Post Malone, Coragem & Devoção no Tributo a Nirvana
2020-04-24, YouTubePara nós foi uma tremenda surpresa. Post Malone foi capaz de captar muito daquilo que fez a maior parte de uma geração adorar os Nirvana, tendo ainda o mérito de, em absoluta devoção a Kurt Cobain, conseguir imprimir o seu próprio carácter.
Os preconceitos, pois… Quando o concerto (melhor, o livestream) foi anunciado, devemos confessar as nossas reticências. Porque evocar o carisma das canções de Nirvana parecia um passo demasiado arrojado; porque até hoje, diga-se sem rodeios, encarávamos Post Malone como um “boneco” criado pelo indústria; porque apesar das suas muitas tatuagens, o músico parecia ter uma superficialidade por demais evidente (sim, tu que fizeste uma manga porque é moda padeces desse mal) e porque, pouco mais significava do que um rapper que fizera coisas com o Ozzy Osbourne.
A realidade… Além de ter arrecadado a impressionante quantia de mais de 2 milhões e meio de dólares para a Organização Mundial da Saúde, com o dinheiro a ser usado na luta contra o novo Coronavírus, Post Malone esteve à altura do legado das canções dos Nirvana que escolheu interpretar.
Extremamente bem acompanhado por Travis Barker (dos blink-182) na bateria, Post Malone conseguiu captar muito daquilo que fez a maior parte de uma geração adorar os Nirvana, tendo ainda o mérito de, em absoluta devoção a Kurt Cobain, conseguir imprimir o seu próprio carácter. Superficialidade zero. E excelente aproximação ao “vibe” de canções como “In Bloom”, “Drain You”, “Come As You Are”, “Heart-Shaped Box”, “Lithium”, entre outras. Além disso, foi uma bela surpresa ouvir sujeira como “School” ou “Very Ape”.
Se nos ligámos ao directo no YouTube para espiar dois ou três minutos, ficámos agarrados ao que soou como um verdadeiro concerto underground durante mais de uma hora.
Não nos podemos afirmar como grandes fãs de blink-182, mas teríamos que ser tolos para menosprezar a bomba de baterista que é Barker. A sério, que brutalidade de actuação! Com uma guitarra nas mãos, Malone mostrou-se descomplexado e fluído. Se para alguns puristas será difícil enfrentar a crescente rebaldaria de afinação das guitarras, a verdade é que, pelo menos nos seus primeiros anos, essa era uma constante nos próprios Nirvana. Nunca foi esse o encanto da banda de Seattle.
O baixista Brian Lee cumpriu de forma sólida e Nick Mack arredondou o som de guitarras, dando maior consistência harmónica e melódica a este “concerto”. E, se algum defeito significativo houve foi, talvez, um excessivo processamento de efeitos no som das guitarras. Os quatro músicos actuaram em salas separadas na casa de Malone, em Salt Lake City. Que software usaram para a notável ausência de latência entre som e imagens… Se souberem avisem, também curtíamos descobrir.
Para terminar, destaque-se a forma desassombrada como, sem falsas modéstias, confessou num dos momentos em que falou com a “plateia”: «Esta deve ser a primeira vez que actuei sem auto-tune, todos sabem que sou uma bela m*rda a cantar».
SETLIST
- Frances Farmer Will Have Her Revenge on Seattle
Drain You
Come as You Are
Lounge Act
School
Heart-Shaped Box
Something in the Way
About a Girl
Stay Away
Lithium
Breed
On a Plain
Very Ape
Territorial Pissings
In Bloom