Quiçá procurando uma reformulação na sua discografia, Cate Le Bon trocou a borrasca, quase constante, do País de Gales pelo sol de Los Angeles. E “Crab Day” reflecte, de facto, banhos indolentes de luz californiana. Não significa isto que o aparente minimalismo que reveste o álbum dê mostras de preguiça nos arranjos das canções, cuja excentricidade continua a exigir bastante predisposição auditiva ao ouvinte. E esse é o busílis deste álbum, senão mesmo da discografia de Cate Le Bon: ou se gosta ou odeia.
Crab Day é um álbum mais intrigante que cativante.
Estranha, na sua dinâmica musical e na desconstrução musical que procura nos seus arranjos, Cate Le Bon faz de “Crab Day” um álbum mais intrigante que cativante. Mas há momentos em que a epistemologia de Cate Le Bon que se faz doxa, como na condução ao piano de “I Was Born On The Wrong Day”. E no cruzamento da sua suavidade vocal, com uma aparente cacofonia de guitarras e sopros, sobre linhas rítmicas directas (até bruscas em alguns momentos) remete-nos para um onirismo em que pensamos escutar Grace Slick sobre composições post-punk.
No final, é difícil perceber se “Crab Day” é genial ou pretensioso, emocionante ou entediante. Talvez seja um pouco de cada coisa…