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Marky Ramones Blitzkrieg

Marky Ramones Blitzkrieg

2013-07-09, Santiago Alquimista, Lisboa
Timóteo Azevedo
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Os portugueses Decreto 77 abrem as actividades sonoras da noite com um punk sincero. A banda de Almada, no activo desde 2004, que lançou em Março de 2013 o álbum “Getting Older, Wasting Time”,  deram um concerto coeso que serviu para abrir os corações ao punk-rock da noite.

O interregno após o primeiro concerto serve para refrescar gargantas com cerveja e para a sala ficar mais composta. Os fãs, a suar sob muitas t-shirts de Ramones, começam a chegar-se mais à frente; ouvem-se uns “Hey Ho Lets Go” berrados esporadicamente naquele típico tom festivaleiro. O Santiago Alquimista transpira um espírito rock primordial: uma sala quente, um palco raso, sem grades a separar o público dos músicos.

As luzes apagam-se, começa-se a ouvir a música composta por Ennio Morricone do clássico western-spaghetti “O Bom, o Mau e o Vilão” e percebe-se que Marky Ramone e seus companheiros vão subir ao palco dentro de em breve. Há barulho de assobios e berros, que atingem o pico com a entrada em cena de Marky Ramone, Andrew WK e o resto da banda.

“How are you?” pergunta Andrew animado, e logo, sem aguardar resposta e sem demora, rebenta a “Rockaway Beach” num som de guitarra endossado por um Marshall JCM 900 e uma Les Paul, do outro lado figura um Fender Precision Bass. Segue-se “Teenage Lobotomy” e “Psycho Therapy”, ritmadas por uma bateria Ludwig branca, que Marky Ramone toca sem falhas e sem hesitações durante o concerto todo, apesar dos seus 56 anos; engana-se quem pensa que o punk-rock é para putos. Comprova-o também a média de idades presentes no concerto: dos trinta para cima.

Apesar da pouca comunicação com o público – Marky limita-se a acenar um par de vezes – o espírito party animal de Andrew vale para dar energia e dinâmica ao concerto; passados 30 minutos, Andrew “get wet” e começa já a conservar o seu aspecto thrashy e grunge, coreografando e cantando com energia. A voz de Andrew não é propriamente “ramoneana“, mas assentou bem, dando um tom mais “rock moderno” aos temas de Ramones.

A tradição dos Ramones manteve-se: praticamente todas as músicas começaram com o clássico “one, two, three, four”. Ao nível de conteúdo, foi um concerto de cerca de hora e meia pensado para agradar ao grosso dos fãs, tendo sido tocadas músicas de várias épocas da banda. “Beat On the Brat”, “I Believe In Miracles” e “I Wanna Be Sedated” andaram lá para o meio para revigorar os espíritos mais cansados desta noite quente de verão.

Sempre que a banda saía de palco – foram feitos dois encores – ouvia-se em uníssono o mote da noite “Hey Ho Lets Go”, vindo de um público que estava a viver o concerto em bom espírito punk-rock: suor, muita gente a cantar, pogos e crowdsurf. Marky, Andrew e a restante banda, começaram-se a despedir do público com a cover “What a Wonderful World” e como não podia deixar de ser, ficou a “Blitzkrieg Bop” como adeus.

Marky é o último dos Ramones, fez parte da banda durante quinze anos, tendo também tocado em outras bandas, tais como os Misfits, Dust, Wayne County And The Backstreet Boys e Richard Hell & The Voidoids. Ganhou o hábito de reunir outros músicos e fazer tours a tocar clássicos de Ramones. À parte todo o criticismo que por vezes este tipo de escolhas levanta, sendo ou não uma forma de ganhar dinheiro a vender roupa pendurada num cabide que não é o seu, este tipo de concertos são uma excelente oportunidade para os fãs, que nunca tiveram essa felicidade, experienciar ao vivo uma simulação do que seria um concerto de Ramones.