Segunda noite do Delta Tejo
Por Tânia Ferreira / Fotos Pedro Mendonça
Foi um dia muito mais produtivo que o primeiro, é importante dizê-lo. O recinto, muito mais composto, brindou as estrelas femininas que dominaram o cartaz. Comecemos pelo palco Jogos Santa Casa, que recebeu uma actuação muito competente de Lúcia Moniz. Com tenda repleta, entrou em palco decidida a agarrar a plateia com uma confiança própria de quem já tem uma rodagem na bagagem e a mostrar que estar em cima de um palco com à vontade é uma condição inata. Lúcia Moniz alternou o piano com a guitarra e a voz e cumpriu nos vários instrumentos. Uma banda coesa deu-lhe o suporte para percorrer com segurança as várias músicas da actuação. Merecia ter estado no palco principal.
E ainda o viria a fazer numa participação com a Nelly Furtado – mas já lá vamos.
No Palco Delta, a noite fez esquecer alguns mais desempenhos da noite anterior. Não apanhámos ASA (as nossas desculpas, mas estacionar não foi tarefa fácil), mas chegámos com os Clã a subir ao palco. Mostraram a fórmula para andarem há anos a dar boa música. Músicos exímios, uma vocalista que merece respeito e música sempre a soar bem, com uma boa quota parte de responsabilidade pela equipa técnica – já vi Clã várias vezes, e mesmo em condições menores, a banda soa bem. Passagem pelos (já) clássicos e temas novos, com a certeza de que é nas músicas com arranjos mais energéticos que a banda domina.
A fasquia estava alta para Aurea. Não é tarefa fácil subir ao palco de um festival com tão poucos concertos em carteira. Será menos ainda fazê-lo depois de Clã e antes de Nelly. A nova menina revelação esteve à altura. Uma boa voz, sem dúvida. E muita vontade de agradar. Estão reunidos os ingredientes para o crescimento e consolidação de uma artista acontecerem, mas atrevemo-nos a dizer que é preciso um crescimento sustentado, para não assistirmos mais uma vez a um desaparecimento tão meteórico quanto o aparecimento. Aurea cumpriu e bem. Cantou e bem. A banda deu-lhe uma base com um profissionalismo exemplar – os metais deram-lhe um brilho acrescido. Mas faltou maturação. Um exemplo crasso: mostrar o poderio vocal percorrendo a escala uma e outra vez, uma e outra vez, uma e outra vez… são vezes a mais. A necessidade de não mostrar/provar tudo de uma vez, vem com a experiência. E só nisto é que o concerto pecou. E tudo é mais transparente num palco grande entre dois nomes consolidados.
E finalmente, a razão pela qual a maioria das pessoas se deslocaram ao Alto da Ajuda, em Monsanto. Nelly Furtado. De se tirar o chapéu, a luso-descendente deu um grande espectáculo, acompanhada de músicos exemplares – uma palavra de destaque para o baixista, que de forma alguma se destaca pelo protagonismo, mas antes pela capacidade de junção.
Nelly percorreu os muitos sucessos da carreira e agarrou o público, que não desarredou pé até ao fim. Há uma grande diferença entre as músicas mais recentes e as do início de carreira, ainda assim os arranjos ao vivo e a performance de todos os artistas em palco permite contornar gostos. De sobressair a voz, que ao vivo bate aos pontos as gravações. A mesma afinação, mas com muito mais vida. Entre os sucessos, parte da letra de “Não voltarei a ser fiel”, dos Santos e Pecadores, é cantada inserido no tema “I`m Like a Bird”. E dois momentos assinaláveis: Lúcia Moniz sobe ao palco para cantar “All Good Things (come to an end)”. Boa colaboração e boa energia. Mas o momento seguinte foi rei. Sara Tavares apareceu e ofuscou tudo numa só canção. Cantou “Try”, harmonizou com a Nelly e não será injusto dizer que lhe roubou o palco. Mas de forma alguma a Nelly ficou ofuscada, ainda bebeu mais desta energia e continuou a dar um grande concerto. Neste segundo dia, as mulheres não dominaram apenas a noite, mas o festival no seu todo.
Veremos o que nos espera o dia de hoje. Expensive Soul, Maria Gadú,Parangóle e Ney Matogrosso são os nomes do palco principal. Até já!