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EVIL LIVE | De MammothWVH a Alter Bridge, Promessas & Certezas

EVIL LIVE | De MammothWVH a Alter Bridge, Promessas & Certezas

2023-06-28, Altice Arena
Nero
Inês Barrau
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Um cartaz que se pretendia eclético, mas que acabou por se revelar algo inconsistente. Comum a quase todas as bandas no primeiro dia do Evil Live Festival foi um som apenas nos mínimos exigidos. Eis o nosso olhar sobre os concertos de Mammoth WVH, Vended, Elegant Weapons, Soulfly e Alter Bridge.

Nos dias 28 e 29 de Junho de 2023, o Evil Live Festival trouxe à Altice Arena, em Lisboa, um cartaz multigénero dentro da música pesada, naquela que foi a sua edição inaugural. O conceito passou pela diversidade de géneros e subgéneros, com propostas que foram do mainstream ao alternativo, dos riffs e das guitarradas às novas tendências mais contemporâneas, dos grandes nomes estabelecidos ao talento emergente.

Talvez as coisas tenham sido algo esquizofrénicas, sendo todas apresentadas num único palco e tratando-se, afinal, num número reduzido de bandas. Uma constatação simples, bastando para isso olhar para o imenso cartaz do vizinho Resurrection Fest (que, certamente, facilita a logística deste evento).

Dito isto, ninguém se pode queixar muito quando há um promotor disposto a meter a cabeça no cepo e trazer a Portugal os Slipknot e, acima de tudo, uma reunião dos Pantera, de homenagem aos falecidos irmãos Dimebag e Vinnie Paul. Sobre os headliners já nos pronunciámos e podem ler a reportagem dos Pantera e também a reportagem dos Slipknot. Vamos então olhar aos restantes concertos, em cada um dos dias. Eis o relato do dia 28 de Junho…

Ninguém se pode queixar muito quando há um promotor disposto a meter a cabeça no cepo e trazer a Portugal os Slipknot e, acima de tudo, uma reunião dos Pantera.

MAMMOTH WVH

Pensar-se-ia que o entusiasmo em torno do concerto de Mammoth WVH seria maior. Afinal, o jovem músico é o único filho de Eddie Van Halen e tocou mesmo com o pai e com o tio, o baterista Alex Van Halen, na última fase da lendária banda, que inclui ainda o disco “A Different Kind Of Truth” e “Tokyo Dome Live in Concert”, o segundo álbum ao vivo na discografia dos Van Halen e o único deste género com o vocalista original, David Lee Roth. A solo, Wolfgang chegou a Lisboa com um álbum no bolso e outro quase a estrear – “Mammoth II” tem edição no dia 4 de Agosto. Num concerto que acabou por saber a muito pouco (não ultrapassou a meia-hora) o álbum em advento esteve em destaque no alinhamento, através dos singles “Another Celebration At The End Of The World”, “Take A Bow” e “Like A Pastime”. O facto de ter andado em digressão com Mark Tremonti é mais evidente na sua estética musical, que bebe mais do pós grunge dos Alter Bridge e do pop rock artsy dos Incubus (porque não?) que do explosivo hard rock dos Van Halen.

Ainda assim, Wolfgang, que assume a maioria dos solos de guitarra, faz por revelar (de forma inconsciente ou não) alguns licks de Eddie Van Halen. Claro, a intenção não passa por uma colagem e isso nem seria possível, mas talvez como uma forma de ter presente a memória do guitarrista mais importante de sempre na música rock, a seguir a Jimi Hendrix, e, mais que isso, do seu querido pai. Para um sentimentalão como neste que vos escreve, foi tocante observar isso. Também foi gratificante perceber que Wolfgang tem uma forma bem old school de fazer as coisas. Ao contrário de uma parcela significativa das bandas presentes no festival, apoiou-se pouco nos backing tracks e revelou uma banda de enorme coesão melódica e rítmica, acompanhado pelos guitarristas Frank Sidoris e Jon Jourdan, o baixista Ronnie Ficarro e o baterista Garrett Whitlock.

Mammoth WVH teve ainda um dos melhores sons de todo o festival, soando tudo com nitidez e articulação. “You’re To Blame” foi a malha que soou com mais groove e se quiserem ouvi-la ou relembrá-la, vão perceber o que queremos dizer com os guitar licks que lembram Eddie Van Halen. E falando de homenagem, a guitarra de assinatura de Wolfgang Van Halen com a EVH Gear é um modelo semi-hollow com um design inovador na marca, cuja designação (SA-126) honra o aniversário de Eddie, nascido a 26 de Janeiro. O instrumento é ainda um protótipo e o acabamento preto matizado foi uma novidade. Podem descobrir tudo aquilo que já se sabe sobre esta guitarra neste link.

