“O Método”, de Rodrigo Leão, é um exercício mais embrenhado na electrónica e com um carácter instrumental. Com um foco ambiental bastante alargado, ainda que não seja verdadeiramente extraordinário, é um álbum extremamente cativante.
Rodrigo Leão trabalhou no desenvolvimento das canções durante uns dois anos e “O Método” foi então gravado em Julho de 2019, nos Atlântico Blue Studios, em Paço d’Arcos. Nesse mesmo mês, o álbum seguiu para mistura no estúdio Vox-Tron, em Berlim. Em Novembro, na mesma cidade, mas no CALYX Mastering, foi finalizado.
Além dos colaboradores regulares, João Eleutério e Pedro Oliveira, Rodrigo Leão trabalhou também em conjunto com Federico Albaneses, compositor e produtor italiano. Será daí que adveio uma maior exploração electrónica e os ambientes mais aproximados a compositores como Nils Frahm ou Ólafur Arnalds.
Há mudanças, sobretudo se pensarmos nos últimos discos. “A Vida Secreta das Máquinas”, um trabalho muito espontâneo; “O Retiro”, com a Orquestra da Gulbenkian, um disco mais clássico; “Life Is a Song”, com o Scott Matthew, que era um disco mais pop. Depois veio o “Cérebro” (para a exposição “Cérebro – Mais Vasto Que o Céu”, que esteve na Gulbenkian em 2019), mais electrónico e as primeiras pedras nesta ponte.
Portanto, esta novidade não destoa daquilo que instintivamente se começou a esperar de Leão mas, de certa forma, o disco acaba por parecer demasiado exploratório, ainda que sóbrio, e pouco conclusivo. Por isso, “O Método” é pouco vinculativo. É agradável de ouvir, mas possui poucos momentos passíveis de ficarem gravados na memória. Talvez com excepção para a cândida “A Bailarina”.
O músico e compositor conta a origem desta música: «Este foi um dos primeiros temas que compus a pensar já neste novo CD. Foi composto por mim e pela minha mulher Ana Carolina, que me ajuda muitas vezes com as letras. Parte da voz de uma mãe a embalar a filha, e tem um lado infantil inspirado em alguns desenhos que fiz nessa altura… aliás, alguns desses desenhos foram animados para o vídeo. A Bailarina representa um pouco a mudança que existe neste disco. A utilização da electrónica está muito presente, mas funciona na perfeição com o elemento humano das vozes, dá um sentimento de esperança, alegria. É cantado pela nossa filha mais nova, a Sofia, com a Ângela Silva, a Viviena Tupikova e o coro juvenil da AMAC. As palavras que estão a cantar são inventadas. Escrevemo-las de propósito numa língua que não existe, para sublinhar o lado sonhador, espiritual, da canção».
Com uma envolvência enleante, o maior impacto surge na parte final do álbum, na sequência mais densa de “Loutolim”, “Dresden”, “Lula Mistério” e “Parte 1”.