Rock in Rio Lisboa – reportagem 3º dia
No arranque do terceiro dia estiveram, segundo a organização, 74 mil pessoas e uma plateia populada de famílias, mais que nos primeiro fim de semana – talvez por ser o dia da criança, ou pelo cartaz, não faltaram crianças e adolescentes a explorar concertos, recolha de brindes e animação variada, como a montanha russa ou roda gigante. Mas quem ali foi pela música saiu satisfeito.
PALCO MUNDO
Por Inês Lourenço
O palco Mundo abriu em bom português, com os Expensive Soul.
Aqui na redacção debatiam-se ideias e chegamos à conclusão que nenhum de nós alguma vez viu um mau concerto dos Expensive. Não é sorte, é talento. E numa edição anterior a banda arrasou o Sunset, desta vez foram grandes no Palco Mundo, ao nível dos internacionais. O concerto foi baseado principalmente no último álbum, “Utopia”, e não faltaram os grandes êxitos já bem conhecidos do público, como “13 Mulheres”, “Falas disso” ou “Eu não sei”.
E foram bons representantes de Portugal, ora pedindo para cantar o Hino Nacional no final da sua actuação, ora puxando pela Selecção portuguesa. E para cantar “Amor é mais mágico”, subiram ao palco atletas olímpicos e paralímpicos portugueses. Entre eles também Rosa Mota, “O orgulho da nação”, como a descrevem.
Nota positiva para o concerto em geral, mas com ênfase na energia em palco da dupla New Max e Demo, incansáveis na interacção com o público. E uma nota para a banda, que lhes dá o suporte que lhes permite brilhar.
Set List
Tem calma contigo
Dou-te nada
Deixei de ser bandido
Só contigo
O amor é mágico
13 mulheres
Brilho
Falas disso
Sara
Eu não sei
Hoje é o dia mais feliz da minha vida
Depois dos portugueses Expensive Soul, viajamos até ao Brasil com Ivete Sangalo, que já faz parte da mobília da casa, Ivete esteve presente em todas as edições do Rock in Rio Lisboa. Pouca novidades há no concerto de Ivete, é um espectáculo de “tirar o pé do chão”, carregado de boas energias, para dançar até não poder mais. Nesta edição do RIR, o momento inesperado da noite foi ver Ivete Sangalo sentada ao piano a cantar “Easy” da banda Commodores, e eternizada por Faith No More. Hits como “Beleza Rara”, “Cadê Dalila”, “Arerê” ou “Sorte Grande” fizeram levantar poeira.
Maroon 5, pela primeira vez em Portugal eram aguardados por grande parte do público feminino adolescente, pois para além dos singles passados massivamente nas rádios portuguesas, Adam Levine, vocalista da banda, cria sensação junto do público feminino, que berra por ele ao som dos grandes êxitos da banda. “This Love”, “Misery”, “Won’t Go Home Without You” ou “Moves Like Jagger”, foram os momentos altos do concerto. Para o final estava a tão esperada “She Will Be Loved”, dedicada a todas as mulheres presentes, que primeiro foi cantada num momento mais intimista apenas com voz e guitarra e com público em sing along, mas que no final acabou com toda a banda a acompanhar e que levou a audiência ao rubro. Um dos momentos da noite. Os Marron 5 trouxeram-nos bom pop rock e foi uma boa estreia em Portugal.
Set list
Payphone
Stereo Hearts
This Love
Harder to Breathe
Sunday Morning
If I Never See Your Face Again
Misery
Makes me Wonder
The Sun
Won’t Go Home Without You
One More Night
Wake Up Call
Moves Like Jagger
Hands All Over
She Will Be Loved
Por TLF
É a segunda vez que vejo Lenny no Rock in Rio e fica a vontade de ver de novo, porque começa a ser tradição que cada concerto dele supere o anterior. Foi sem dúvida uma excelente actuação, com jam à séria e mesmo quem não aprecie as suas músicas sai dali satisfeito com a música per se. O Lenny não está ali a debitar single após single intercalando com músicas que enchem os minutos necessários no palco. Há uma grande coesão entre a banda e espaço para cada músico brilhar – que o diga o trompetista com direito a vários solos. No fundo, é música para músicos, com exibicionismo q.b.
