NOS Alive 2023: Idles mostraram como se faz Punk selvagem aos fãs do R&B de Lizzo
2023-07-07, Nos Alive, LisboaDe regresso ao NOS Alive, os Idles sofreram do mesmo síndrome dos Puscifer. A banda punk inglesa subiu ao palco antes da cantora Lizzo e teve que tentar cativar um público completamente alienado e indiferente à “barulheira” harmoniosa proporcionada pelo grupo de Joe Talbot.
Da já considerável lista de artistas repetentes do NOS Alive, os Idles são um dos casos mais interessantes. A par com Sam Smith, que actuou dia 8 de Julho, no festival, ou com os The 1975, os Idles são dos poucos projetos que se estrearam no NOS Alive a tocar no palco secundário, neste caso em 2019, e que no seu regresso foram promovidos para o palco principal. Contudo, isto nem sempre é sinal de ser uma bênção. Neste caso até podemos dizer que foi mais uma espécie de maldição, porque no alinhamento a banda britânica de hardcore punk foi colocada a “abrir” para a cantora R&B Lizzo, algo que naturalmente não resultou na perfeição face à disparidade gigante no que diz respeito à falange de ouvintes dos dois artistas. Sobre a banda pouco há acrescentar, e não fizeram menos do que estávamos à espera! O teste do palco principal teve claramente nota máxima, pena que os chakras não estivessem alinhados para terem, por exemplo, actuado antes dos Queens Of The Stone Age (e os Linda Martini poderiam ter acompanhado) e teria sido perfeito.
Ainda assim a banda de Joe Talbot não se acanhou e apresentou a tipologia de espetáculo que os popularizou, uma selvajaria assente numa cacofonia organizada com a entrega inata do punk rock.
Ainda assim a banda de Joe Talbot não se acanhou e apresentou a tipologia de espetáculo que os popularizou, uma selvajaria assente numa cacofonia organizada com a entrega inata do punk rock. Na bagagem trouxeram “CRAWLER” de 2021, que já tinha sido apresentado em nome próprio no concerto do Coliseu dos Recreios do ano passado. Desta forma, este concerto do NOS Alive tinha mais como objetivo apresentar uma setlist em formato best of de forma a cativar novos fãs. Escusado será dizer que dificilmente terão conseguido angariar uma nova legião. Mas para os que já conheciam o formato fizeram de tudo para acompanhar a banda e até tímidos moshpits se iam vendo dispersas entre t-shirts de Arctic Monkeys.
“Colossus” de “Joy As An Act For Resistance” foi a malha escolhida para abrir o concerto. Talbot surge a berrar no mic com fita “anti-suor” na cabeça, como se o concerto se tratasse de uma prova desportiva. Aliás, muitos fãs defenderam que ir para o mosh num concerto de Idles equivale a um treininho de cardio no ginásio, mas parece que na sua generalidade apenas o público que se concentrava mais à frente do palco é que estava para aí virado.
Logo à segunda música, Lee Kiernan mandou-se para o público no seu já famoso stage dive enquanto toca guitarra, e por momentos apostamos que Kiernan, provavelmente se arrependeu, indo quase ao chão.
“Mr. Motivator” tentou fazer jus ao seu nome, mas apenas arrancou aplausos das filas da frente, poucos, mas bons! Enquanto o público se mostrava bastando disperso, íamos prestando atenção ao material em cima do palco. Mark Bowen é uma personagem dentro do espetáculo, sempre com o seu vestido, sacou várias vezes a sua EG 500 em acrílico, estando esta conectada a um Orange AD200B MKIII e a um Hiwatt Custom 100 DR103, que por sua vez estão ligados a uma coluna Hiwatt SE212115CF SUPER-HI e uma Orange PPC212 1×12. Já Lee Kiernan recorreu às suas Fender Mustang em Shell Pink e Fender American Professional II em azul, ambas amplificadas por dois half stacks, um com um Marshall JCM800 e outro com um Plexi. Quanto ao baixista Adam Devonshire, este utilizou um Fender Jazz Bass apoiado por um Fender Bassman e um Hiwatt Custom 100 DR103, o mesmo que Bowen utiliza e que é na verdade um amplificador de baixo.
Prosseguindo com o alinhamento, “I’m Scum” apresentou-se como uma boa representação do sentido de humor que se encontra implícito nas músicas dos Idles. Ainda assim não passou despercebida devido à polémica frase, «Que se f*da o rei!», que Joe Talbot despejou no início da faixa. Já “Wizz” foi o aceno da banda ao punk rock mais curto e incisivo, afinal de contas só tem 30 segundos.
“The Wheel” com o seu «Can I get a hallelujah?» invocou alguns cânticos, enquanto o hino “Never Fight A Man With A Perm” foi dos momentos mais efusivos, proporcionando algumas gargalhadas entre aqueles que conhecem a sua letra. A fechar a actuação de cerca de 50 minutos ainda se ouviu “Danny Nedelko” e “Rottweiler”.
As despedidas foram instantâneas e quase inaudíveis com a apatia do público na sua generalidade, à excepção dos resistentes, que não se importaram nem com o calor, nem com o horário, nem com o alinhamento do palco, suando e muito.
Para aqueles que estavam a presenciar esta prestação efusiva da banda e não mexeram sequer um pé ou um abanar de anca, cabeça, o que quiserem, resta-nos apenas dizer: Idles perdoem-lhes, pois eles não sabem o que ouvem. Para os conhecedores que se deslocaram para ver o habitual bailarico da banda, não foi dos concertos mais memoráveis, por culpa do ambiente de festival, mas terão certamente na memória concertos como o do Primavera, do Paredes de Coura, do Coliseu e/ou do palco Heineken em 2019, em que todos estavam em perfeita comunhão.
SETLIST
- Colossus
Car Crash
Mr. Motivator
Mother
I’m Scum
Divide and Conquer
Crawl!
Wizz
The Wheel
The Beachland Ballroon
Never Fight A Man With A Perm
Danny Nedelko
Rottweiler