VENDED

Auto-descritos como «cinco músicos de Des Moines, no Iowa, em busca do domínio mundial», os Vended foram criados em Fevereiro de 2018 e são actualmente compostos por Cole Espeland e Connor Grodzicki nas guitarras, Griffin Taylor na voz, Simon Crahan na bateria e Jeremiah Pugh no baixo. Após dois anos de empenho e trabalho árduo, deram um primeiro concerto esgotado no Vaudville Mews, a 8 de Março de 2020, mas, apenas alguns dias depois, o encerramento mundial devido à COVID-19 forçou-os a um longo hiato não planeado. Voltaram por fim à carga em Novembro de 2020, com a sua primeira aparição no Knotfest, e os jovens músicos mostraram-se mais fortes e famintos que nunca, embarcando de seguida numa muito bem sucedida digressão europeia. O EP de estreia “What Is It/Kill It”, que foi lançado a 12 de Novembro, foi produzido por Griffin Landa, dos The Acacia Strain.

Bom, o CV dos Vended prometia. O pedigree de Griffin Taylor (sim, filho de Corey Taylor) também causava expectativa. Este tipo de afirmações é sempre arriscado, mas é quase seguro dizer que este concerto foi uma enorme decepção. O som FOH esteve catastrófico e, pelo caos da actuação dos músicos, o som de palco não terá estado muito melhor. A banda revelou-se insegura, pouco coordenada. É inegável o poder de temas como “Dead To Me” ou “Overall”, por exemplo. Todavia, os esmagadores riffs do primeiro ou os vibrantes harmónicos do segundo viram-se completamente embrulhados numa amálgama indistinta. O som teve poucas melhorias ao longo do alinhamento. Minima de malis, a banda conseguiu equilibrar a sua performance e ainda foi a tempo de fazer danos no pit, com “Antibody” e, acima de tudo, com as vagas de brutalidade arrasadora de “Asylum”.

ELEGANT WEAPONS

A julgar pelos currículos individuais dos seus membros, Elegant Weapons têm tudo a seu favor para deixarem uma marca de peso. A banda – que inclui na formação o vocalista Ronnie Romero (que já passou pelos Rainbow e MSG), o guitarrista Richie Faulkner (dos Judas Priest), o baixista Rex Brown (dos Pantera, ex-Down) e o baterista Scott Travis (também dos Judas Priest) – lançou em Maio o álbum de estreia, produzido pelo influente Andy Sneap. Não era preciso, portanto, fazer grandes contas de cabeça para antever uma descarga de rock/metal bem old school.

«Sempre quis fazer um disco com o Scott fora dos Judas Priest e juntá-lo ao som e à atitude inconfundível do Rex Brown deu origem a algo especial», explicava Faulkner, o timoneiro do quarteto. «Tê-los aos dois como sessão rítmica é o sonho de qualquer guitarrista. Depois, a cereja no topo do bolo é o Ronnie Romero, que faz parte de uma nova geração de vocalistas instantaneamente clássicos». Quanto ao que esperar a nível estético, Richie garantia que se podia esperar «uma mistura de Jimi Hendrix, Priest, Sabbath, Ozzy a solo e Black Label Society – os temas são pesados, cativantes, com uma boa dose melódica».

No Evil Live, nem Rex Brown (por motivos óbvios), nem Scott Travis. No seu lugar estavam o baixista Dave Rimmer e o baterista Christopher Williams. Hendrix ou BLS também não será aquilo em que logo se pensa ao ouvir as malhas. Será mais correcto pensar, de facto, em Judas Priest e, principalmente nos Rainbow e nos Sabbath nas respectivas eras Ronnie James Dio e até na imponente discografia do lendário vocalista a solo. É essa tremenda voz a referência de Ronnie Romero, e são esses épicos riffs e sentido melódico a que Faulkner se agarra. Claro, nos Elegant Weapons não há ainda canções que cheguem perto sequer desse calibre, mas Faulkner assumiu protagonismo com vibrantes solos de guitarra. Aliás, nesse aspecto, Faulkner foi o maior protagonista de uma noite em que Mark Tremonti e Zakk Wylde também subiram a palco.

É esse o encanto do heavy metal clássico, quando executado como mandam os livros e com simplicidade, com malhas ou sem malhas, sobram sempre motivos de entusiasmo e gratificação instantânea. Isto por mais que os Elegant Weapons tenham estado completamente deslocados no cartaz, numa coisa, Faulkner estava totalmente certo, ao falar sobre o projecto na primeira pessoa, Ronnie Romero é mesmo um tremendo vocalista.

Vale ainda a pena referir que tão excitante como os solos de Richie Faulkner foi a sua Flying V Custom, modelo que a Gibson até estreou no mercado no dia do concerto em Lisboa! O modelo que é limitado a 100 réplicas possui várias características notáveis, a maioria extraída da assinatura original de Faulkner com a Epiphone. Desde logo, o pickguard em ambas as faces da guitarra, criando uma forma simétrica. O controlo de pickups (modelos de assinatura de Faulkner com a EMG) não podia ser mais simples, um switch e um botão de volume (normalmente as Flying V apresentam três knobs). A ponte é um sistema Floyd Rose. Ainda não há informação de quando chegará um modelo Gibson Standard ou até uma versão Epiphone, mas se tiverem os bolsos fundos, podem ir descobrir a Pelham Blue, com maior detalhe, na página oficial da Gibson.