A entrada em palco faz-se com “Come on Get it”, só com micro, mas a segunda música, “Always on the run” fá-lo de imediato tocar na Les Paul e quando chega “American woman” o público já não desprende mais, até ao fim.
Entre “Mr. Cab Driver” e “Black and White America” há um momento assinalável onde cada instrumento disputa cordialmente o palco, com os restantes a entrar pontualmente em cena para criar o ambiente e a base que permitem que “os cinco minutos de fama a solo” de cada sejam brilhantes. Lenny deixou a fasquia alta para os dois dias que faltam. Mas na verdade, também só aí vêm dois colossos, não é?
PALCO SUNSET
The Black Mamba, por TLF
No Sunset, The Black Mamba fazem parceria com Tiago Bettencourt e se os primeiros são ainda desconhecidos da grande maioria do público, o Tiago conta já com fiéis seguidores (não seria impróprio dizer fiéis seguidoras, dado o número de fãs adolescentes que o recebem entusiasticamente). Mas o calor do público não foi suficiente para aquecer o músico, que faz uma actuação competente, mas pouco vibrante – um “boa tarde” assim que se sobe a palco não fica mal a ninguém, e se há uma mão cheia de músicos que se pode dar ao luxo de não se dirigir ao público, a grande maioria não está nessa stuação e energia puxa energia.
Não é de todo justa a comparação porque em número o Tiago está claramente em minoria, mas é verdade que os The Black Mamba ofereceram mais às suas músicas que aquilo que receberam.
Orelha Negra + Hyldon + Kassin, por Diana Ferreira
Orelha Negra é um dos projectos mais refrescantes da música mais recente feita em Portugal e Hyldon é já um clássico da música brasileira e Kassin um dos melhores produtores brasileiros e músico altamente experimentalista. E se houve combinações de artistas algo improváveis, esta fez todo o sentido. Todos partilham o mesmo groove, Hyldon é músico de um estilo que os Orelha arriscam samplar e Kassin poderia muito bem ser um novo criativo da banda.
Se tinha tudo para resultar na perfeição, o resultado na verdade podia ter sido muito melhor. A dinâmica não foi constante e houve picos, também houve partes muito… mortas. Com maioria de público português a assistir, dois momentos altos foram “M.I.R.I.A.M” e a tão desejada “Cura”, mas não foi o suficiente para agarrar o público e os Orelha estavam em low charge mode.
Boss AC, por TLF
Boss AC subiu ao palco Sunset acompanhado pela sua (grande) banda, pelos Shout [coro de gospel português] e pelos “irmãos” brasileiros Zé Ricardo e Paula Lima. Uma excelente parceria, que proporcionou um dos melhores momentos vividos no Palco Sunset (entre os vários dias).
Ao Hip Hop de Boss AC juntou-se os muitos sons do Brasil – AC ainda arriscou uns passinhos de Samba – e ainda incursões pela restante América Latina.
Com uma imensidão de músicos em palco, foram-se ouvindo os êxitos de Boss AC, como “Hip Hop”, “Princesa” ou “Tásta a bater”, que o público acompanhou sem hesitar. Ainda houve tempo Tim, dos Xutos, subir a palco para cantar “Exacto Momento” de Zé Ricardo. Mas foram os temas de AC que reinaram na actuação. Para o final não podia faltar um dos singles mais esperados: “Sexta-feira (Emprego Bom Já)”. E foi a festa! Tanto em cima do palco como na plateia miúdos e graúdos cantaram em uníssono. O fim veio com “Basa Basa”, mas o público só basou porque a isso foi obrigado. O tamanho do palco não importa e este concerto foi a prova disso, mas justiça seja feita… era uma actuação para ir ao palco mundo!
Uma peça fundamental na actuação foi o técnico de som. A quantidade de músicos em palco podia ter criado uma grande salganhada para profissionais menos experientes, mas foi-nos oferecida uma clareza digna de nota.