Quantcast
First Breath After Coma @ Musicbox: Vôos Astronómicos

First Breath After Coma @ Musicbox: Vôos Astronómicos

2016-08-05, Musicbox Lisboa
Pedro Miranda
8
  • 6
  • 8
  • 7
  • 9

O colectivo português de rock alternativo fez passar “Drifter” por Lisboa antes de seguir para o Norte.

Já não será surpresa para os frequentadores da noite Lisboeta (Cais do Sodré, Bairro Alto, Graça e afins) o facto de que não faltam, hoje em dia, novas bandas portuguesas a construir carreira com um olho no que se passa no estrangeiro. Com diferentes graus de sucesso e criatividade, são muitas destas bandas as que reconhecemos hoje como o futuro da música portuguesa: os Linda Martini não resistem à comparação com Sonic Youth, ou os Paus com Battles; os Capitão Fausto fizeram parte do seu percurso navegando na onda popularizada por Tame Impala, e não há quem negue que os Mighty Sands procuram uma reinvenção do rock sazonal e temporalmente fixado algures entre Growlers e Allah-Las.

First Breath After Coma são admitidamente um destes grupos, ou não fossem baptizados segundo a primeira faixa de “The Earth is Not a Cold Dead Place”, o marcante terceiro disco de Explosions in the Sky. A ideia que procuram, no entanto, de aliar à canção rock convencional as disposições sónicas e instrumentais do post-rock, distanciam-nos invariavelmente da fonte primária de inspiração, e se há algo que a visita a Lisboa mostrou, foi que o jovem quinteto foi capaz de cristalizar ainda mais este conceito que no álbum de estreia, “The Misadventures of Anthony Knivet”, solidificando, de forma que parecia improvável à partida, a sua própria identidade.

Não que se separassem integralmente do som de onde nasceram: a música de First Breath After Coma utiliza-se das mesmas texturas e recorre ao mesmo contraste calmaria/clímax que se encontrariam em discos como “Cold Dead Place” ou “All of a Sudden I Miss Everyone”. Só que os ganhos de intensidade, as intensas explosões de ruído e até os momentos do quase-silêncio são tão eloquentemente executados e tão perfeitamente ensaiados e sincronizados que, a certo ponto, a comparação aos Explosions in the Sky reduz-se a apenas referencial. Esta jovem banda, nenhum dos integrantes da qual aparenta contar mais de 25 anos de idade, tem corpo e alma que valem por si sós, e isso mostrou-se tanto nos destaques deste novo disco (“Intro”, “Umbrae”, “Salty Eyes”), como nos temas mais antigos que passaram pelo Musicbox (“Shoes For a Man With No Feet”, “Apnea”, “Skáphos”).

Um concerto que não terminou sem o agradecimento efusivo da plateia, que vibrara com sinceridade com a música do grupo (não obstante o burburinho constante que fazia especial mossa nos momentos mais quietos da performance), um convite para Paredes de Coura, onde tocaram há 2 anos quando o festival subiu à vila, e ainda um agradecimento a todos os que contribuíram para a gravação de “Drifter”, possibilitado por uma extensa campanha de crowdfunding. Uma réstia de esperança no horizonte destas bandas em ascensão: se pensarmos que estas canções, que tão bem soaram no recinto lisboeta, concretizaram-se pela generosidade dos seus fãs, então há ainda muito futuro para a música que se faz por cá.