Já se sabe o quão elevados são os níveis de pomada sonora e intensidade física em concertos de hardcore. No entanto, ainda que possa ser redundante referi-lo, a actuação de Code Orange foi verdadeiramente devastadora. Touché Amoré mais sublimes.
Com as trocas de horários, não vimos Somber Rites. E, sucintamente, a actuação dos Carbine foi de uma brutalidade inexplicável, que deixou a sala a ferver! Já os Code Orange, para a AS, os reis na noite, têm conquistado uma reputação cada vez maior no underground e concertos como aquele que deram no RCA Club ajudam a perceber porquê. Na sua estreia em Portugal, com uma ferocidade extrema na prestação de cada músico, a banda potencia a miscelânea de estéticas presente na sua sonoridade e apenas deu tréguas ao público durante um único tema (num daqueles mais “suaves”, com a voz de Reba Meyers como protagonista), “Bleeding In The Blur”, do último álbum. “Forever”, aliás, foi o olho do furacão na setlist: Forever; Kill The Creator; My World; Bleeding In The Blur; The New Reality; I Am King; Bind You; Slowburn; Spy e The Mud.
Surpreendente é ver o baterista Jami Morgan arrasar quer o drumkit, quer as vocalizações dos temas mais carregados de esteróides. Desde o peso lamacento do sludge a complexas estruturas industriais sincopadas, a banda deu tudo o que tinha no máximo das suas capacidades.
Se já há uma certa aura emo no pós hardcore dos Touché Amoré, mais acentuada ficou em contraste com a violência eléctrica dos Code Orange. Devido à brutalidade do concerto anterior, os maiores rasgos luminosos nas canções dos Touché Amoré soaram com menos impacto. E talvez por isso, a sala se tenha ressentido, com abandono de algum público.
Ainda por contraste, sobressaiu uma certa melancolia, vertida em melodia, desta banda de Los Angeles. Certamente, reflexo de “Stage Four”, o álbum onde o vocalista Jeremy Bolm pratica catarse, em relação à morte da sua mãe. Extremamente emocional e com um som de guitarras cristalino, apesar do menor peso musical, a actuação dos Touché Amoré foi ainda assim fiel às raízes hardcore da banda que assinou também uma estreia em Portugal e um excelente concerto.
Boas bandas, bons discos, bom som, boa sala. Assim é natural os concertos encherem.