Festival Sudoeste: 2º dia
2012-08-03, Zambujeira do MarParece que as nossas preces de ontem foram atendidas e que os deuses da música foram generosos e nos ofereceram uma noite de sintonia entre bandas e público. Na Herdade da Casa Branca, na Zambujeira do Mar, cerca de 30 mil pessoas tiveram direito a uma grande noite de festival.
GLEN HANSARD
Tal como no primeiro dia oficial do Festival Sudoeste TMN, o palco TMN “acordou” tarde. Excessos da noite anterior ou culpas do relógio biológico que anunciava horas de jantar, foi com uma plateia ainda em número reduzido que o irlândes Glen Hansard foi recebido na abertura das festividades do segundo dia. Com poucos mas bons, o músico que compôs a banda sonora de “Once”, filme que protagonizou, aqueceu o palco com uma actuação inesperadamente triunfante. Acompanhado de uma guitarra e uma quanta dose de simplicidade, houve lugar para a apresentação do álbum “Rhythm and Repose”, evocações à inspiração do “boss” e a surpresa do dueto com Eddie Vedder no tema “Drive All Night”, de Bruce Springsteen. A abertura ideal para um palco onde a variedade de estilos iria ser privilegiada.
RICHIE CAMPBELL
Vai-se embora a guitarra acústica, chega o Reggae, chega mais público e a boa onda. Richie Campbell jogou em casa! O espírito do Sudoeste adequa-se na perfeição ao estilo que marca as actuações do português e a casa encheu-se para o receber. Com um palco cheio de som e movimento, Richie Campbell não defraudou as expectativas, cumprindo com uma actuação repleta de competência, aliada a boa disposição. Como habitué que já é de festivais, já não se deixa intimidar com a grandeza de um palco desta envergadura. Sabe o que o público quer e deixa-os saciados, acabando ele próprio, assim como a sua banda, por também apreciarem o espectáculo. É sempre bom podermos assistir a uma banda portuguesa num palco principal, principalmente quando a prestação é tão boa.
JAMES MORRISON
O menino é bonito e a voz não lhe fica atrás. O concerto provou que as miúdas são quem manda e os rapazes tiveram que ouvir o que, com alguma dose de preconceito à mistura, dizem não gostar – prova disso é assistir à forma como acompanha as namoradas nos singles mais badalados do artista e constatar que sabem as letras de cor. Preconceitos à parte, James deu mesmo um bom concerto. Não falhou uma nota, deu tudo em palco e ofereceu uma boa prestação ao vivo. É o que se exige de um concerto.
EDDIE VEDDER
Após a surpresa no concerto de Glen Hansard, ei-lo sozinho em palco. “Eddie! Eddie! Eddie!” era o que se ouvia, mas a herdade rapidamente se silenciou respeitosamente para ouvir os acordes do seu ukulele. Eddie Vedder usufrui de um estatuto que pouquíssimos músicos se podem gabar, principalmente em Portugal, onde é muito acarinhado, até porque escolhe este pequeno grande país para fazer uma das suas actividades preferidas, o surf. Já tem uma mão cheia de amigos por cá e até fez referência ao facto de terem privado os surfistas de uma praia na Ericeira [Ribeira d`Ilhas], pedindo o apoio de todo o público para se manifestar contra. Na verdade, qualquer outro músico que se apresentasse com aquelas primeiras músicas corria o risco de ser vaiado. Na verdade, ninguém queria saber de ukeleles. Apenas por respeito se aguentou aquela música chata. Toda a gente vibrou com temas de Pearl Jam e com a tão aclamada banda sonora de “Into the Wild”, cujos temas mais apreciados tocou. Não faltaram as típicas leituras em português, quase ao jeito de um Papa. Será que ele pensa que ainda não percebemos Inglês, ou será que gosta de nos mimar? Talvez por isso também não tenha faltado uma garrafa de bom vinho alentejano no palco. As maiores ovações surgiram nos temas “Wishlist” e “Last Kiss”, cantadas a plenos pulmões por toda a audiência. Pearl Jam era mesmo o que se queria ouvir. Quando o músico saiu de palco, o público cantou o refrão do “Alive”, mas ele voltou para tocar “Society” e “Hard Sun”. Foi neste regresso que trouxe Glen consigo e o cenário de um bairro deu lugar a um céu azul sobre um mar sem fim. Foi mais um momento alto do concerto, com “Hard Sun”, que se julgou ser o final do concerto. Mas mais uma surpresa e mais uma entrada em palco e o concerto durou mais que o esperado e ninguém tinha vontade que acabasse! “Keep on Rockin’ in a Free World” ou, tal como em improviso se escutou, “Keep on Surfin’ in a Free World”. Perdoem-nos o lugar comum, mas Eddie Vedder provou que é como um bom vinho, quanto mais velho melhor, e ele vem de uma boa colheita. A AS crew a fazer a reportagem na Zambujeira arrisca-se a dizer que este foi o concerto do SW’12!!!
EXAMPLE
Com a difícil tarefa de suceder o nome mais aguardado deste segundo dia de festival, Example não comprometeu e conseguiu agarrar o público, que se manteve entusiasta e sem vontade de ir embora. Enquanto Luciano já debitava o que de melhor a música electrónica tem para nos mostrar, o atraso provocado pela longa actuação de Eddie Vedder não sentenciou a morte do palco principal. Hip Hop, Rap, o poder do Rock e mais Beats. Example descomprimiu a emoção de Vedder e a sua música elevou o astral ao ponto de sentir-se o pó tão característico do sudoeste.