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NOS Alive 2022: Metallica e a Arte de Titerear uma Multidão

NOS Alive 2022: Metallica e a Arte de Titerear uma Multidão

2022-07-08, NOS Alive, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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De regresso ao NOS Alive, e perante 55 mil devotos, os Metallica jogaram a cartada do legado e percorreram ao longo de duas horas quase todo o catálogo de uma carreira que já conta com 41 anos.

Quando foi anunciado o cartaz para o terceiro dia do NOS Alive 2022 certamente que muitos, tal como nós, franziram o sobrolho. As discrepâncias sónicas revelavam-se impercetíveis, pois nada no lineup, principalmente do palco NOS, parecia harmonizar com o heavy metal musculado dos Metallica, que foi neste dia antecedido pelo rock alternativo dos Don Broco, pelo rapper AJ Tracey e ainda pelo garage rock dos Royal Blood. Aliás, torna-se ainda mais caricato se recordarmos que a última, e única, passagem dos Metallica no Alive foi na mítica edição de 2009, ano em que a mesma organização conseguiu realizar o sonho molhado de qualquer metaleiro ao juntar no mesmo palco os pesos pesados RAMP, Lamb of God, Mastodon, Machine Head, Slipknot e claro os Metallica.

Todavia, há que aceitar que com o passar dos anos os sinais da mudança dos tempos e das vontades também atingiram o Alive, que se apresenta agora como um festival mainstream, mas se há algo que já aprendemos com os fãs dos Metallica é que independentemente do contexto em que toquem os mais devotos responderão sempre à chamada. A  noite de 8 de Julho não foi exceção, e 55 mil metaleiros, e muitos curiosos, esgotaram o Passeio Marítimo de Algés para testemunhar, pela décima quarta vez, o legado daquela que é para muitos a maior instituição musical do mundo.

A Algés os Metallica trouxeram a sua European Tour 2022, uma digressão exclusiva de festivais e que não está associada à promoção de um novo álbum. Desta forma, o concerto resultou numa setlist retrospetiva em jeito de celebração do legado que a banda tem vindo a construir ao longo destes 41 anos de carreira.


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Pouco passava das 23:00 quando a banda subiu ao palco, mais precisamente à dianteira do seu já famoso “snakepit” para, após a sempre emotiva “Ecstasy of Gold”,  iniciar o concerto com a frenética “Whiplash”. Extremamente saudada pelos fãs mais old school, o malhão de “Kill ‘Em All” (1983) não deixou ninguém pregado ao chão e rapidamente se viram copos de cerveja a voar e pequenos moshs à volta do palco, estava instalada a balbúrdia. Alguns, certamente menos habituados a estas andanças, e que achavam que iriam ver o concerto tranquilamente na frente do palco começaram a fazer o trajeto inverso com o intuito de procurar um lugar mais recatado para poderem desfrutar do espetáculo. O concerto prosseguiu com o primeira espreitadela a “Ride The Lightning”(1984) a ser feita na forma de “Creeping Death” e com o seu refrão bíblico a ser entoado a plenos pulmões.

Perante um público também ele bastante heterógeno, como é tendência no Alive, certamente que muitos só após a passagem pela mais acessível “Enter Sandman” é que se começaram a sentir como parte da família Metallica que ali se encontrava reunida e que James Hetfield cumprimentou logo assim que terminou o tema do “Black Album”(1991). Mas nem só de clássicos se constrói a carreira dos Metallica, e celebrar todo o seu legado implica também passar por álbuns menos acarinhados pelos fãs como é o caso de “Death Magnetic” (2008), que surgiu com o grooove de “Cyanide”, “St. Anger” (2003) através da b-side “Dirty Window”, ou ainda “Hardwired to Selfdestruct” (2016) com “Moth Into Flame” a proporcionar o maior, e possivelmente o único, espetáculo pirotécnico desta edição do festival.

Lars Ulrich continua a ser o coração da banda que juntamente com o baixo trovejante de Robert Trujillo dá a pulsação necessária para que os solos virtuosos de Kirk Hammet e a harmonia rítmica de James Hetfield estejam sempre entrosados.

A idade já não perdoa, e os Metallica sabem perfeitamente quais são os limites das suas capacidades físicas e técnicas, afinal de contas são 41 anos e segundo Hetfield: «we’re still kicking ass». Claramente não com a mesma pujança de outros tempos, mas a entrega continua lá. Lars Ulrich continua a ser o coração da banda que juntamente com o baixo trovejante de Robert Trujillo dá a pulsação necessária para que os solos virtuosos de Kirk Hammet e a harmonia rítmica de James Hetfield estejam sempre entrosados.

O concerto prosseguiu de forma bastante mecanizada, algo pouco natural quando estamos a falar de uma banda dá espaço para uma certa personalização dos seus concertos. Ainda assim, trata-se apenas de um detalhe que só solidificou a performance do conjunto.

Para qualquer ouvinte ocasional de Metallica, (e por ouvinte ocasional falamos daquele ouvinte que apenas escuta a banda quando esta passa, eventualmente, na rádio), o momento mais chamativo da noite foi certamente “Nothing Else Matters”, essa power ballad que é tantas vezes renegada pelos fãs mais conservadores, e que em Algés foi entoada por milhares de miúdos, graúdos, metaleiros e ouvintes que genericamente afirmam “eu só gosto de uma música”. A reação não poderia ter sido de maior euforia, tal foi o enorme coro que acompanhou a música e ao qual James Hetfield exclamou: «Vocês cantam lindamente!». Mas deixemo-nos de lamechices e voltemos à carga. “Sad But True”, “For Whom the Bell Tolls” e “Seek and Destroy” colocaram o pé no acelerador para uma reta final demolidora, e nem a festiva “Whiskey  in the Jar” e  a melancólica “Fade To Black” foram capazes de contrariar a alta voltagem que circulava entre a banda e o público.

Para o encore os Metallica reservaram uma surpresa.”Damage, Inc.” de “Master of Puppets” (1986) soou robusta e deliciou todos aqueles que desesperam por ouvir as faixas mais obscuras que a banda não toca com tanta frequência. Já “One” apresentou-se como a única visita a “And Justice For All” (1988), e independentemente de ser um tema soberbo não descartamos a preferência de poder ter ouvido algo menos rodado, como é por exemplo o caso da faixa titulo. Mas o relógio já batia quase as duas horas de concerto e ainda faltava ouvir a faixa que catapultou os Metallica novamente para o mainstream, estamos a falar obviamente de “Master of Puppets” que, ao irromper numa cena da série da Netflix “Stranger Things” trouxe toda uma nova atenção para a banda de São Francisco. Com muito mosh à mistura e sing alongs ruidosos a acompanhar a letra e as harmonias solísticas tocadas por Hammet e Hetfield estava encontrado o final certeiro para uma noite que se fez de celebração e que terminou com uma enorme chuva de fogo de artificio.

«Lisboa, nós adoramos-vos e mal podemos esperar por vos ver outra vez», disse Lars Ulrich nas despedidas. O sentimento é mútuo.

SETLIST

  • Whiplash
    Creeping Death
    Enter Sandman
    Cyanide
    Wherever I May Roam
    Nothing Else Matters
    Dirty Window
    Sad but True
    Whiskey in the Jar
    For Whom the Bell Tolls
    Moth Into Flame
    Fade to Black
    Seek & Destroy
  • Encore:
    Damage, Inc.
    One
    Master of Puppets