Uma obra-prima para aqueles que consideram que o rock n’ roll nunca devia ter saído dos anos 70.
Lembrando apenas as mortes de Lemmy e Bowie, em 2016, é fácil perceber que vão ficando cada vez menos referências da Era Dourada do Rock. Uma besta mitológica que persiste no nosso mundo é Iggy Pop. Todos conhecemos Stooges e o seu tronco nu. Há quem diga que Iggy supera o próprio Keith Richards no histórico de consumo da grande maioria dos narcóticos conhecidos pela espécie humana. Talvez por isso mesmo, o próprio Iggy sentir-se-á no limiar da sua finitude e admitiu que este poderá ser o seu último álbum.
Josh Homme orquestrou um devastador canto do cisne para o Príncipe do Punk. Sem descaracterizar Iggy Pop e exaltando o seu carisma e melhores idiossincrasias, Homme e a sua crew criaram um álbum que transpira um certo misticismo rocker – “American Valhalla” ou “In The Lobby” evocam mesmo os ambientes dicotómicos (crus e reverberados) da estreia homónima dos Stooges – se nos lembrarmos daquele mantra de escuridão que reveste o clássico “We Will Fall”.
No Rancho De La Luna, no deserto californiano, Iggy Pop, Josh Homme, Matt Helders (baterista de Arctic Monkeys) e o saltimbanco multi-instrumentista Dean Fertita, prostaram-se em devoção às suas raízes, influências e credos.
Arrojamos dizer que “Sunday” não é apenas uma das grandes canções rock do ano ou da década, mas de sempre.
E, ao mesmo tempo que a personalidade musical dos Queens Of The Stone Age, das desert sessions, consegue emergir – tornando este um verdadeiro álbum de colaboração – vai sendo revelada uma obsessão comum entre os alquimistas: o supra citado Bowie. Esse espectro, omnipresente ao longo do álbum, tal como o Fantasma do Rei Hamlet na psicose depressiva do Príncipe da Dinamarca, congrega todos os elementos e noções referidas anteriormente em “Sunday”, a peça axiomática de “Post Pop Depression”. Arrojamos dizer que “Sunday” não é uma das grandes canções rock do ano ou da década, mas de sempre.
O crescendo dinâmico da tracklist é interrompido na meio acústica “Vulture” e na condução a piano de “Chocolate Drops”, no seu meio surge a esquizofrénica “German Days” e pedradas de riffs irão encerrar “Paraguay” e o álbum. Quatro temas que, numa era sem consideração por tautologias, talvez sobrecarreguem o álbum, mas que reforçam a noção de que “o último álbum de Iggy Pop” é um dos seus melhores de sempre e que, por estes dias, Homme serve de reserva espiritual ao rock de outras eras.