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King Dude, Uísque & Lúcifer

King Dude, Uísque & Lúcifer

2018-06-02, Sabotage Club
Nero
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O enorme carisma de TJ Cowgill, munido apenas com uma Gretsch, derramou romantismo e humor negro pela assembleia reunida no Sabotage Club.

Foi em 1994 que Rick Rubin fez ressurgir a carreira de Johnny Cash, através do primeiro álbum que se tornaria na série de discos da colecção “American Recordings”. O lendário produtor fez algo muito próximo do que Steve Binder, Bones Howe e Earl Brown haviam feito com Elvis, em 1968. Rubin despiu as canções de Cash até ao mínimo indispensável, até ao seu núcleo, permitindo-lhes fazer sobressair a sua crueza cativante e a sua pujança emocional.

Actuando como King Dude, a solo, TJ Cowgill é capaz de provocar o mesmo tipo de efeito. Talvez soe numa mistura de Cash (mais pela voz) com Townes Van Zandt. E, no Sabotage Club, enfrentando umas 80 pessoas apenas com o seu carisma e uma Gretsch Electromatic Pro Jet, a força crua das suas canções transportou-nos para uma atmosfera sulista, melancólica e negra. Canções como “Jesus In The Courtyard” ou “River Of Gold” ficam um pouco mais vazias nos arranjos mas, neste formato, a envolvência do ressonante crooner é mais potente.

No concerto, de forma descomplexada e natural, King Dude viaja através das suas referências, de Cash a Cohen, passando por Springsteen.

Com um humor tranquilo, entre malhas, uísque e cerveja, conduziu o público numa liturgia folk, cruzada com paganismo. Acedendo a pedidos vários, como a icónica “Lucifer Is The Light” ou “Vision In Black”. Uma interacção a que Cowgill chamou King Dude Bingo, antes de cantar “Lord, I’m Coming Home”, assinalando a sua boa disposição, cruzada com canções «depressing as shit», referiu. O calor dos licores e da recepção do Sabotage às suas canções foi aumentando a descontracção do trovador, que fez uma longa apologia da metilenodioximetanfetamina antes de “State Trooper”, original de Bruce Springsteen em “Nebraska”, de 1982.

Então, Cowgill sentou-se à frente de um Yamaha MOTIF ES8 para tocar “I Don’t Wanna Dream Anymore”. Com os sons de piano, Cowgill soa nitidamente como outra referência sua, evocando Leonard Cohen. Voltou para a guitarra, mas talvez a bebida começasse a fazer demasiado efeito e a prestação já não foi imaculada. No fim, como no início (dentro da correcta forma ritualista), torna a evocar Cash, despedindo-se com “Barbara Anne” e “Watching Over You”.

SETLIST

  • Deal With The Devil
  • Jesus In The Courtyard
  • Born In Blood
  • River Of Gold
  • Lucifer Is The Light
  • Witch’s Hammer
  • Vision In Black
  • Silver Crucifix
  • Lord, I’m Coming Home
  • State Trooper
  • I Don’t Wanna Dream Anymore
  • Barbara Anne
  • Watching Over You
  • [NA: Setlist incompleta]