A banda liderada por Alex Turner regressou pela nona vez a Portugal para marcar presença no segundo dia do novo festival lisboeta, o MEO Kalorama.
O segundo dia do MEO Kalorama ficou marcado pela grande multidão que marcou presença no parque da Bela Vista – multidão essa muito superior à do primeiro dia de festival. Afinal, trata-se do único dia que esgotou da primeira edição do festival, e os responsáveis foram certamente os Arctic Monkeys. Desde a sua formação na cidade inglesa de Sheffield em 2002, a banda conta com 6 álbuns de estúdio – todos eles bem representados no alinhamento desta noite. Desde o rock de garagem e a atitude irreverente punk que marcou “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not” até ao mais recente “Tranquility Base Hotel & Casino” de 2018 cujas influências glam-rock e lounge pop motivam um arco narrativo digno de uma banda que não tem medo de evoluir e “crescer”, os Arctic Monkeys já provaram há bastante tempo que não estão aqui para agradar a toda a gente, aproveitando a viagem da sua carreira sem ficarem presos no passado. Quer se goste ou não da direção em que a banda caminha por estes dias, é inegável o sentido de progresso e maturação sonora e estética.
Pelas 22h30 – ainda a meia hora do concerto mais esperado da noite – já uma enchente impressionante marcava o seu lugar no anfiteatro natural da Bela Vista. Meia hora mais tarde, as luzes do palco MEO apagam-se e os gritos ensurdecedores de 40 mil espectadores ecoam enquanto Alex Turner, Jamie Cook, Nick O’Malley, Matt Helders e um outro membro de apoio nos teclados sobem ao palco. A banda estava pronta para iniciar um concerto repleto de êxitos do passado, algumas canções do álbum mais recente e ainda um breve vislumbre do futuro – “The Car” será o próximo álbum da banda com data de lançamento prevista a 21 de Outubro. O ritmo quaternário imposto pela bateria de Matt é sobreposto pelo poderoso riff de guitarra tocado por Alex Turner numa belíssima Vox Starstream de 12 cordas – “Do I Wanna Know?” é a escolha segura mas acertada para começar o concerto, cativando o público desde o começo com o sucesso mais radiofónico da sua discografia.
Alex Turner apresenta-se em palco com um visual bastante diferente do que no último concerto da banda em Portugal, no NOS Alive 2018 – o cabelo à la “Grease” e o fato diretamente de um filme policial dos anos 70 foram substituídos por uma postura mais relaxada – mas nunca desleixada – com um casaco verde de trabalho largo e um cabelo despenteado. O frontman nunca foi conhecido por ser excessivamente comunicativo com o público, mas a sua postura em palco demonstra confiança e uma seguridade de quem sabe exatamente o que está a fazer – de recordar uma das primeiras aparições da banda na televisão, onde tocaram “I Bet You Look Good On The Dancefloor” em 2006 e Alex se dirigiu à plateia com a icónica frase “Não acreditem no hype“.
O público reage de maneira eufórica a quase todas as canções, mas existe um efeito etático notável em relação às faixas pré-2010 e pós-2010
“Brianstorm” é a segunda canção a ser disparada, uma explosão rock diretamente de 2007 que juntamente com a frenética “Teddy Picker”, “The View From The Afternoon”, “From The Ritz to the Rubble”, “Library Pictures” e finalmente “I Bet You Look Good on the Dancefloor” asseguraram um alinhamento que seguramente satisfez quem não gosta da postura contemporânea da banda e prefere a crueza do rock indie de garagem que marcou o início de carreira dos Arctic Monkeys. Se a banda admitiu que tocar algumas das suas canções antigas é realmente difícil devido à sua natureza altamente energética e riffs rápidos, durante a actuação no Kalorama essa dificuldade não foi aparente – os Arctic Monkeys são uma banda verdadeiramente profissional no que toca a dar concertos. Apesar disso, as canções mais antigas foram tocadas mais lentamente do que nos discos, uma escolha deliberada que já não é novidade nos seus concertos.
O público reage de maneira eufórica a quase todas as canções, mas existe um efeito etático notável em relação às faixas pré-2010 e pós-2010 – o famoso álbum de 2013 “AM” foi o responsável por catapultar a banda ao mainstream e as canções que integram o disco são recebidas ainda com mais entusiasmo. “Cornerstone” foi um marco na música indie para a sua geração, e a balada não podia faltar no alinhamento – a voz de Alex Turner está consideravelmente bem preservada e demonstra uma evolução e controlo extraordinário, especialmente nos graves com o vibrato distinto. «Obrigado», exclamou Alex por entre canções, com uma pronúncia digna de quem já conhece bem Portugal. “Tranquility Base Hotel + Casino” e “One Point Perspective” encerraram o catálogo do álbum de 2018, canções entregues com uma estética lounge que caracteriza todo esse disco. Ainda houve tempo para estrear “I Ain’t Quite Where I Think I Am”, canção funky promissora do próximo álbum que o público abertamente recebeu com entusiasmo.
“Knee Socks” teve direito a um momento épico e climático com um outro à la “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not”, onde o herói Matt Helders na bateria conseguiu brilhar e impressionar mais uma vez – o baterista é sem dúvida um dos elementos que mais impressiona na banda, enquanto toca energeticamente e proporciona backing vocals em falsete ao mesmo tempo com uma descontração admirável.
Cerca de uma hora de concerto foi o necessário para outro êxito ser tocado – “505”, a canção que apenas com dois acordes tocados num Rhodes consegue levar a multidão à loucura. A banda abandona momentaneamente o palco, mas o público não os deixaria abandonar o concerto tão cedo. Seguiram-se três canções que completaram o encore, incluindo “Arabella” e o hit que não podia faltar “R U Mine?”, que encerrou um dos melhores concertos que passou no palco principal da primeira edição do novo festival.