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Bring Me The Horizon, Os Diamantes São Eternos

Bring Me The Horizon, Os Diamantes São Eternos

2023-02-15, Sala Tejo, Altice Arena
Rodrigo Baptista
Inês Silva
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Após duas passagens por Portugal, como banda de suporte e em festival, os Bring Me The Horizon apresentaram-se finalmente no nosso país em nome próprio. Perante um um público multigeracional e devoto, a banda de Sheffield, não só confirmou o seu estatuto enquanto banda de culto, como também demostrou que tem pergaminhos para voar ainda mais alto.

Para recordarmos a estreia dos Bring Me The Horizon (BMTH) em Portugal é necessário recuarmos 12 anos, mais precisamente até ao dia 17 de Novembro de 2011. Na altura, a banda de Oliver Sykes, apresentou-se como suporte a Machine Head no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, na data já referenciada, e no dia seguinte no Coliseu do Porto. Posicionados num contexto ainda semi-underground, os BMTH debutaram em terras lusas num período de experimentação e evolução sonora – algo que viria revelar-se uma constante na carreira da banda. O deathcore de “Count Your Blessings” (2006) e de “Suicide Season” (2008) dava agora espaço a um metalcore híbrido carregado de elementos sinfónicos, eletrónicos e corais. Desta forma, não é de estranhar que, durante a fase de “There Is a Hell Believe Me I’ve Seen It. There Is a Heaven Let´s Keep It a Secret” (2010), os BMTH tenham visto a sua falange de fãs (maioritariamente juvenil) crescer em diversos países, nomeadamente em Portugal, isto porque encontravam na banda de Sheffield uma porta de entrada para o mundo da música pesada.

Por outro lado, o reconhecimento por parte dos seus pares também se intensificara. Os BMTH passaram então a serem cobiçados para partilharem os palcos com bandas consagradas, algo que lhes permitiu tocar em salas com maior capacidade e também perante novos públicos. Aliás, foi neste contexto que se estrearam em Portugal a abrir para Machine Head. No entanto, o line up que também incluíu as bandas Darkest Hour e Devildriver não se revelou o mais favorável para a banda inglesa. Apesar da considerada quantidade de fãs que atraíram para os concertos de Lisboa e Porto, os BMTH apresentaram-se algo deslocados no cartaz, o que certamente não agradou aos metaleiros mais elitistas, que nunca perdem uma oportunidade de demonstrar o seu desagrado e de criticar e determinar o que é bom ou mau nas sonoridades mais pesadas. Desta forma, os BMTH, que foram a terceira banda a subir ao palco, antes de Machine Head, tiveram a árdua tarefa de aquecer as hostes para os cabeça de cartaz. Embora tenham apresentado um set coeso que motivou uma forte interação com o grupo de fãs que se apresentavam nas primeiras filas, os BMTH foram vítimas ao longo de todo o concerto do ódio instigado pelos fãs de Machine Head, que não só entoaram entre as músicas o nome da banda de Oakland, como também estenderam muitas das vezes o dedo do meio em sinal de desagrado. Muitos se questionam porque é que os BMTH demoraram tanto tempo a regressar a Portugal, e a resposta pode estar precisamente nas ocorrências que tiveram lugar nos concertos de 2011.

Todavia, nos últimos 11 anos os BMTH nunca estiveram estagnados. Passaram por mudanças na formação, em 2012 entrou para banda o teclista Jordan Fish, elemento fulcral e que desempenha, hoje em dia, os papéis de compositor e produtor, editaram o clássico “Sempiternal” (2013), que, sem qualquer tipo de medos podemos considerar o “Master of Puppets” do metalcore, passaram de tocar em pequenas salas em nome próprio, para serem cabeças de cartaz em arenas. Actuaram, em 2016, com uma orquestra num concerto especial no Royal Albert Hall e passaram completamente para o mainstream com as recentes colaborações com Ed Sheeran e Machine Gun Kelly. Isto tudo sem descorar a evolução sonora que mais uma vez os levou do metalcore até ao metal/rock alternativo de “That’s the Spirit” (2015) e “Amo” (2019).

2022 viu, finalmente, o regresso tão esperado da banda de Oli Skyes a Portugal, com um concerto no festival VOA Heavy Rock Festival. Nesse espetáculo os BMTH perceberam que têm bastantes fãs em Portugal, e que nada justificava esta ausência demorada. No entanto, não deixa de ser curioso que o concerto que, originalmente estava marcado, para o Campo Pequeno, e que depois saltou para a Sala Tejo, já estava agendado e anunciado ainda antes da performance da banda no VOA, o que nos leva a crer que os BMTH tinham um bom pressentimento em relação ao regresso a Portugal. Mas centremos agora as nossas atenções para o festim de metal/rock alternativo que aconteceu na Sala Tejo da Altice Arena, esgotada, no dia 15 de Fevereiro.

A Mediocridade dos Rookies

As primeiras bandas a subir ao palco foram os britânicos Static Dress e o americano Poorstacy. Com um som extremamente sofrível, onde praticamente só se ouvia a bateria, as bandas apresentaram a sua mixórdia sonora, com o primeiro a tocar um post-hardcore pouco interessante e o segundo um som híbrido entre o emo rap, punk rock e post hardcore, também ele com pouco sumo. Para além das primeiras filas, compostas por uma grande comunidade de adolescentes, não parecem ter ganho muitos mais fãs.

