O explosivo álbum de estreia dos Rush, o único sem Neil Peart na bateria, quando os canadianos idolatravam Led Zeppelin.
No dia 01 de Março, o primeiro álbum dos Rush, o LP homónimo, celebrou 45 anos. O álbum de estreia dos canadianos conta com Geddy Lee, Alex Lifeson e o baterista… John Rutsey. Neil Peart surgiu apenas em Julho desse ano, quando a banda marcou uma digressão pelos Estados Unidos e a vida pessoal de Rutsey não foi conjugável com essa mesma digressão.
O álbum de estreia dos canadianos já foi alvo de três reedições e remasterizações. A primeira, em 1997, faz parte da colecção “The Rush Remasters”, que fez o mesmo a todos os discos da banda até ao álbum “Permanent Waves”, o sétimo. A segunda foi feita por Andy VanDette e faz parte da colecção “Sector”, box sets de coleccionador, que reeditou todos os álbuns da banda na editora Mercury. Em 2014, no 40º aniversário, as master sessions de “Rush” foram levadas para os Abbey Road, onde o engenheiro Sean McGee trabalhou na remasterização que irá ser prensada em vinil de 200g, através do processo Direct Metal Mastering – o sistema de maior qualidade disponível actualmente para vinil.
É imperioso recordar que Sean McGee é o responsável pelas últimas remasterizações na discografia dos Beatles. Como bónus, esta última reedição conta com uma reprodução do poster promocional, criado para as lojas da altura, que teve uma tiragem de apenas 500 exemplares, e fotos de Geddy Lee, Alex Lifeson e do baterista John Rutsey. De resto, a acompanhar esta edição está também uma árvore genealógica dos Rush. Nesse documento podemos verificar a história da formação da banda, desde as suas remotas origens em 1965, quando os canadianos eram putos de liceu.
E o álbum, em si? Se não fosse suficiente o facto de ser o único álbum dos Rush sem Neil, o semi-deus da bateria, “Rush” é também esteticamente um trabalho à parte na discografia dos canadianos. É certo que os seguintes “Fly By Night” e “Caress Of Steel” ainda apresentam alguns traços de hard rock Zeppeliano, mas caminhavam já para o fascínio da banda com o mundo prog rock e o som do tremendo clássico “2112”. Neste tudo é repentismo, agressividade e… blues. Sem pretender afirmar uma heresia, o trabalho de John Rutsey é extraordinário e deixa-nos a consideração de como teria sido a carreira dos Rush com este baterista. Capaz de velocidade e força em temas como “Finding My Way” e subtileza e suavidade em momentos como “Here Again”.
Geddy Lee e Alex Lifeson são perfeitamente reconhecíveis neste disco, mas nas prestações de ambos há algo de “primordial” ou indomado. Lee gravou aqui, naturalmente, a sua voz mais jovem de sempre, com uma naturalidade naquele registo agudo que roça o sobrenatural, capaz de momentos em que surge uma agressividade quase sleazy. Lifeson, por seu lado, também tem um trabalho de guitarra mais espontâneo e menos constrangido pelas formas precisas que o som dos Rush haveria de adquirir. Há momentos irrepetíveis, em que o guitarrista gravou os solos em takes de improvisação (“Here Again” ou “Working Man”), nos quais algumas notas não são tudo o que poderiam ser, mas em que está sempre presente a excitação de ver um músico a lançar-se ao precipício, sem trapézios.
A verdade é que este álbum é uma “porrada” de balanço. Riffs como “Finding My Way”, “What You’re Doing” ou “Before And After” viajam entre Zeppelin, Sabbath, T-Rex ou Edgar Winter. Malhões! Malhões feitos por putos que idolatravam bandões, antes de esses mesmos putos virem a ganhar o seu lugar no panteão do rock n’ roll. Possivelmente, os fãs hardcore de Rush não serão os maiores admiradores deste álbum, mas se em vez de prog gostam do vosso rock com mais cojones, este é o disco dos Rush que precisam de ter na vossa colecção.
“Working Man”, independentemente de preferências, é uma das melhores malhas na discografia dos Rush. São 7 minutos de groove, num tema em que realmente converge tudo o que fez dos canadianos uma banda de destaque, mas com o sentido cru e pesadão deste primeiro álbum.