SOUFLY

Figura marcante da música extrema, Max Cavalera tornou-se uma fábrica riffs de qualidade superior nos anos 1980, como membro fundador das lendas do thrash Sepultura e, mais tarde, como líder e timoneiro dos muito aplaudidos Soulfly. Mais de duas décadas após ter surgido em cena, ainda na ressaca da cisão do músico brasileiro com o resto do projecto que tinha criado nos 80s, a vida pós-“Roots” do Cavalera mais velho segue o seu percurso com uma passada firme – e, em 2023, continua a gerar um zelo que se aproxima do culto. A banda liderada pelo intrépido veterano apoia o seu ataque sónico em vários subgéneros da música pesada e mistura-os com um balanço demolidor, velocidade thrash e influências world music. O resultado é um cocktail explosivo, que conseguiu apanhar o mundo de surpresa com a estreia homónima de 1998 e abriu caminho para uma sequência de álbuns tão elogiados como “Primitive”, “Prophecy”, “Conquer”, “Archangel”, “Ritual” ou o mais recente “Totem”, editado em 2022 pela Nuclear Blast Records.

“Totem” apenas se escutou em duas ocasiões, “Supersition” e “Filth Upon Filth”. Portanto, o alinhamento foi preparado para a porrada, como diria Max (ou qualquer headbanger do povo irmão). Só jarda e ainda reforços de peso, através da evocação dos Nailbomb (“Wasting Away”) e dos próprios Sepultura (“Refuse/Resist”). Numa cimeira cheia de ligações familiares (Wolfgang Van Halen e Griffin Taylor, como vimos) como foi o Evil Live Fest, nos Soulfly esteve em destaque o filho de Max: Zyon Cavalera. O jovem baterista, digno dos enormes predicados do seu tio, foi demolidor e a grande âncora para sentir o impacto da propulsividade tribal da banda, visto que a qualidade sonora deixou, uma vez mais, bastante a desejar.

Ainda assim, bom ou mau som, é impossível não sentir o voodoo esmagador de temas como “Bleed”, “Boom”, “Jumpdafuckup” ou “Eye For An Eye”, estas últimas as malhas que encerraram um concerto intenso onde, ainda mais com o auxílio da língua, Max Cavalera controlou facilmente a dedicação do pit. «Porra, c*aralho!»

ALTER BRIDGE

Comandados pelos riffs pungentes de Mark Tremonti e pela singular voz de Myles Kennedy, os norte-americanos Alter Bridge contam já quase duas décadas numa carreira bem sólida. Um percurso sem interrupções e dramas, apoiado em canções construídas a partir de melodias de guitarra e vocalizações fortes, alicerçadas em ganchos orelhudos (a raiar a pop), que lhes valeram enorme sucesso à escala global. Registando pontuações máximas em revistas como a Total Guitar e a KERRANG!, digressões esgotadas tanto nos Estados Unidos como na Europa, aparições no VH1 e até na capa da influente Classic Rock, é exatamente nessa fórmula testada com sucesso que os músicos têm baseado o seu output criativo. O mais recente álbum do grupo, “Pawns & Kings”, foi editado a 14 Outubro de 2022.

No entanto, as coisas dependem sempre de contextualização. Portanto, se dizíamos que os Elegant Weapons estavam algo deslocados ali no meio dos Vended e dos Soulfly, o que dizer da suavidade dos Alter Bridge entre os últimos e os headliners? Indiferente a isso pareceu a banda e até uma legião de seguidores que parece ter-se focado apenas nesse concerto, fazendo coro com Myles Kennedy ao longo de todo o alinhamento. Mas talvez esse mesmo alinhamento se tenha revelado o maior inimigo da banda: a maioria do concerto acabou por ser, principalmente inserido neste cartaz, excessivamente mid-tempo e, sejamos honestos, melodramático. Para aqueles que não são fãs devotos da banda, um sentimento de fadiga foi-se alastrando, potenciado pela saturação de médios no som e por alguma estridência.

E sentir isso é uma pena, pois acaba por ensombrar um pouco uma banda com músicos de excepção. Tão à vontade com uma guitarra nas mãos como a cantar (e a sua voz ainda preserva intactas as suas qualidades) Myles lidera com os seus modelos PRS em temas como “Cry Of Achilhes” ou “Blackbird”. Mark Tremonti é universalmente aclamado como um dos grandes guitar heroes contemporâneos e só um surdo poderia negar o quão vibrante o músico consegue ser em temas como “Metalingus” ou “Open Your Eyes”. A voz e as capacidades de Myles e Tremonti são catapultadas por uma secção rítmica coesa e discreta, mas nunca simplória, personificada no baixo de Brian Marshall e na bateria de Scott Phillips.

SETLIST

  • ALTER BRIDGE
    Silver Tongue
    Addicted to Pain
    This Is War
    Cry of Achilles
    Sin After Sin
    Come to Life
    Blackbird
    Pawns & Kings
    Isolation
    Rise Today
    Metalingus
    Open Your Eyes