Muse, Leonitas
2018-06-23, Rock In Rio Lisboa, Parque da Bela VistaA enfrentar uma longa encruzilhada criativa, os Muse vieram fazer terapia de grupo a Lisboa. Redimensionando-se ao vivo, até um final apoteótico.
“Tought Contagion” abre um concerto tipo montanha-russa, oscilando entre momentos arrasadores e lugares comuns. O novo single, tal como “Dig Down”, mais à frente, não parecem convencer totalmente e levantam dúvidas para o álbum que aí vem. Até porque “Drones”, à primeira vista, também não pareceu muito inspirado. Sendo algo embaraçosa a fusão dos riffs de “Personal Jesus” e “Roadhouse Blues”, dos Depeche Mode e dos Doors respectivamente, em “Psycho”, por exemplo. Mas o tema reúne dois pilares da sonoridade dos Muse, a electrónica dos 80s e o cânone rocker. E foi assim que a banda refundou o género.
E talvez a encruzilhada criativa dos Muse e que vai atrasando o oitavo álbum da banda seja essa: encontrar um equilíbrio entre a sua pujança criativa original ou a cedência ao seu sitz im leben adolescente, como claramente mostra “Dig Down”, que soa a “Freedom”, de George Michael, com redução dos bpms. Já antes, “Hysteria” foi encerrada com a evocação de Rage Against The Machine e AC/DC, através dos riffs de “Know Your Enemy” e “Back In Black”.
Essas dicotomias sucedem-se, quase conceptualmente no alinhamento. Mas esse choque é feito com enorme pompa. Porque se há coisa que os Muse sempre fizeram ao vivo foi redimensionarem-se a si próprios e às suas canções. E a explosividade da banda soa arrasadora, através da maior potência sonora congregada pela produção do festival este ano, dotando o concerto de um peso avassalador, especialmente nos temas mais antigos como “Plug In Baby” ou “Stockholm Syndrome”. Que continuam como aqueles capazes de mostrar a banda a exibir-se no máximo das suas capacidades.
A execução de “Reapers”, o tremendo peso sonoro, através de down tunning da guitarra, chegou a provocar o efeito Marty McFly no público – com a maioria dos 71 mil presentes na Bela Vista a estacarem, embasbacados, diante da parede sonora em que estavam a bater. Esse redimensionamento, fez transbordar os overtones de “Madness”, criando uma envolvência sofisticada e hipnótica para a suavidade vocal aplicada por Matthew Bellamy, depois quebrada pelo solo com a guitarra com um calor sonoro bem à Brian May. O momento mais alto do concerto!
Então, a multidão estava pronta para se deliciar com as foleiras “Starlight”, “Time Is Running Out” ou “Mercy”. E no final, claro, o tremendo azeite com a evocação dos spaghetti western, através de “Knights Of Cydonia”, introduzida pela pungente interpretação do tenso tema de Morricone para o filme de Sergio Leone, “Once Upon A Time In The West” – entre clichés e foleirices, um dos maiores filmes de sempre, de alguém que reinventou um género, tal como os Muse.
SETLIST
- Thought Contagion
Psycho
Interlude/Hysteria
Plug In Baby
The 2nd Law: Isolated System
Dig Down
Resistance
Supermassive Black Hole
Stockholm Syndrome
The 2nd Law: Unsustainable
Madness
Starlight
Time Is Running Out
Mercy
Take a Bow
Uprising
Knights of Cydonia