Não é nenhum mistério para o ouvinte, o reforço de guitarras que tem este álbum. Isso é notório logo a partir do tema de abertura, “Velocity Bird”, e até de ser o primeiro álbum gravado por um guitarrista como Mark Thwaite, com uma profunda escola gótica e que teve mesmo contactos com o mundo industrial dos Ministry, através de colaboração com o baixista destes, Paul Raven – ouça-se “Uneven & Brittle”, a música com Thwaite nos créditos como autor e todas estas correntes se percebem muito facilmente.
Aliás, ao contrário de outros discos do veterano Peter Murphy, este nono álbum da sua carreira a solo é absolutamente despretensioso. É de facto um álbum simples e directo, que se ouve duma ponta à outra – as paragens ficam em momentos como “The Prince & Old Lady Shade”, “Secret Silk Society” ou até a ligeireza da balada conduzida a “Crème De La Crème”, com um romantismo ingénuo, puro e cheio de vida (que brota até da própria voz de Peter Murphy, quando estávamos habituados às suas entoações carregadas de cinismo) – uma surpresa, que repetimos logo na primeira audição.
O equilíbrio da produção é um dos grandes destaques do álbum. Um tamanho enorme no corpo dinâmico, sem comprometer o balanço compacto que flui do disco – que se ouve como se sente uma brisa, inesperadamente passou e ansiamos senti-la de novo. A simplicidade será sempre uma das grandes armas da música.