Depois de vários apontamentos que o realizador foi fazendo para bandas-sonora, muitas dos seus próprios filmes, decidiu assumir a realização dum um álbum de música inteiro num formato normal. Se David Lynch é considerado um cineasta de eleição, podemos dizer que este álbum está à altura dessa reputação se o virmos como músico – e esse era realmente o desafio: provar que este disco não era um exercício insubstancial de ego.
Vocalmente Lynch não é deslumbrante, como sucede com a convidada Karen O (Yeah Yeah Yeahs), no tema de abertura “Pinky’s Dream”, mas responde bem às exigências do álbum e com bom gosto no processamento – desde vocoders a filtros de EQ.
“Crazy Clown Time” vai ficando progressivamente mais estranho. Com ambientes aproximados a algumas coisas de Cave/Ellis ou Loud Reed, embora sempre mais musical que este último. Nos temas guiados a guitarra e com a programação de bateria bem suja somos transportados para um sentido de bad trip, a encimar essa sensação está o tema título do disco. E nessas alturas é impossível não associar a música com a bizarria de muitas das películas de Lynch, de pensar o álbum como um veículo cinestésico. Não deixa de ser curioso perceber como a personalidade de um artista se mantém em duas plataformas criativas distintas.
O grande mérito do álbum é o grande groove que Lynch e Dean Hurley conseguiram construir de forma transversal a tanta fusão musical, tornando o álbum uma obra sólida desde o início. Liricamente sempre interessante, com expoente máximo em “Strange And Unproductive Thinking”.