JUR 03 | Inga, Andy e Paus em grande!
2015-10-24, Musicbox, LisboaTerceira noite do Jameson Urban Routes com ecletismo e uma boa dose de diversão.
Era injustamente cedo quando Inga Copeland subiu a palco na abertura da terceira noite do Jameson Urban Routes. Embora isso não tenha sido impedimento para se ter o MusicBox já praticamente cheio, com algum publico ali apenas para a ver. A artista russa/inglesa, conhecida por assumir uma metade dos erráticos Hype Williams, lançou o seu primeiro álbum a solo há dois anos e desde então que se tem focado no seu próprio percurso criativo solitariamente. Electrónica com tanto de pista de dança como de experimental, para alguns não era certamente a hora certa para se entrar no mood da coisa, mas aconteceu como tinha de acontecer: a bem e em boa dose. Inga faz contrastar a singularidade, por vezes crua, da sua música, através da voz doce e melosa que possui, em parecenças vagas com uma Bjork ou em desdobramento do modus operandi de uma Delia Derbyshire.
É com mais rock que os Paus entram de seguida. Os quatros músicos fazem-se ao palco com a mesmo energia de sempre, procurando obter do publico uma resposta à altura. É essa simbiose entre os músicos, a música e o publico que os Paus procuram sempre alcançar, nunca desistindo de convidar a audiência para danças e stage-dives. Este apelo à libertação do corpo é a força motriz da banda, não o digo eu, mas mostra-o o público, que se movimenta e deixa afectar de forma tão corporal pela força das duas baterias, pelas linhas melódicas requebradas e pelo baixo pulsante. Fazendo um apanhado geral de todos os álbuns, desde “É uma água” até “Clarão”, lançado no ano passado, o concerto cresce em proporção do entusiasmo da plateia. E agora que está para vir novo álbum para o próximo ano, a expectativa cresce no coração dos fãs.
Ainda Andy Stott não está em palco e já o público se começa a apertar à frente. Desde “Luxury Problems”, editado em 2012 pela Modern Love, que Andy começou a ganhar mais atenção, criando à sua volta uma base de fãs cada vez mais consistente. Poderíamos esperar que fosse apresentar temas de “Faith In Strangers”, editado no ano passado, mas o set foi povoado quase todo por temas inéditos, notando-se uma re-orientação mais centrada na construção de ritmo e menos ambiental do que nos seus últimos trabalhos, deixado-nos antever um pouco do que será feito o seu próximo lançamento: uma subtração do dub no tecnho e uma adição rave, sem histerismos. Live set que só pecou por fazer-se sentir curto, de resto, Andy respondeu às expectativas com a mestria de quem conhece o seu público. Haja mais disto.
Resumindo: bom ambiente, som no ponto, baixos visceralmente físicos (big-up para os subwoofers do MusicBox), turistas a rodos e deleite musical como se espera numa noite destas, ainda com a benesse da mudança de hora, que ofereceu aos mais resistentes ao cansaço um pouco de mais tempo para abanar os ossos ao som de Gustavo.