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Reverence Valada: Um Opaco Brian Jonestown Massacre e a Exuberância de Dead Meadow

Reverence Valada: Um Opaco Brian Jonestown Massacre e a Exuberância de Dead Meadow

2016-09-10, Parque de Merendas Valada do Ribatejo
Pedro Miranda
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Enquanto o trio de Washington, D.C. deu provas do seu valor na ribalta do festival, o nome mais querido do Reverence 2016 não resistiu a desapontar.

Comodismos à parte, o Reverence nunca foi, para os seus mais vincados fãs, um festival de cabeças-de-cartaz. Repleto de nomes dos mais variados cantos do mundo e quase sempre propenso à mais interessante descoberta musical, nunca se resumiu a uma lógica de “grandes bandas”. Posto isto, já foi vítima de um grupo de destaque que não esteve a par das expectativas: em 2015, The Horrors davam um concerto competente para quase ninguém, nada que afectasse, apesar de tudo, o sucesso do evento. Este ano, presenciou-se a situação diametralmente oposta: o nome tido como o maior e mais influente do festival esteve longe de demonstrar a entrega ou competência necessárias, apesar do público avolumado que perante ele compareceu.

É, de certa forma, até bastante surpreendente o quão aquém ficou a actuação de Brian Jonestown Massacre, tal foi a vulnerabilidade que mostraram no slot de eleição do Sontronics. Foi, acima de tudo, uma apatia descomunal a que transitava do palco para o público: sete músicos, quase todos claramente já longe do seu pico performativo, aparentemente no mais aborrecido papel que já se viram forçados a desempenhar. Entre os instrumentos em palco, três guitarras (pelo menos uma delas completamente redundante, principalmente dada a fraqueza com que nos chegavam os temas), e o tradicional tamborim de Joel Gion (de longe o mais entediado de todos eles), aliados a um som deficiente e pouco interessante. O concerto era ocasionalmente marcado por alguns sinais de vida, mas rapidamente retornava à monotonia disfarçada de psicadelismo e “boas vibrações” pelo qual se pautou – o que é curioso, considerando que The Brian Jonestown Massacre fora outrora um grupo reputado pela sua irreverência e experimentação. Uma péssima paródia de concerto revivalista e uma ofensa aos fãs que tão fielmente se dispuseram a ouvi-los.

Mas o segundo dia de Reverence não passaria sem redenção, e entre os artistas que operariam esse contraste com a banda de Anton Newcombe (A Place to Bury Strangers e o improviso de Papir com Doctor Space incluir-se-iam também nessa lista) estão Dead Meadow. Combinando as tradições do psych e do stoner que abundam no Parque das Merendas, foram ainda assim capazes de imprimir-lhes o seu próprio cunho distinto, muito por culpa dos interessantes movimentos que imbutiam em cada canção, momentos intensamente climáticos e a voz característicamente arrastada de Jason Simon. Como bom grupo de stoner, o peso estava presente, mas Dead Meadow geriam-no com admirável graciosidade, enlaçando com brio e destreza os momentos que levavam o público do quase-silêncio ao ruído extremo e dos vagarosos solos de baixo aos frenéticos de guitarra. Munidos de surpreendente exuberância para um género de contornos geralmente tão brutos, retiveram a potência que se quer do Reverence, num equilíbrio que não poderia produzir senão bons resultados. Destaque para a temperamental “Eyeless Gaze All Eye/Don’t Tell the Riverman” e uma das suas canções de assinatura, a encerradora “Sleepy Silver Door”.