Cult Of Luna + Process of Guilt
2013-01-29, Paradise Garage, LisboaSabia-se de antemão que “Fæmin” não desiludiria e, tal como têm feito desde que saiu o álbum, os PROCESS OF GUILT sustentaram na totalidade de composições que perfaz esse monumento megalítico a ideia de que a música será o único sector em que Portugal está ajustado na Europa. O facto de o volume sonoro da sua actuação ter estado uns decibéis abaixo do que vem sendo costume nos seus concertos acabou por ter uma consequência estranha – uma nova perspectiva auditiva. De facto, se faltou uma cama poderosa de graves, com o baixo especialmente desaparecido, isso acabou por fazer sobressair a dinâmica harmónica das guitarras e outra definição na arquitectura sónica. Sem a opressão barbárica do seu peso, foi-nos possível discernir mais facilmente a subtileza melódica de “Fæmin”.
No dia em que foi editado “Vertikal” naturalmente que o setlist dos CULT OF LUNA incidiu sobre esse novo álbum. Três guitarras, baixo e synths [com toneladas de processamento] e duas baterias poderiam ou tornar-se num pesadelo cacofónico, isto numa sala com as limitações acústicas do Garage, ou então criar uma parede atmosférica de som para arrasar com algumas dúvidas que têm surgido entre os fãs da banda em relação a este recente trabalho. Aconteceu a segunda hipótese. O equilíbrio harmónico e dinâmico que a banda apresentou fez expandir o som que nos é dado nos seus álbuns, criando um poder que em momentos exerceu um fascínio sobrenatural sobre o público. Apesar de a noite ser de “Vertikal”, os CULT OF LUNA apoiaram-se consideravelmente no anterior “Eternal Kingdom” foi logo em “Ghost Trail” que a Lua atingiu o seu zénite – aqueles tappings que pontuam melodicamente o tema são verdadeira luz. “Owlwood” seria outro dos melhores momentos. Mais para trás ainda ouvimos “Finland” como o verdadeiro exemplo do poder que as duas baterias acrescentaram aos temas, isto se pensarmos na dimensão que a entrada percussiva do tema pode ganhar com pancadas gémeas nos timbalões.
Sem discursos ou interacção verbal, os CULT OF LUNA deixaram a sensação de que 80 minutos são o tempo suficiente para se guardar saudade.
NOTA: O Garage foi sempre um elemento contra as bandas. Um cheiro pestilento invadiu a sala de forma permanente, alarmes dos detectores de fumo (?) a soarem durante as actuações, a cerveja de pressão existia de forma ténue e a de garrafa custava ¼ do preço do bilhete…