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MEO Kalorama 2023: A Lição de Rock ‘N’ Roll dos The Hives

MEO Kalorama 2023: A Lição de Rock ‘N’ Roll dos The Hives

2023-09-02, MEO Kalorama, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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Enérgico, carismático e irreverente assim foi o regresso dos The Hives a Lisboa após uma ausência de 15 anos. Com o há muito aguardado novo álbum na bagagem, “The Death Of Randy Fitzsimmons”, a banda sueca fez uma curta, mas incisiva, demonstração de como se dá um concerto de rock ‘n’ roll.

Se tivéssemos que eleger o género musical com menor representação no cartaz do MEO Kalorama 2023 esse seria sem dúvida nenhuma o rock ‘n’ roll na sua vertente mais pura e dura. Aliás, não fossem os The Hives e nomes como os Amyl and The Sniffers ou até mesmo os Shame e este género não teria mesmo qualquer tipo de representação na programação do evento.

Falar dos The Hives é falar de uma instituição do rock sueco com 30 anos feitos este ano. A banda conta com seis álbuns de estúdio editados, que seriam possivelmente muitos mais, não fosse o intervalo de onze anos entre “Lex Hives” (2012) e “The Death Of Randy Fitzsimmons” e ao longo dos anos já partilhou o palco com nomes grandes como os AC/DC, The Offspring ou Arctic Monkeys.

Liderados pelo carismático vocalista Pelle Almqvist, os The Hives regressaram a Portugal para dar o seu décimo concerto em terras nacionais. Ainda assim, foi apenas o quarto em Lisboa, isto porque as outras passagens da banda sueca por terras nacionais aconteceram em várias cidades e localidades do nosso país, pouco habituais na recessão a bandas com este estatuto, como foi o caso das suas passagens pela Queima das Fitas de Coimbra e do Enterro da Gata de Braga em 2012, do Festival do Crato de 2014 e do Monte Verde Festival 2018 nos Açores. 

Ao MEO Kalorama, os The Hives trouxeram “The Death Of Randy Fitzsimmons”, o seu novo álbum que acabou com um jejum entre LPs de onze anos. Segundo a mitologia, Randy Fitzsimmons era uma espécie de sexto elemento da banda, que desempenhava funções de manager e de compositor. Com a sua suposta morte, os The Hives foram ao encontro de várias cassetes com demos das doze músicas que compõem o álbum e foi assim que conseguiram voltar em entrar em estúdio para gravar material fresquinho.

A programação do alinhamento do festival ditou que os The Hives iriam subir ao palco antes da drag queen Pabllo Vittar, algo que revelou um choque de públicos, pois nas primeiras filas já estavam os fãs da cantora brasileira a reservar o seu lugar desde que as portas tinham aberto à tarde. Mas este foi um aspeto que não causou qualquer comichão à banda e até os entusiasmou para tentar cativar esses ouvintes e verdade seja dita, aderiram à festa e ao bailarico proposto. «Senhoras e senhores e todos os outros» foi assim que Pelle se dirigiu aos presentes com o intuito de também incluir todes.

Com um estilo rebelde e hiperativo, Pelle faz parte de uma espécie de frontmen em vias de extinção, onde os movimentos clássicos como o rodopiar do microfone ao estilo de Roger Daltrey e o salto de pernas abertas de Pete Townsend estão presentes. 

Após escutarmos a “Marcha Fúnebre” de Chopin no P.A. como que assinalar o desfecho do malogrado Randy Fitzsimmons, “Bogus Operandi” do novo trabalho deu o pontapé de saída para uma atuação que nunca tirou o pé do acelerador. Mal Pelle Almqvist entrou em palco, com o seu fatinho igual ao do resto da banda, tornou-se impossível retirar os olhos do vocalista. Com um estilo rebelde e hiperativo, Pelle faz parte de uma espécie de frontmen em vias de extinção, onde os movimentos clássicos como o rodopiar do microfone ao estilo de Roger Daltrey e o salto de pernas abertas de Pete Townsend estão presentes. 

A este estilo performativo junta-se o sarcasmo e humor não só nas letras da banda, como é o caso de “Walk Idiot Walk”, que surgiu depois “Main Offender”, mas também nas intervenções entre músicas de Pelle que através duma falsa postura presunçosa consegue colocar o público a soltar valentes gargalhadas, particularmente quando se dirigiu aos fãs em português para pedir palmas a compasso 

“Good Samaritan” e “Two-Timing Touch and Broken Bones”, esta última a pedido de um fã, demonstrando uns The Hives de mãos largas neste final de tour, levantaram várias nuvens de poeira enquanto o músico visivelmente satisfeito passeava junto às grades que separavam os fãs do palco.

Instrumentalmente, os The Hives são irrepreensíveis. Nicholaus Arson com a sua Fender Telecaster Deluxe ligada a um Fender Vibrolux e um Deluxe ReverbVigilante Carlstroem com uma 1959 Epiphone Coronet conectada a um Fender Super Amp Brownface, The Johan and Only com um Fender Precision ligado a um Ampeg SVT-50TH Heritage e o baterista Chris Dangerous não são nenhuns portentos em termos técnicos, mas a forma como tocam o seu garage rock pleno de feeling, estilo e intenção vale por qualquer lacuna a nível técnico.

O hino de assinatura dos The Hives, “Hate to Say I Told You So”, que colocou a plateia em alvoroço a entoar o riff de guitarra e os versos do refrão, foi o pretexto indicado para Pelle anunciar antes da faixa que a banda vai regressar Portugal já no dia 6 de Outubro para um concerto no Capitólio

Seguiu-se de rajada a fulminante “Trapdoor Solution” e “Countdown to Shutdown”, pessoalmente a melhor faixa de “The Death Of Randy Fitzsimmons”. “I’m Alive” antecedeu o suposto encore que Pelle recusou-se a fazer, referindo num tom cómico não perceber porque é que as bandas fingem que se vão embora para depois voltarem para tocar mais uma ou duas músicas. Assim sendo a banda permaneceu em palco para concluir a atuação com “Come On!”  e “Tick Tick Boom”.

Sem artifícios e rodeios, os The Hives deram assim uma autêntica lição de como se pratica o bom rock ‘n’ roll. Dia 6 de Outubro, no Capitólio, há mais!

SETLIST

  • Bogus Operandi
    Main Offender
    Walk Idiot Walk
    Rigor Mortis Radio
    Good Samaritan
    Go Right Ahead
    Stick Up
    Two-Timing Touch and Broken Bones
    Hate To Say I Told You So
    Trapdoor Solution
    Countdown to Shutdown
    I’m Alive
    Come On!
    Tick Tick Boom