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Fear Factory, Uma Máquina de Destruição Maciça

Fear Factory, Uma Máquina de Destruição Maciça

2023-11-12, Lisboa Ao Vivo
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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Com uma formação renovada, os Fear Factory de Dino Cazares regressaram a Portugal para demonstrar que a máquina ainda está bem oleada e capaz de causar muitos danos. Num formato best of, as lendas do metal industrial percorreram ao longo da setlist uma carreira que já conta com mais de 30 anos.

Falar de metal industrial é falar de nomes como Rammstein, Ministry ou dos nossos Bizarra Locomotiva e, claro, Fear Factory. Representantes do metal industrial mais mecanizado, os Fear Factory foram cimentando o seu nome na cena através da fusão da sua música agressiva e repleta de precisão com letras que refletem o progresso tecnológico da maquinaria e os problemas éticos que lhes estão associados.

A trilogia “Demanufacture” (1995), “Obsolete” (1998) e “Digimortal” (2001) catapultou a banda, de Dino Cazares (guitarra), Burton C. Bell (voz), Raymond Herrera (bateria) e Christian Olde Wolbers (baixo), para o estrelato. No entanto, vários problemas internos foram abalando a coesão da banda, mas nunca o impacto a sua música. Primeiro foi a separação do grupo em 2002, depois a saída do líder e fundador Dino Cazares, que não participou nos álbuns “Archtype” (2004) e “Transgression” (2005), mais tarde, em 2006, foi o anúncio de um hiato, que acabaria por durar três anos, e agora, a saída do vocalista Burton C. Bell que, apesar de ter abandonado o grupo em 2020, ainda gravou o último álbum “Aggression Continuum” (2021).

Agora, com uma formação rejuvenescida, que conta, para além de Cazares, com Tony Campos no baixo e backing vocals, Milo Silvestro na voz e Pete Webber na bateria, os Fear Factory demonstraram no LAV- Lisboa Ao Vivo que a máquina não só não está enferrujada, como ainda continua a trabalhar como um autêntico relógio suíço.

GHOSTS OF ATLANTIS

Com a sua pontualidade britânica, os Ghosts of Atlantis, de Ipswitch, Inglaterra, subiram ao palco à hora marcada para nos dar um cheirinho do seu death metal sinfónico. A promover o seu último álbum “Riddles of the Sycopanths”, a banda mostrou competência, mas ainda assim não deslumbrou os poucos que já tinham entrado no LAV. Com um som algo embrulhado, apresentaram-nos ao longo dos seus 30 minutos de atuação temas como “The Curse Of Man”, “The Lycaon King” e “The Lands of Snow”. Para memória fica o esforço do Ghosts of Atlantis em tentar cativar novos fãs num cartaz que não era necessariamente o seu.

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IGNEA

Receber bandas ucranianas em Portugal enquanto o conflito bélico ainda subsiste no leste europeu é sempre um acontecimento especial. Foi assim nas duas últimas vezes que os Jinjer nos visitaram, em 2022 e 2023, e foi também assim no concerto dos IGNEA no LAV. Numa noite em que a igualdade de géneros esteve bem representada no que diz respeito a frontmen e frontwomen, os IGNEA regressaram a Portugal para apresentar o seu novo “Dreams of Lands Unseen” e espalhar uma mensagem de amor e esperança. Com uma recepção um pouco mais calorosa que os Ghosts of Atlantis, os IGNEA conseguiram demonstrar durante 40 min a força do seu death metal melódico com uns pozinhos de progressivo e música oriental. “Daleki Obriyi”, “Bosorkun” ou “To No One I Owe” soaram imponentes na voz de Helle Bohdanova, e demonstraram que apesar da sua pequena estatura, a vocalista ucraniana consegue vociferar guturais dignos de registo como passar rapidamente para uma voz angelical.

