A primeira paragem da digressão europeia do novo álbum “Run Fast Sleep Naked” aconteceu em Lisboa, no Coliseu dos Recreios. Nick Murphy olha para o futuro com novas ideias musicais, mas as composições como Chet Faker continuam a ser paragens obrigatórias.
Nicholas James Murphy, Nick Murphy ou Chet Faker. Dos três nomes do artista, o último é talvez o mais conhecido. Foi como Chet Faker que criou as suas músicas mais badaladas na internet, combinando indie rock com electrónica e com toques experimentais.
Portugal foi o ponto de partida para a digressão europeia de “Run Fast Sleep Naked”, o mais recente álbum, onde assume por completo o novo nome artístico de Nick Murphy. Em entrevista à NME, afirma que a mudança aconteceu porque mudou a sua mentalidade: «Já não me questiono sobre ‘O que é fixe?’, agora questiono-me sobre ‘O que é que gosto?’».
A presença no Coliseu dos Recreios, na primeira noite de Outubro, veio apresentar esta nova faceta, mas não excluiu os trabalhos anteriores.
Começamos com a faixa que abre as portas do novo álbum. “Hear it Now”, com uma introdução alternativa ambiental (provavelmente criada para os concertos), até à entrada em simultâneo da bateria, baixo, sintetizador e saxofone, que marcariam presença durante todo o espectáculo – desaparecendo apenas por momentos na secção das baladas. Tal como no contexto do álbum, foi uma boa inauguração do especto sonoro de Murphy, com improvisações na guitarra e saxofone.
“Gold” foi disparada em segundo lugar. Talvez o maior sucesso comercial de Nick quando ainda era Chet. A opçãode “despachar” uma das suas maiores conquistas no início do concerto foi inesperada. Seria de esperar guardar a faixa mais reconhecida para o final, mas talvez o propósito seja largar o peso que carrega nas costas dos êxitos anteriores e focar-se na sua nova vida. A execução foi incisiva e a plateia no centro do Coliseu já tinha o que queria para começar o movimento. Mas o final de “Gold” não chegou.
A faixa transitou, sem paragens e com a ajuda dos sintetizadores, para “1998”, que inclui um ritmo mais electrónico e dançante, com produção ligeiramente “glitch” e samples de vozes no background. Antes de terminar “1998”, o instrumental voltou a ser dominado pelos sintetizadores, lembrando as acrobacias dos Disclosure.
A energia ficou mais íntima e serena com “Harry Takes Drugs On The Weekend”, uma meia-balada onde o baterista Robby Sinclair recorre a sinos para abrilhantar a sonoridade. Mas o verdadeiro trunfo desta música surgiu com o solo de saxofone, por parte de Grant Zubritsky, além de ser um óptimo complemento à música, permitiu esquecer a forte utilização dos sintetizadores. A verdadeira balada aconteceu com “I’m Into You”. Murphy ficou sozinho em palco e, à frente de um visor totalmente preenchido pela cor vermelha, cantou suavemente os versos românticos enquanto assumia também o papel de teclista.
Um momento caloroso que foi extremamente bem recebido pelos presentes com várias ovações, mesmo durante a reprodução. “Novacaine and Coca Cola” continuou o ritmo desacelerado, mas com os restantes instrumentos novamente presentes.
Também encontrámos “The Trouble With Us”, “Birthday Card” ou “Believe Me” ao vivo e antes do encore chegou outro momento esperado pela plateia – “Talk is Cheap”. A faixa foi picada com uma melodia no piano que não enganou os mais atentos, mas quando entrou o saxofone, o Coliseu dos Recreios encheu-se de barulho. A melodia de voz em “Talk is Cheap” é uma das maiores realizações de Nick Murphy e a performance ao vivo fez justiça à gravação de estúdio.
Depois do encore, “Dangerous” e “Sanity” fecharam um concerto que foi dividido entre momentos animados e tranquilos. Um equilíbrio entre felicidade e reflexão, procurando sempre o melhor dos dois estados de espírito.