Milhões de Festa (2º Dia)
2013-07-27, BarcelosDia com menos calor, ainda assim o suficiente para fazer encher a piscina. Momento alto da tarde na piscina foram Slimcutz, Supa e J-K (Monster Jinx DJ Set). Fizeram a festa com músicas suas e passando clássicos (e não só) de hiphop, num medley que andou a passar em artistas como Dr. Dre, Snoop Dog, House of Pain, Kendrick Lamar, Tyler, The Creator, etc.
O momento de transição logística entre a tarde e a noite foi mais demorado do que poderia supor, o que me fez perder HHY & The Macumbers e quase todo do concerto dos Process of Guilt. Pelo que ainda me foi possível ver, foi um concerto do catano. Estes portugueses, que já tocaram no festival Roadburn, têm se revelado uma das mais promissoras bandas do género em Portugal.
Vindos de Lisboa, foi a vez dos Loosers ir a palco. Post-funk, meio ácido meio progressivo, a ser tocado para ainda não muita gente. O vocalista canta num registo como se pregasse para uma congregação de fieis, estilo James Brown messiânico, e a banda acompanha como uma escada rolante que começa no piso do progressivo e ascende ao kraut rock. Foi um concerto interessante, mas não o suficiente para chamar o número de pessoas necessárias para o que se pode chamar de público dedicado.
De seguida, o palco Vice recebe o artista escocês Dam Mantle num momento um pouco inoportuno. Não pelo artista em si, que teve uma prestação de um IDM sem falhas, mas pela escolha no line up. Não há espírito nem mindset próprio para se assistir a um concerto de electrónica dançável colocado entre dois concertos mais rock (Loosers e Egyptian Hip Hop) e dificilmente alguém dança com vontade ainda no início da noite. Ainda assim, Dam Mantle é sonante ao ponto de encher o recinto frente ao palco.
Egyptian Hip Hop , que foi uma das últimas confirmações e a ir directamente para lugar de destaque no cartaz, foi uma das surpresas da noite. A banda de Manchester, que de hip hop e egípcio só mesmo no nome silly, deram um concerto bastante animado. Amplificadores Fender Twin Reverb e Vox a darem aquele som estival que a banda transporta não só musicalmente. A dada altura, vê-se e ouve-se fogo-de-artíficio na cidade (o Milhões de Festa, pelos visto, não será a única festa na zona) o que tornou o concerto ainda mais caricato. O vocalista desce e passeia-se pelo público, há balões e corpos a surfar em cima das pessoas. Com melodias catchy, a banda mantém sempre a boa disposição e tem uma performance e uma musicalidade que são ingredientes mais do que suficientes para se instaurar um hype. Não me surpreende que os voltemos a ver em Portugal por outras paragens.
Findado o concerto dos Egyptian Hip Hop, a massa de pessoas começa a dirigir-se para o palco Vice, e espera o regresso de uma banda que esteve na primeira edição do MdF: ZA!. Inusitadamente começa-se a ouvir um trompete vindo de outro sítio que não o palco, entre um ritmo feito por baquetas a bater em metal, o duo arranca com o concerto de uma forma original e inesperada. O guitarrista e trompetista subiu a uma zona alta que fica do lado direito do recinto para rasgar o burburinho, enquanto que o baterista começa a tocar nas grades que circundam a mesa de som. Toda gente se volta em silêncio para apreciar o que se passa. A banda continua a fanfarra em excursão até ao palco, pelo caminho vai batucando o chão e grades, fintando o público. Um concerto feito de ritmos alucinantes e tempos pouco convencionais. Camadas de sons malucos loopados, berraria ao estilo Mike Patton, um baterista que usa vocoder na voz, um guitarrista que usa uma Stratocaster virada ao contrário, estilo Dick Dale. Veio-me à cabeça a escola de Mr. Bungle, mas a banda espanhola não é, propriamente, isso. “Estes gajos são malucos” oiço alguém dizer ao meu lado. A actuação de ZA! não foi bem um concerto, um happening, talvez. Mal saem de palco, incia-se o êxodo para outros terrenos. Os EyeHateGod já estão em palco prestes a começar.
Sendo um dos pais do sludge, os EyeHateGod não necessitam de apresentação para os conhecedores do género. “Black Metal from the ghetto” diz Mike Williams, que parece uma versão mais estranha de um Ozzy Osbourne. Os EyeHateGod são sujos, na palavra e no som. A distorção é fuzzy, entre cada música soa um infernal feedback, não há cá noise reduction para ninguém: quando a misantropia é o mote, ninguém quer saber de virtuosismos ou detalhes técnicos. Tanto lançavam um “fuck you” como um “we love you”. Desleixe punk, cigarro na boca, leve desarmonia de execução e segue a viagem de riff’s lentos, que o mosh não se faz sozinho (Foi o concerto que mais pó fez levantar, até ao momento). A banda de New Orleans, associada à cena NOLA, desde “Confederecy of Ruined Lives” que não lança um álbum, já lá vão 13 anos, mas mostraram que por mais que os anos passem, o espírito é o mesmo e a atitude também.
Antes de se descansar a cabeça e o corpo ainda há Octapush e Dj Marfox no palco Vice. Os Octapush fizeram um live act com bateria incluída, o que deu uma dinâmica diferente ao concerto. Africanadas electrónicas e dubstep sofisticado fizeram dançar os que ainda por ali andavam. Pediram para que as pessoas tirassem a roupa mas ninguém o fez, a não ser eles próprios envergando um fato de banho a la Borat. Divertido. Após Octapush largos pingos de chuva fizeram dispersar a multidão. Mas os deuses favoreceram Dj Marfox, a chuva durou cinco minutos, e a malta voltou a encher o recinto do palco Vice para se abanar ao som do kuduro deste lisboeta. Os party animals ainda têm continuação num after-party que se passa no Chispes (lugar mítico de Barcelos com panados do tamanho de um volante de camião).
FOTO: Miguel Refresco © Milhões de Festa