 70.

Debaixo da parede de amplificação, o baterista Ricky mostrou um sentido dinâmico considerável, ainda que pareça carecer de alguma “patada” no ataque. De qualquer forma esta foi uma actuação que deixou vontade de conhecer os dois trabalhos da banda, “The Call Of Shivá” e “Decline… Towers Of Silence”, que foi editado este ano.

Dinâmica é um elogio que não pode ser feito aos Zatokrev e ao som carregado de detalhes que uma banda como Neurosis colocou na linha da frente do universo do metal. Ainda que a banda procure alternar o som limpo com a distorção de amplificadores, o desenvolvimento dos dois rostos sonoros e a permanente agressão de volume de Silvio Spadino na bateria não permite as flutuações atmosféricas que as composições indiciam. Não deixou de ser um bom concerto, mas a banda podia ter muito mais dimensão, em vez de ter apenas volume.

O punk dos Deskarga Etilika escreve-se com dois kapas e com um guitarrista do kar…, criativo melodicamente e com rapidez e agressividade nos solos, mas a actuação da banda esteve prejudicada por um som com muito pouca definição e assim a velocidade tornou-se confusa. Em crescendo de peso surgiram os Holocausto Canibal, com a competência e extremismo sonoro de sempre. Os Daylight Dies são uma banda com algum estatuto (como sucede com outros nomes mais apegados a clichés do death/doom melódico), mas que foram uma das maiores decepções do festival, com um som completamente caótico e cacofónico harmonicamente. A estética da banda parece insistir numa “cena” morta e muito focada cronologicamente – neste momento é uma banda só para entusiastas que tenham conseguido reunir desde que surgiram no início da década passada. E se pode argumentar-se que a ortodoxia do grindcore dos portuenses Holocausto Canibal também está muito focado nos entusiastas do género, a verdade é que pelo menos conseguiram transmitir vigor na actuação.

Para lá de debates genéricos estão os Napalm Death.Repito uma ideia que me é recorrente: as bandas tornam-se grandes e fazem a história dos géneros devido à sua qualidade, essencialmente ao vivo, e os veteranos Shane Embury, Mitch Harris, Barney e Danny Herrera deram uma lição sobre aquilo que é suposto ser um concerto de rock – uma intensidade de descarga de volume, destreza musical e atitude extrema que ultrapassam o debate do grind, death, doom, heavy ou qualquer outro estilo de metal – algo, à partida, memorável. Foi pena a quebra que os problemas técnicos com a bateria (o pedal de bombo ao que parece) vieram trazer, porque o concerto estava a ser brutal (permitam-me o uso zen do termo) e esmoreceu esmorecer um pouco depois disso. Devo confessar que, agora sim, vou comprar o “SCUM”.