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O som abrasivo dos Fuck Buttons

O som abrasivo dos Fuck Buttons

2014-05-22, Lux
Timóteo Azevedo
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Lux bem composto, numa noite onde a densidade e o som abrasivo da dupla inglesa bateu mais do que qualquer estupefaciente.

“Nós usamos os nossos dispositivos electrónicos como se fossem instrumentos. Não lemos manuais de instruções para ver como se fazem as coisas, nós mexemos nas coisas”, dizia a dupla Andrew Hung e John Power em entrevista à Arte Sonora, por altura do Primavera Sound do ano passado (podem ver a entrevista aqui). Estava, portanto, na linha das minhas expectativas comprovar a veracidade disso. Após uma hora e tal de exposição a sons “tweakados”, com uma densidade que suponho ser igual à pressão atmosférica que se sente em Vénus, tudo se cumpria como prometido.

Atarefados na sua parafernália, a atenção do duo não se desviou muito do equipamento que tinham à sua frente, e víamos e ouvíamos, em tempo real, o resultado daquilo a que se pode chamar de abordagem orgânica. O som, extremamente abrasivo, era manipulado por Andrew e John com visível devoção. Mesmo com tampões, ou, para os menos precavidos, como eu, um rolinho de papel higiénico, nos ouvidos, o som entrava em nós, e cá dentro, forte, fazia estremecer os órgãos.

Desde o momento de abertura do concerto, que, igualmente ao “Slow Focus”, o último álbum da banda, foi feito com os tímbalões ribombantes de “Brainfreeze”, até ao final, foram várias as manifestações por parte do público: uns dançam genuinamente, alguns braços no ar, e, no geral, um abanar de cabeças que parece mais headbanging que outra coisa.

Poderíamos esperar que se concentrassem no último álbum, mas acabaram por percorrer todos: ouviu-se a “Colours Move” do primeiríssimo “Street Horrrsing”; “Olympians” e “The Lisbon Maru” de Tarot Sports, mas também, do “Slow Focus”, dançou-se ao som da “Red Wing”, “Sentients” e “Hidden Xs”. Tudo isto antes de um pequeno encore protagonizado pela “Sweet Love For Planet Earth”.

Perante Fuck Buttons ficamos em dúvida: isto é música extrema electrónica ou é música electrónica extrema?