Passaram, sensivelmente, 6 anos desde o lançamento do EP “É Uma Água” e que os Paus emergiram como uma das mais refrescantes propostas do panorama musical do país. Desde aí, de todas as invejáveis qualidades agregadas pela banda, com o decorrer de sucessivos lançamentos de valor, é difícil identificar a contenção ou a delicadeza entre elas. Todavia, é esse o caminho que seguem no seu terceiro longa-duração. Em “Mitra” há mais exploração vocal e nas baterias siamesas, mas uma redução da pujança que deu corpo à obliquidade de “Clarão” (2014) e ao primitivismo de “Paus” (2011).
Por bem-vindos que sejam os devaneios experimentais de uma banda experimental (redundância tão propositada quanto desejável), os melhores momentos que os Paus nos oferecem, neste álbum, brotam de território já desbravado. “Mo People”, “Mancha Negra” e “Fumo” são resquícios da banda que nos trouxe bigornas como “Nó” e “Negro” no trabalho anterior. “Olhos de Asma” lembra “Língua Franca”. Não é como se as inovações fossem total e imediatamente descartáveis, até porque os Paus conseguem fazer transparecer aspectos da sua intrínseca estranheza nas suas músicas; simplesmente se lamenta que essa sua característica colida com a reformulação estética, removendo algum poder e frontalidade ao álbum.
Tal como o mitra não é nem da cidade nem do subúrbio, subsistindo em ambos, os Paus deambulam esteticamente neste disco.