Quantcast
EVIL LIVE | Slipknot, Hiperbrutalidade

EVIL LIVE | Slipknot, Hiperbrutalidade

2023-06-29, Altice Arena
Nero
Inês Barrau
9
  • 10
  • 10
  • 10
  • 7

Ano após ano, digressão após digressão, concerto após concerto, os Slipknot não dão sinais de abrandar. Aliás, na segunda noite do Evil Live Festival e com um alinhamento focado no seu álbum de estreia (a celebrar o seu 24.º aniversário), mostraram que será necessário começar a criar nova adjectivação para a intensidade brutal das suas passagens por Lisboa.

Houve uma época em que os Slipknot visitavam amiúde o nosso país. A banda estreou-se em Portugal no então denominado Pavilhão Atlântico, em 2001, tendo logo em 2002 actuado no festival da Ilha do Ermal. Em 2004, fez parte do cartaz da primeira edição do Rock In Rio-Lisboa. Mas depois de 2009, no Alive, seguiu-se um intervalo de 10 anos, interrompido no VOA, festival em que foram os cabeças-de-cartaz do dia 4 de Julho de 2019. Felizmente, a tendência de intervalos mais curtos entre passagens no nosso país parece ter sido retomada e no passado dia 29 de Junho de 2023, a monstruosa banda do Iowa regressou, uma vez mais, à Altice Arena para liderar o cartaz da primeira edição do Evil Live Festival.

Precursores do nu-metal, são um dos nomes mais icónicos e bem sucedidos da vaga que, na segunda metade da década de 90, tomou de assalto o cenário da música mais extrema. Originários de Des Moines, os nove mascarados estabeleceram-se rapidamente como uma das propostas mais enigmáticas e provocadoras da era moderna da música, que viria a marcar toda uma geração, de público e de músicos. Ao longo das últimas duas décadas cresceram, transformaram-se num fenómeno de popularidade à escala mundial e extrapolaram todos os rótulos.

Foram nomeados para dez Grammy Awards (vencendo o galardão em 2006 com “Before I Forget”), arrecadaram 13 discos de platina e 44 de ouro, e contam actualmente com 2,5 biliões de visualizações no YouTube. A sua base de seguidores é hoje tão firme como militante e aguarda ansiosamente pelo anunciado novo álbum. “We Are Not Your Kind” chegou em Agosto de 2019 e, logo em 2022, foi a vez do mais curto e focado álbum da banda, “The End, So Far”. Todavia qualquer um destes discos esteve apenas sugerido no alinhamento do Evil Live que se focou no disco que mudou as regras do jogo: o homónimo trabalho de estreia, de 1999 (que nesta noite celebrava o seu 24.º aniversário).

Talvez por isso fique a sensação de que este concerto foi ainda mais esmagador que aquele da sua anterior passagem em Lisboa.

Talvez por isso fique a sensação de que este concerto foi ainda mais esmagador que aquele da sua anterior passagem em Lisboa. Também é certo que se tornou quase corriqueiro referir (em todos os meios) que os Slipknot esmagaram Lisboa, na altura de escrever as reportagens. Bom, receber repetidamente esse tipo de adjectivação de forma tão unânime, diz-nos a lógica, tem que ver com a capacidade real da banda para o fazer. E a verdade é que, desta vez, até gostaríamos de ter referido os Meshuggah como o grande destaque do segundo dia do Evil Live, para variar um pouco, mas acontece que essa intenção foi atropelada assim que os Slipknot, após o intróito “Prelude 3.0”, deram as primeiras notas de “The Blister Exists”. Tudo explosivo, tudo brutal, tudo esmagador. Tudo fácil de descrever, seguindo esta tendência de adjectivação. Mas, então, como referir aquilo que se instalou a partir de “The Devil In I”?

A densidade e melancolia das hipnotizantes progressões melódicas do tema extraído ao álbum de homenagem ao malogrado Paul Gray foram exponenciadas pelo desenvolto trabalho visual e, quando chegou o terceiro acto do tema, com os seus demolidores blastbeats, Jay Weniberg tornou-se a fúria, o senhor da tempestade! É preciso ser lírico, porque a execução deste tema foi poética. E a partir daqui o concerto foi redimensionado e catapultado a outro patamar.

É preciso ser lírico, porque a execução deste tema foi poética. E a partir daqui o concerto foi redimensionado e catapultado a outro patamar.

Uma sensação que se tornou certeza quando, logo de rajada, Weinberg reencarnou Joey Jordison em “The Heretic Anthem” com uma intensidade maníaca. O baixo de Alessandro Venturella soa com o calor abrasivo e grudento do alcatrão e as guitarras de Mick Thomson e Jim Root são como fresadoras, na usinagem dos riffs. No final de tudo, Weinberg soa como o imparável rolo compressor do pavimento que começou a ser feito em ’99, assim se escuta os temas daí extraídos: “Eyeless” e “Waint And Bleed”. Vale aqui a pena fazer menção à nova assinatura de Jim Root com a Charvel Guitars, modelo que foi abundantemente usado durante o concerto, ainda que alternado com as suas assinaturas Jazzmaster. No tema final, “Spit It Out” surgiu com uma Gibson Flying V num alvo Olympic White. Thomson deixou de ser endorser Jackson Guitars e a sua Soloist deu lugar a uma ESP que será um protótipo de um novo modelo de assinatura.

De volta ao concerto. Escuta-se “Unsaited” e “Snuff”, tudo blasfemo, tudo brutal. O pit em polvorosa demência, a Altice Arena a ecoar os versos de Corey Taylor. O frontman refere-se a Craig Jones e aos recentes episódios em torno no 9.º membro dos Slipknot. O Clown está mesmo a cuidar da sua esposa, no Iowa e fora destas datas, mas fica a promessa de que estrá seguramente presente no próximo concerto em Lisboa. Regressa o álbum homónimo com “Purity” e regressa a hiperbrutalidade (digamos assim) com “People=Shit”. O estado febril de devoção que se vive no pit começa a alastrar a toda a plateia. É esse o efeito de um breakdown demolidor.

Sem um momento para respirar, o álbum mais vetusto da banda é uma vez mais evocado, via “Surfacing”. Depois a antémica “Duality” e por fim, como tudo começou, “Spit It Out” – com a sempre impressionante coreografia do público, nesse estranho ritual do salto sincronizado. Não haverá ninguém que não tivesse ficado com vontade de o repetir já hoje…

SETLIST

  • The Blister Exists
    The Dying Song (Time to Sing)
    Liberate
    Yen
    Psychosocial
    The Devil in I
    The Heretic Anthem
    Eyeless
    Wait and Bleed
    Unsainted
    Snuff
    Purity
    People = Shit
    Surfacing
    Duality
    Spit It Out