50 min de actuação passaram tão rápido e agora resta-nos apenas esperar que os A Day To Remember não demorem mais 20 anos para regressar a Portugal.

Os Falsos Headliners

Quem não estivesse totalmente familiarizado com o cartaz e chegasse à Sala Tejo após o início do concerto dos A Day To Remember, certamente que diria que estávamos perante os cabeça de cartaz da noite. Com uma moldura humana considerável a debitar as suas letras e a entoar os riffs percebeu-se bem que a estreia em Portugal da banda de metalcore/pop punk da Florida era há muito esperada. O clássico “The Downfall of Us All” deu início ao concerto, que teve a sua setlist maioritariamente centrada nos álbuns ” Homesick” (2009) e “What Separates Me from You” (2010). Entre canhões de t-shirts, canhões de fumo, e rolos de papel higiénico a voar, os A Day To Remember fizeram a festa e brindaram-nos com temas mais antigos como “I’m Made of Wax, Larry, What Are You Made Of?” e “All Signs Point to Lauderdale” e outros mais recentes como “Paranoia” e “Resentment” dos álbuns “Bad Vibrations (2016) e “You’re Welcome” (2021) respetivamente. 50 min de actuação passaram tão rápido e agora resta-nos apenas esperar que os A Day To Remember não demorem mais 20 anos para regressar a Portugal.

Déjà Vu

A procura insana de bilhetes para um concerto esgotado há meses, bem como as longas filas que se desenrolavam no Parque das Nações desde as 8:00 demonstravam que estávamos perante um fenómeno musical digno de uma espécie de Beatlemania ou duns Tokio Hotel circa 2008. Muitos ficaram de fora devido à alteração do local do concerto, que passou de uma sala maior, o Campo Pequeno, para uma mais pequena, a Sala Tejo, devido ao facto da primeira estar ocupada com outra produção. Contudo, não deixa de ser curioso que numa tour que tem passado por várias arenas europeias o concerto de Lisboa tenha sido , talvez, “o mais pequeno”.

A temática por detrás da tour tem que ver com um mundo futurista biónico, inspirado claramente por “Post Human: Survival Horror”, o trabalho que estão a promover. Ao longo do concerto somos levados numa viagem imersiva por um servidor informático cujo guia é um humanóide feminino, ao estilo de Sophia, e que nos indica os procedimentos que devemos adotar para cada música que a banda toca. Com uma setlist bastante semelhante à que tinham apresentado no VOA, o concerto teve início com “Can You Feel My Heart”. Com o público já naturalmente galvanizado após a primeira música, Oli Sykes demonstrou que estava a disposto a repetir o que tinha feito no concerto do ano passado, ou seja, tentar comunicar com o público em português açucarado, que é como quem diz português do Brasil. Seguiram-se “Happy Song”, “Teardrops”, “MANTRA” e a energia da Sala Tejo transbordava para lá dos 11 (dixit Spinal Tap). Como já era expectável, a primeira novidade surgiu com “sTraNgeRs”, cujo refrão «We’re just a room full of strangers» representa essa contradição que é estar sozinho num concerto de Bring Me The Horizon, não conhecer ninguém, mas ao mesmo tempo sentires que estás em casa e que fazes parte daquela grande família.

“Bring Me The Horizon Just Rocked My F*cking World” era a mensagem que se podia ler no ecrã gigante enquanto muitos, tal como nós, ainda processavam tudo aquilo que tinham acabado de experienciar.

“Sempiternal” (2013) é naturalmente o álbum mais aclamado pelos fãs, e por isso não é de estranhar que “Shadow Moses” tenha sido entoada de forma catártica por todos os presentes. Por esta altura, já íamos a meio do concerto, e Oli Sykes começou a brincar com o público ao perguntar que músicas é que queriam ouvir, naturalmente todos gritaram por temas da fase mais pesada da banda, e que já não são tocados com frequência, como é o caso de “Pray For Plagues” e “Chelsea Smile”, aliás Matt Nicholls ainda arranhou o fill de bateria de “Chelsea Smile” e Oli sacou uns growls, mas tudo não passou de um “picanço”. “Follow You” trouxe o momento mais romântico da noite, ou não estivéssemos ainda a ressacar do dia anterior. Apenas com guitarra acústica o tema foi cantado em uníssono e trouxe o momento já cliché, mas sempre eficaz, de acender as luzes dos telemóveis. Seguiu-se “Drown”, que, para muitos dos que chegaram às 8:00 para poder estar na frente, foi certamente a mais esperada, pois marca o momento em que Oli desce até às grades para distribuir high fives e abraços. Estava dado o final antecipado, mas ainda ficava a faltar o encore, que surgiu com “Obey”, tema que colocou Yungblud no mapa, “Sleepwalking”, a segunda novidade em relação ao concerto do VOA, é “Throne” que fechou a noite de forma apoteótica.

“Bring Me The Horizon Just Rocked My F*cking World” era a mensagem que se podia ler no ecrã gigante enquanto muitos, tal como nós, ainda processavam tudo aquilo que tinham acabado de experienciar.

SETLIST

  • Can You Feel My Heart
  • Happy Song
  • Teardrops
  • MANTRA
  • Dear Diary
  • Parasite Eve
  • sTraNgeRs
  • Shadow Moses
  • Kingslayer
  • DiE4u
  • Follow You
  • Drown
  • Obey
  • Sleepwalking
  • Throne