A festa de Mdou Moctar
2018-03-20, Musicbox, LisboaMdou Moctar, Madassane Ahmoudou e Hafid Zouaoui na bateria encheram o Musicbox para mais uma viagem ao Sahara.
A passagem de um artista como Mdou Moctar por Lisboa poderá encarar-se, por esta altura, como previsível: a progressão natural de um sub-género, de fusão do afrobeat e de um género mais ocidentalizado de rock, que tem ganho visível apelo junto do público português, e que por isso mesmo vem sendo alvo de apostas cada vez mais frequentes. Uma faceta especialmente dançável da world music norte-africana, que tem encontrado adesão por cá às mãos de grupos como os malienses Songhoy Blues (que por duas vezes marcaram presença no país em concerto no ano passado) ou Tinariwen.
A força e perseverança deste renovado interesse estará ainda por provar-se, mas cá estamos como testemunhas do privilégio que é termos por cá grupos de países tão improváveis e com tão distinta sonoridade. Moctar e sua banda trazem ao palco uma identidade que nos soa a familiar pelo seu rock gingão (e uma mais que ligeira reverência a Jimi Hendrix nas deambulações à guitarra do frontman), mas que esconde uma profunda reverência às raízes Tuareg nos modos musicais e letras que, segundo consta, endereçam-se às questões contemporâneas da África Ocidental – impedidos, como nos vemos, pela barreira linguística entre o português e o tamasheq, tomamos o seu groove e energia em palco como sinais de boa fé.
Mas tudo isto é alheio à questão central a salientar: a inegável qualidade destes músicos em palco numa muito bem-vinda digressão pelo velho continente. Embora por vezes repetitiva e pouco imaginativa na progressão das suas estruturas, a fórmula trazida por Mdou Moctar a Lisboa dificilmente deixaria alguém em sintonia com os seus propósitos desapontado. E ainda que pudessem não impressionar a alguns puristas em busca de maior “autenticidade”, o facto é que a palavra de ordem – a de festa – falaria sempre mais alto.
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