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MEO Kalorama 2023: Sob o Feitiço de Florence and the Machine

MEO Kalorama 2023: Sob o Feitiço de Florence and the Machine

2023-09-01, MEO Kalorama, Lisboa
Rodrigo Baptista
MEO Kalorama
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Pelo segundo ano consecutivo os Florence and the Machine apresentaram-se em Portugal e arrastaram uma enchente que se deixou enfeitiçar pela voz aconchegante de Florence Welch e pelas suas confissões repletas de vulnerabilidade.

[Não foi dado acesso para habitual reportagem fotográfica]

Mágico, transcendental e divino são três conceitos que caracterizam aquilo que o espetador/ ouvinte pode experienciar numa performance de Florence and the Machine. Seja num espaço pequeno e intimista, como aconteceu em 2010 na Aula Magna, na sua estreia em Portugal, ou agora, em 2023, na imensidão do Parque da Bela Vista, os Florence and the Machine têm o condão de nos continuar a levar para domínios próximos do metafísico através de melodias etéricas e da voz enfeitiçante de Florence Welch.

Numa espécie de culto, os fãs acederam mais uma vez à chamada da banda e encheram o Parque da Bela Vista para vibrar ao som de hinos que apelam ao amor, à compaixão e à superação. Já recuperada de uma operação de urgência, que fez com que a banda cancelasse alguns concertos, Florence Welch apresentou-se em Lisboa revigorada e pronta para deixar tudo em palco, tal como incentivara o público a fazê-lo a meio do concerto.

Ainda a promover o seu mais recente álbum “Dance Fever”, editado em 2022, foi ao som de “Heaven Is Here” e “King”, desse mesmo trabalho, que o concerto teve o seu início.  Em evidência ficaram logo o vestido preto esvoaçante que Florence envergou e uma cenografia minimalista a remeter para uma espécie de altar, um aspeto que vai ao encontro da tal noção de culto. “Ship to Wreck” e “Free” trouxeram à tona a tal vulnerabilidade que Florence, de forma tão poética, expressa nas letras que ressoam nos milhares que entoam e sentem cada palavra. Seguiram-se “Hunger” e “Dream Girl Evil”, nesta última, Florence fez a sua tradicional descida ao público para cantar, dar a mão e distribuir abraços. Mais à frente acabou por confessar que naquele dia tinha-se sentido particularmente frágil e que gostava que alguém estivesse em palco para também lhe dar a mão. Foi a deixa perfeita para o que seguiu, um inesperado, ou já esperado, dueto com Ethel Cain, que atuou no mesmo dia no Palco San Miguel e surpreendeu todos ao chamar Florence para cantar consigo o tema “Thoroughfare”. Agora, numa espécie de retribuição de gestos, foi a vez de Florence levar Cain a palco para interpretarem em conjunto “Morning Elvis”.

A cover de Candid Stanton “You Got the Love”, um dos clássicos da banda presente no álbum de estreia “Lungs” (2009), deu origem a um enorme coro e a uma nuvem de amor que foi capaz de se sobrepor à nuvem de poeira que teimava em incomodar Florence.

Já o rock ‘n’ roll de “Kiss With a Fist” incentivou ao pezinho de dança antes do mega hino, “Dog Days Are Over” colocar todos a bater palmas a compasso. A meio da faixa, Florence tirou um momento para explicar aos “novatos” nos concertos da banda o ritual que estava prestes a acontecer. Este consiste em guardar os telemóveis por breves minutos para se estar apenas e só centrado naquele momento e saltar ao som da música. Parece algo simples e perfeitamente fazível, mas nos tempos que correm é praticamente impossível não ter uma alma agarrada ao telemóvel a filmar, tirar fotografias ou simplesmente a mandar mensagens com a música a colocar-se como pano de fundo. Se o ritual foi comprido na sua plenitude não sabemos, mas a intenção de Florence ficou demonstrada.

“Cosmic Love”, “My Love” e “Restraint” fecharam o set principal, mas o público, que ainda não estava preparado para deixar a banda, clamou por mais. A catártica “Never Let Me Go”, a faixa de “Ceremonials” (2011) que regressou recentemente às setlists da banda, deu início ao encore. Já “Shake It Out” e “Rabbit Heart (Raise It Up)”, colocaram um ponto final numa atuação que, por razões de limitação de tempo e de seleção de temas, deixou de fora os êxitos “Spectrum” ou “Big Dog”.

Atrás de Florence Welch, os The Machine permitem que o feitiço seja feito de forma irrepreensível sonoramente.

SETLIST

  • Heaven Is Here
    King
    Ship to Wreck
    Free
    Hunger
    Dream Girl Evil
    Prayer Factory
    Morning Elvis (com Ethel Cain)
    You Got The Love (Candi Staton Cover)
    Choreomania
    Kiss With a Fist
    Dog Days Are Over
    Cosmic Love
    My Love
    Restraint
    Never Let Me Go
    Shake It Out
    Rabbit Heart (Raise It Up)