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JUR: Sensible Soccers e The Comet is Coming, combinações improváveis

JUR: Sensible Soccers e The Comet is Coming, combinações improváveis

2016-11-28, Jameson Urban Routes, Musicbox
Pedro Miranda
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Dois actos estelares e uma combinação improvável fizeram a sessão de eleição do Jameson Urban Routes.

Era uma combinação improvável, cujo sentido só se viria a descortinar na totalidade com o concretizar dos dois concertos da noite. De um lado, a entorpecente electrónica dos Sensible Soccers, já amplamente reconhecidos por quem lhes concedeu a oportunidade, e do outro, a formação híbrida de jazz fusion que dá pelo nome de The Comet is Coming, oriundos de Inglaterra e impulsionados pelo lançamento de um provocador disco de estreia. Por mais díspares que possam ser as suas sonoridades, a verdade é que se unem num objectivo comum: o de praticar música electrónica com tanta ambição quanto pode albergar o ramo “experimental” do género, e os resultados estiveram mais que à vista.

Relegados ao slot inicial, os Sensible Soccers encetaram o seu habitual magnânimo espectáculo em formato reduzido. E se é verdade que essa experiência imersiva beneficia de um período de tempo confortável para a expansão dos seus temas progressivos, não foi o limite apertado (tocaram pouco mais de 40min) que os impediu de brilhar à sua maneira com o que lhes foi concedido. Houve espaço para os melhores momentos de “Villa Soledade” – “Clausura”, “Villa Soledade”, “Nunca Mais Me Esquece”, “Shampom” – bem como para uma canção ainda por estrear e “AFG”, a muito bem-vinda reminiscência do début “8”. E com cada uma tornava-se mais claro o porquê de estarem na vanguarda da música que se faz em Portugal: as texturas minuciosamente trabalhadas, o impressionante trabalho à guitarra e aos sintetizadores, a coesão indelével que unia os quatro integrantes em palco. Para eles, o público só tinha uma resposta, e as suas caras só revelavam gratidão de cada vez que a conjurava, como quem sabe que é sempre bem-vindo por estas bandas do país.

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Com The Comet is Coming, a história era um pouco diferente, já que, apesar da clara curiosidade, era evidente que eram bastante menos conhecidos à generalidade do público presente. Teriam de mostrar mais para impressionar os convidados da noite, e fizeram tudo menos desapontar, ou não fosse o acto nada mais, nada menos que três talentosíssimos músicos em sincronia perfeita, num combo de bateria/sintetizador/saxofone convictamente eficiente. As raízes situam-se claramente no jazz, mas influências desdobram-se às esferas do rock, da música electrónica (com especial ênfase no trance) e dos ritmos tribais, num resultado final que soa tão improvável por escrito quanto electrizante ao vivo. The Comet is Coming trouxeram ao Musicbox o seu début,  “Channel the Spirits”, no qual o cheiro de Zappa é tão aparente quanto o de Sun Ra, e potenciado pela proficiência técnica dos seus integrantes, com especial atenção para Betamax Killer (bateria) e King Shabaka (saxofone, também integrante dos Sons of Kemet), concretizaram uma performance com tudo no sítio: competência afinada, som desafiante e doses saudáveis de energia e ecletismo.

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 Foto: Alípio Padilha