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Primavera Sound | DIA 1

Primavera Sound | DIA 1

2013-05-30, Parque da Cidade, Porto
Nero
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A Primavera tem sido tímida este ano. A ideia de vir descobrir calor através da música é um cliché, mas por vezes lugares comuns são bem acolhedores.

Assim a viagem pela A1 faz-se ao som de um clássico, “Presence” dos Led Zeppelin e sob as solarengas palavras de Robert Plant, que nos diz que os “days went by when you and I bathed in eternal summer’s glow”.

Ainda existem dessas bestas antigas no mundo, leviatãs de poder primitivo com a capacidade de nos subjugar ao seu poder. Uma dessas criaturas é Nick Cave. Bad Seeds… Más sementes, “má rês”. Sabemos quem são e vice-versa, é a história niilista de olhar o abismo e ele olhar-nos de volta, pois Cave canta-nos “We No Who U R”. O novo álbum, “Push the Sky Away” ocupará metade da setlist que percorre ainda clássicos como “From Her to Eternity”, “The Good Son”, “Henry’s Dream” e um personal favorite, a história do desesperado “Stagger Lee” – a extensão do tema ao vivo leva a ainda mais assassinatos que só terminam no mexican standoff com o próprio Grande Bode. Uma actuação que nunca atinge a fúria com que nos agride em Grinderman, mas com muito mais subtilezas dinâmicas. A entrega de cada um dos músicos em palco é algo que não surpreende, cada nota é motivo de entrega e gotas de suor como sempre aconteceu nas actuações dos Bad Seeds. O psicadelismo cabaret blues de Cave é tão ostensivo que força o gosto. Um “mau gosto” de bom gosto.

Há também forças benignas em nosso redor. Forças que fazem a “morte dançar”. Já restam poucas metáforas para a voz de Lisa Gerrard. Para a sua imponência doce e maternal – sob esse som sentimo-nos filiados, “Children of the Sun”, passe o paradoxo de este ser um dos temas cantados por Brendan Perry. “Anastasis” irá ocupar a maioria da setlist, mas é inevitável ouvir o encanto de “Song to the Siren” ou o exotismo de “Nierika”. Talvez cientes de ocupação de um palco/ambiente pouco apropriado às subtilezas da expressividade da sua música, os Dead Can Dance soaram com maior vigor e exuberância nas percussões, o mesmo sucedendo com o trabalho de Brendan Perry na bouzuki. A única coisa que se poderia apontar à actuação foi a ausência do fascinante “Rakim.

Entre The Breeders, Deerhunter ou James Blake esses foram os picos emocionais. Isto apesar de Blake ter surgido decidido a mostrar o quanto evoluiu nos seus desempenhos ao vivo. Continua tímido, mas capaz de personificar uma cornucópia de sentimentos através das suas composições minimalistas, embora já revele uma segurança a cantar que não possuía antes em palco. E a honestidade da sua voz é a chave do concerto, a meio do minimalismo sonoro patenteado – um sentido que é transportado também para a execução, pois 70% do que se ouve provém da programação controlada pelos 3 músicos. Nesse sentido poderia encarar-se a actuação como desinteressante, mas não estivemos num concurso de virtuosismo. Estivemos, sim, diante de testemunhos primaveris, de transposição entre o som e a leveza das promessas da Primavera.

As viagens determinam o seu próprio tempo. Essas condicionantes impediram a Arte Sonora de conseguir testemunhar actuações pelas quais ansiava, especificamente os nuestros hermanos Guadalupe Plata e os Merchandise.

Assim se viveu o primeiro dia de Primavera Sound.

 

FOTO: Hugo Lima