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BUTCHER BABIES 

Estreantes em Portugal, os Butcher Babies apresentaram-se no LAV – Lisboa Ao Vivo algo desfalcados, isto porque a frontwomen Carla Harvey, que faz parelha com Heidi Shepherd, não pôde participar na tour devido a uma operação ocular. Ainda assim, isso não demoveu a banda de cumprir com o seu propósito, o de entregar um concerto enérgico a todos os fãs que já aguardavam há muito a presença da banda norte americana em terras nacionais. Heidi Shepherd encarregou-se então da função de mestre de cerimónias, e desde a nomeação de um “Pit Master” em “King Pin” a um circle pit em seu redor em “Spittin’Teeth”, Heidi mostrou-se incansável na interação com o público. Com um maior enfoque no álbum duplo “Eye for an Eye… / …’Til the World’s Blind” (2023), os Butcher Babies apresentaram temas mais recentes como “It’s Killin’ Time, Baby!” e a balada “Last December” e revisitaram duas malhas antigas, “Magnolia Blv.” e “Monsters Ball” dos álbuns “Goliath” (2013) e “Take It Like A Man” (2015), respectivamente. Aguardamos o regresso a Portugal com Carla.

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FEAR FACTORY

Depois de terem estado em Portugal em 2015 a celebrar o 20º aniversário de “Demanufacture”, os Fear Factory regressaram agora ao nosso país num contexto completamente diferente. Com um novo álbum “Aggression Continuum” e uma nova formação, as expectativas estavam elevadas para perceber como é que esta nova encarnação da banda iria responder ao vivo.

Tirando a abertura com “Shock” e “Edgecrusher” do álbum “Obsolete” (1998), o primeiro terço do concerto foi dedicado aos álbuns mais recentes, aqueles que marcaram o regresso de Dino Cazares ao grupo. “Recharger”, “Dielectic”, “Disruptor” e “Powershifter” dissiparam, desde logo, quaisquer dúvidas em relação à capacidade de Milo Silvestro interpretar as linhas vocais de Burton C. Bell. A confiança apresentada por Milo à medida que se ia deslocando de uma ponta à outra do palco e encarava o público foi também bastante revelador do acolhimento que o vocalista tem vindo a sentir por parte dos fãs desde que entrou para os Fear Factory em Fevereiro de 2023. Em Lisboa esse acolhimento sentiu-se particularmente quando Milo se dirigiu ao público em bom português, mas do Brasil.

Sem muitos momentos mortos, Cazares, com as suas Ormsby DC GTR equipadas com um “Machete” Seymour Duncan, Campos com o seu Zon Legay Elite-5, e Pete Webber demonstraram uma coesão única. Quem conhece o repertório dos Fear Factory sabe que não é o virtuosismo que está em causa, mas sim a precisão rítmica, quase mecanizada, com que os músicos executam os seus instrumentos. “Freedom or Fire”, “Descent”, “Linchpin” e “What Will Be Come” ilustraram bem essa interligação rítmica.  

«Durante anos disse que não iria tocar estas músicas, mas vou fazê-lo hoje para vocês», referiu Dino Cazares antes das faixas “Slave Labor” e “Archetype” do álbum “Archtype” (2004), um dos dois álbuns que os Fear Factory lançaram quando Cazares estava fora da banda. A recusa de tocar estes temas ao vivo sempre foi perceptível, afinal de contas marca um período que Dino não pretendia recordar. Ainda assim, o facto do guitarrista conseguir separar as águas e reconhecer a qualidade das faixas mostra bem que aos poucos Cazares está a conseguir fazer as pazes com o passado. Os fãs, naturalmente satisfeitos, receberam as duas malhas em apoteose e transformaram este momento nos destaques do concerto.

Para a reta final ficaram guardadas as viagens até aos dois primeiros álbuns dos Fear Factory, primeiro com “Martyr” de “Soul of a New Machine” (1992) e depois com três clássicos de “Demanufacture”(1995) tocados de rajada, a faixa titulo, “Zero Signal” e o hino “Replica”. A completar a setlist com uma rotação 360º os Fear Factory regressaram a “Obsolete” para disparar “Resurrection”.

À saída do LAV era inegável a satisfação dos fãs perante a performance dos Fear Factory e particularmente de Milo Silvestro. Durante sensivelmente 1h30m os fãs conseguiram abstrair-se do elefante na sala e receberam Silvestro de braços abertos. Afinal de contas, se em tempos já tinha existido vida nos Fear Factory depois de Cazares, porque é que agora não pode existir uma nova vida depois de Burton C. Bell?

SETLIST

  • Shock
    Edgecrusher
    Recharger
    Dielectric
    Disruptor
    Powershifter
    Freedom or Fire
    Descent
    Linchpin
    What Will Become?
    Slave Labor
    Archetype
    Martyr
    Demanufacture
    Zero Signal
    Replica
    Resurrection