Já se escreveu na Arte Sonora que “Mudam-se Os Tempos, Mudam-se As Vontades”, de José Mário Branco, é o “Sgt. Peppers…” da música portuguesa. Nessa linha de raciocínio, “Mar Aberto” é como se fosse um mini “OK Computer”, se nele ouvirmos um certo flow de banda sonora cinematográfica, de experimentalismo electrónico e uma invasão krautesca (algo de Popol Vuh) a estruturas tradicionais do folk português.
Mar Aberto” é como se fosse um mini “OK Computer”
Instrumentalmente tão simples quanto complexo, musicalmente extravagante em momentos como “Marinheiro”, o álbum deriva numa ondulação onde as dinâmicas estão mais subjugadas à palavra, Carlos Medeiros, que à “canção”, Pedro Lucas. E esse enraizamento na ladainha acaba também por acrescentar um ambiente mais filosófico que musical, mais etéreo que “memorizável”. Não significa que não estejamos diante de um álbum emocionalmente superlativo. Afinal, como a ondulação a embalar o casco de um navio ou a madeira de um cais, “Mar Aberto” vai-nos salgando e ensopando o pensamento com a paciência do mar que, lá no fundo, nos fala como sempre nos conheceu, como nefelibatas filhos de um povo marinheiro…